A Covid-19 tornou-se o centro do debate em todas as áreas. Visões políticas antes irreconciliáveis colocaram-se na mesma trincheira para responder à inevitabilidade de colapso nos sistemas de saúde. Advogados radicais do Estado Mínimo, mandaram às favas a austeridade fiscal. Parafraseando Richard Nixon que, em 1971, declarou “agora somos todos keynesianos”, ícones do chamado mercado, como Armínio Fraga, clamam por mais investimentos sociais. Pouca gente há de negar que graças ao SUS os efeitos locais da pandemia têm sido bem menos catastróficos do que o esperado.
Vivemos um estado de emergência, inclusive no AVAC-R. Não à toa o Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores (DNPC) da Abrava formulou a Recomendação Normativa no. 9 (Renabrava 9) com validade exclusiva para o período pandêmico. Organizações internacionais do setor posicionam-se no mesmo sentido. A renovação do ar está em todas as recomendações.
“A NBR 16401 prevê taxas de renovação de ar para compensar o metabolismo das pessoas e, também, para compensar a geração de contaminantes do próprio ambiente, taxas essas quantificadas em L/s.p e L/s.m², respectivamente. São indicadas três alternativas de quantificação para escolha pela avaliação da intensidade de ocupação e da expectativa de geração de contaminantes dos ambientes”, localiza Francisco Dantas, diretor da Interplan Planejamento Térmico Integrado, de Recife.
Existem várias alternativas para proceder à renovação do ar interno com reduzido consumo de energia. “A conciliação dos dispêndios energéticos que decorrem do tratamento psicrométrico do ar exterior deve ser obtida com o emprego de processos de conservação de energia, notadamente recuperadores de energia de ventilação (ERVs), ciclo economizador e resfriamento evaporativo, ao invés de tentativas de redução das vazões de renovação, em prejuízo da qualidade do ar interior”, continua Dantas.
Ou, como explica Robert van Hoorn, diretor da Multivac: “A taxa de renovação de ar ideal mencionada nas normas tem oscilado bastante ao longo dos anos. Em épocas de escassez de energia a tendência era diminuir a renovação de ar. Quando por algum motivo, como casos de edifícios doentes, vírus ou outros relacionados à saúde, as taxas de renovação são aumentadas aceita-se um gasto de energia maior. Fazendo uso de boas práticas de engenharia, com um custo inicial um pouco maior é possível buscar soluções que permitam boas taxas de renovação de ar com um consumo de energia que atenda as expectativas. Alguns exemplos são unidades de tratamento de ar externo dedicadas e o uso de trocadores de calor.”
Dantas defende que a forma de economizar energia, mantendo a qualidade dos ambientes, mesmo em sistemas de expansão direta, é o “pré-tratamento em unidades de recuperação de energia (ERVs), o que leva o ar de renovação à condições psicrométricas e entálpicas compatíveis com as admitidas para os equipamentos de recirculação de ar (TBS 25ºC, TBU 20°C, h = 57,55 kJ/kg) de expansão direta. Após isso, pode ser tratado em DOAS, insuflando diretamente nos ambientes, ou como mistura, no retorno das unidades de recirculação de ar.
Nessa recomendação, o próprio equipamento recebe o ar com tratamento prévio em unidades de recuperação de energia (ERVs), sendo desumidificado até a temperatura de orvalho abaixo da admitida para o ambiente interno, evitando o lançamento de ar úmido no ambiente a ser climatizado.
Hoorn cita uma pesquisa de cientistas japoneses que mostra como os vírus são disseminados nos ambientes e a importância da renovação do ar. “Seguindo as conclusões da pesquisa, é importante criar uma corrente de ar que garanta a entrada de ar novo e a saída de ar do ambiente. Em situações normais, as normas brasileiras pedem a captação e tratamento (filtração) do ar externo para insuflá-lo no ambiente, assim, parte do ar sai do ambiente condicionado por frestas ou portas e janelas.”
“A grande maioria dos equipamentos de expansão direta disponíveis no mercado não permitem a renovação do ar, tornando necessário o uso de caixas de ventilação. A Multivac desenvolveu para este fim os ventiladores CFM, caixa de filtragem Multivac com 2 slots de filtragem e baixo nível de ruído com vazão de até 1.000 m3/h e, para ambientes maiores, o CVM, caixa de ventilação, também com 2 slots para colocação de filtros e vazão de até 6.000 m3/h”, informa o diretor da Multivac.
Recomendações especiais para o período de pandemia
Francisco Dantas cita as publicações “Orientações para operações prediais durante a pandemia da COVID-19”, da ASHRAE, e “Como operar e usar os sistemas técnicos dos edifícios para prevenir a propagação do vírus SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, em locais de trabalho”, da REHVA. Em síntese, elas recomendam:
– Aumente a vazão de ar exterior, propiciando maior taxa de diluição por pessoa;
– Desative o controle da ventilação por demanda (DCV), mantendo 100% aberto o damper de ar exterior e totalmente fechado o damper de ar de recirculação;
– Melhore a filtração do ar adotando filtro F7, ou o melhor compatível com o rack existente, selando as bordas dos filtros, para limitar desvio;
– Mantenha os sistemas em operação por mais horas, se possível, 24 horas por dia, 7 dias por semana, para aprimorar as duas ações anteriores;
– Considere purificadores de ar portáteis com filtros HEPA;
– Considere a UVGI (Irradiação Germicida Ultravioleta);
– Mantenha inoperativos os recuperadores de calor rotativos, para evitar possível contaminação do ar de admissão por partículas provenientes da extração de ar depositadas nos trocadores de calor rotativos.
“Apesar da exiguidade de informações a respeito da Covid-19, e do vírus que a causa, SARS-CoV-2, a adoção das medidas que constam das recomendações da ASHRAE e da REHVA, indicadas para edifícios não médicos, são também válidas, mas não suficientes, para as edificações hospitalares, que deverão ser acrescidas das recomendações das normas técnicas específicas para unidades de tratamento da saúde, com o devido rigor de comissionamento da operação. A filtração de ar, os gradientes de pressão a depender do grau de assepsia de cada ambiente, a exaustão e filtração prévia classe HEPA do ar de expurgo e o monitoramento da pressão negativa dos ambientes para portadores de doenças transmissíveis pelo ar (isolamentos). Ainda, o monitoramento da pressão positiva nos ambientes protetores (pacientes imunodeprimidos). Para todos eles, condições psicrométricas do ar e taxas de vazões adequadas à contribuição no tratamento da saúde dos ocupantes”, completa Dantas.
“Outros cuidados devem ser tomados com a filtragem, não só do ar de renovação, mas também com o ar exaurido, pois, no caso da Covid-19 este ar passa a ser altamente contaminante. Frente à situação pandêmica a troca de ar é importante para a QAI no sentido mais amplo, inclusive no espalhamento do vírus transmitido por gotículas no ar”, lembra Hoorn.
Danilo Santos, da Munters, chama a atenção para o controle de umidade para a diminuição da contaminação pelo vírus. “São estudos interessantes que mostram maior risco de contaminação em áreas com umidades inferiores a 40% e superiores a 60%; como não é da nossa cultura o controle da umidade em instalações de conforto, creio que a grande maioria das áreas de grande concentração de pessoas não adotam este tipo de controle e, consequentemente, operam em umidades fora desta faixa. Fica aí uma boa reflexão para nossa comunidade AVAC.”
“Além do controle de umidade acima mencionado, também deve ser observado o diferencial de pressão entre as áreas (cascata de pressão), principalmente para as áreas que foram adaptadas da função original para o atendimento da Covid-19. É muito importante que as instituições de saúde procurem a assistência de mantenedores, instaladores e projetistas para esta análise. Nosso mercado possui profissionais preparados e empresas qualificadas para desenvolver este trabalho”, destaca Santos.
Tecnologias ativas
Manoel Gameiro, diretor comercial da Ecoquest, sintetiza as medidas que tem visto serem aplicadas: Aumento da taxa de ar externo, uso de filtros de melhor qualidade, uso de lâmpadas UV-C germicida na face das serpentinas para barrar a criação de fungos e bactérias, controle da umidade relativa entre 35% e 70 %, PMOC em dia e uso de tecnologias ativas. “Entende-se por tecnologias ativas aquelas que agem no meio ambiente e em superfícies de maneira constante. Filtros são considerados tecnologias passivas, que estaticamente recebem os contaminantes de maneira passiva”, esclarece Gameiro. Abaixo, algumas das tecnologias por ele destacadas:
Ionização Radiante Catalítica IRC
“Tecnologias ativas como a foto-catálise, através do insuflamento constante de peróxido de hidrogênio ionizado pelo sistema de ar-condicionado, se bem dimensionado, pode ser uma excelente arma para aumentar a segurança do sistema de ar-condicionado contra o coronavírus. Dessa forma estaremos atuando onde ocorre o maior risco de contaminação, onde estão as pessoas e a fonte geradora do problema, uma vez que o Sars-CoV-2 é um vírus envelopado de RNA, podendo sobreviver até 3 horas no ar e várias horas em diferentes superfícies; as tecnologias ativas podem descontaminar os ambientes e as superfícies”, defende Gameiro.
Lâmpadas UV Germicidas
São outra excelente solução para inativação de fungos, vírus e bactérias nas superfícies das serpentinas do sistema de ar-condicionado.
Solução para a redução de partículas em suspensão (poeira)em obras
“Sabemos que hospitais estão em constante reforma e reparos e que as partículas em suspensão são um grande meio para a movimentação de vírus e consequentemente de contaminação cruzada. A utilização de equipamentos ionizadores de partículas é uma solução muito importante para redução desse gravíssimo problema. As unidades MI 1500 ionizam partículas negativamente, que serão pulverizadas no ar e, se unindo com as partículas em suspensão ionizadas positivamente, fazem com que a partícula fique pesada e caia”, diz Gameiro.
Geradores e ozônio
“Podem ser utilizados em locais desocupados que tiveram presença de pessoas contaminadas. Ozônio é gás extremamente eficaz para inativação de vírus, fungos e bactérias e, se aplicado de forma adequada (intensidade e tempo), é muito seguro e foi largamente utilizado na China para inativação do vírus em superfícies e em locais contaminados”, completa o diretor comercial da Ecoquest.
Equipamentos hospitalares
“O ideal em ambientes de UTI e isolamento é ter uma renovação de ar com vazão mínima correspondente a duas renovações por hora, e vazão insuflante de ar com 12 movimentos por hora, quando o sistema atender mais de um ambiente a renovação deverá ser de 100% de ar externo. A tomada de ar de exaustão deverá estar o mais próximo possível do ambiente, junto à cabeceira da cama, atrás ou a 20 cm do piso”, diz Patrice Tosi, diretora das Indústrias Tosi.
Caixa de ventilação e exaustãoSegundo ela, a Tosi oferece alguns produtos que são específicos para o ambiente hospitalar, dentre eles as caixas de ventilação para forro e de exaustão portátil hospitalares, “desenvolvidas para facilitar a conversão de quartos hospitalares convencionais para quartos de isolamento de pacientes contaminados por doenças transmitidas pelo ar com infecções por aerossóis”, enfatiza.
“TEX é outro produto da nossa linha hospitalar com admissão de ar para operação com até 100% de ar externo e equipado com ventilador radial EC, controle de velocidade através de sinal externo, serpentina de alto rendimento para operação com água gelada ou refrigerante R410A. Possui grau de filtragem G4 + R8 + A3 em conformidade com a norma para estabelecimentos assistenciais de saúde. O gabinete é estanque em aço com pintura de alta aderência e durabilidade, rechapeamento interno e isolamento de 50mm livre da condensação na face externa, e portas de acesso com maçaneta de pressão. Para salas cirúrgicas, existe a linha CSL de difusores”, completa Patrice Tosi.
Da Redação
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