“Sob o ponto de vista de normatização, as características técnicas de equipamentos desta natureza permanecem as mesmas com relação a NBR 7256, entretanto, o movimento que observo é que o conhecimento dos usuários e dos órgãos de acreditação tem aumentado, e os requisitos técnicos para instalações desta natureza seguem na mesma direção de rigor, baseados na norma existente, em fase final de revisão. Deste modo, os equipamentos devem seguir a mesma linha técnica dos voltados à indústria de lifes ciences, ou seja, com características como alta robustez, estanqueidade, fácil manutenção e acesso para todos os componentes, bem como, permissividade de limpeza interna e demais cuidados pertinentes a evitar a proliferação de germes e bactérias”, informa Eduardo Rein, diretor da Reintech.
Quanto às exigências em relação à distribuição do ar, Rein diz que especial atenção deve ser dada às áreas de isolamento para doenças infectocontagiosas (disseminação da contaminação) e centros cirúrgicos, onde a turbulência natural deve ser evitada nos pontos de exposição.
A NBR 7256 continua em vigor e é base para equipamentos e instalações em EAD, e segundo o executivo de vendas da Trane, Rafael da Costa Dutra, o mercado está mais exigente quanto às filtragem e estanqueidade dos equipamentos e soluções pré-serpentina, como lâmpadas UV; e pós-serpentina, como peroxido de hidrogênio e similares. Neste contexto, Dutra lista algumas características centrais dos equipamentos especificados em instalações hospitalares, como define a norma ABNT NBR 7256:
– Filtragem do ar, sua eficiência e monitoramento;
– Condicionador de ar com gabinetes de paredes internas lisas, de fácil limpeza e desinfeção, sendo com nível de risco 2 e 3 os painéis de fechamento tipo sandwich, com o isolamento térmico hermeticamente encerrado entre as duas paredes metálicas. As bandejas de recolhimento dos condensados devem ser de aço inoxidável e instaladas com caimento e drenagem adequada, a jusante da serpentina, evitando o uso de serpentinas de mais de 6 filas com 10 aletas por 25 mm;
– O uso de recuperadores de calor somente quando a transmissão de partículas materiais ou de gases entre o fluxo de ar de exaustão e o ar novo é impossível;
– O uso de umidificadores deve ser restrito. Quando do uso, não deve ser permitido o arraste de gotículas de água ou a condensação de umidade em partes do sistema a jusante do umidificador.
Cristiano Brasil, engenheiro de aplicação da Midea Carrier, divide as soluções em duas importantes áreas: a primeira se refere à geração de água gelada ou água quente que interfere diretamente nas condições de temperatura e umidade do ambiente. “A geração de água quente é, quase sempre, fornecida por aquecedores elétricos ou a gás. São poucas as instalações que utilizam resfriadores de líquido (chillers) para a geração de água quente, apesar de possuirmos produtos aptos para este fim. Já na geração de água gelada, utiliza-se sistemas com chillers de condensação a ar ou condensação a água, variando de acordo com as condições de cada instalação. O mais importante em relação aos chillers é o cliente adquirir equipamentos com robustez, com menor tempo de paradas, para que estejam disponíveis 100% do tempo. Na questão relacionada ao tratamento do ar, é preciso atender aos requisitos de normas técnicas de acordo com os ambientes e áreas hospitalares. Os projetistas determinam o tipo de equipamentos, classificação de filtragem, renovação de ar etc. para manter os ambientes dentro dos limites de umidade, temperatura e quantidade máxima de particulados em suspensão no ar. Para o atendimento destes requisitos possuímos equipamentos específicos, além de uma equipe de engenharia de fábrica com experiência em fornecer soluções especiais de acordo com as necessidades distintas para cada ambiente, seguindo as normas técnicas vigentes. Por exemplo, podem ser utilizados equipamentos similares para áreas de internação e centro cirúrgico, porém, com níveis de filtragens específicas. O bom senso, aliado as boas práticas de engenharia e a interpretação correta das normas técnicas irão naturalmente conduzir as práticas de projeto e aplicação de produtos de forma que haja esta conciliação. O mercado irá se adaptar gradualmente. O processo passará pela absorção das empresas de projeto com os novos conceitos/requisitos, adaptação dos fornecedores e, principalmente, envolvimento direto dos clientes finais na exigência da aplicação da solução mais adequada”, enfatiza Brasil.
Tratamento e filtragem do ar em estabelecimentos assistenciais de saúde
Segundo Rogério Chamba, engenheiro de aplicação da Indústrias Tosi, há anos cresce a demanda por unidades de tratamento de ar destinadas a estabelecimentos assistenciais de saúde e que atendam as Normas ABNT NBR 7256 complementada pela ANVISA. “As unidades operam com volume de ar externo de renovação, serpentinas de resfriamento com cargas sensível e latente, conforme cada projeto de forma específica; ventiladores para vencer as mais diversas perdas de carga do ar com altas e baixas vazões, e filtros absolutos de ar e de partículas de alta eficiência HEPA para atender as exigências quanto ao grau de filtragem dos ambientes a serem ocupados. As principais características centrais das unidades de tratamento de ar destinadas às instalações hospitalares são as construtivas, como gabinete estanque com tomada de ar externo e montado com painéis de parede dupla metálica tipo sandwich com isolamento térmico encerrado entre as duas paredes, e portas de fácil acesso interno para limpeza. Serpentinas de resfriamento e aquecimento, ventiladores tipo limit load ou plenum fan, atenuador de ruído e filtros de ar classificados como grosso, fino e absoluto, ainda fazem parte do escopo; e a distribuição do ar com controle de temperatura, umidade, movimentação, pureza e renovação, para o conforto dos ocupantes, além do controle de odores, renovação do ar contaminado, proteção dos doentes e pessoas suscetíveis a microrganismos, reduzindo o risco de transmissão. Vale lembrar que a filtragem de ar é responsável por garantir que o ar insuflado no recinto ocupado seja livre de contaminantes, por exemplo, no ar atmosférico empregado para fins de renovação, quaisquer elementos em concentração acima dos limites pré-estabelecidos podem ser considerados contaminantes, sejam partículas em estado sólido, líquidos ou gases. Portanto, para cada aplicação um adequado nível de filtro deve ser empregado. Nas instalações hospitalares, seja para ambientes de ocupação individual ou coletiva, a classe de filtragem mínima para insuflação do ar nas áreas pode variar conforme a classificação de riscos ambientais à saúde por exposição ao ar ambiente; ou seja, uma sala de indução anestésica com nível de risco 1 deve receber o ar filtrado com filtragem classe G4, enquanto que uma sala de cirurgia especializada em cardiologia com nível de risco 3, deve receber o ar filtrado com filtragem G3+F7+A3, conforme descrito na NBR 7256.”
Milton Santos, do departamento de engenharia da Aeroglass, lista as exigências mínimas em relação à filtragem do ar de acordo com cada tipo de ambiente:
1 – Ambiente protetor: renovação de ar deve atender aos requisitos da NBR 16401, sendo no mínimo, classe G4; insuflação deve ser, no mínimo, em 3 estágios, sendo o primeiro G4, o segundo F8, e o terceiro, ISO 30 E.
2 – Ambiente de isolamento de infecções: ar externo com, no mínimo, filtro G4; insuflação com primeiro estágio G4 e segundo estágio F8.
3 – Ambientes neutros: ar externo com, no mínimo, filtro G4; insuflação estágio filtro M5.
“As exigências para filtragem do ar de insuflação estão vinculadas ao tipo específico de unidade, conforme a tabela 1, 2 e 3 da NBR-7256 atualmente em consulta pública. A eficiência global dos filtros de ar em instalações hospitalares compreendem filtros grossos, médios e finos com aferição de eficiência conforme a norma ABNT ISO 16101 e os filtros absolutos, conforme a norma ABNT ISO 29463-1”, informa Santos.
“Notamos que a cada ano aumenta o rigor na verificação da eficiência dos filtros de ar, após a instalação da máquina, notadamente quando é fabricada com filtros absolutos internos. Os projetos que temos recebido para cotação de equipamentos em instalações hospitalares já estão atualizados quanto às exigências das características. Porém, independentemente do projeto, nossa empresa já mantem um padrão de construção para este tipo de máquina, mesmo que o memorial descritivo da obra não faça menção ao item como a bandeja da serpentina de resfriamento em inox para todas as máquinas; perfis de alumínio da estrutura com superfície lisa internamente sem reentrâncias, para facilitar a limpeza; captação central de água condensada para evitar acúmulo de água parada nos cantos; posicionamento dos filtros de ar de alta eficiência (85% à 99,99%) após o ventilador (no sentido do fluxo de ar); damper de controle de vazão de ar do tipo estanque, com engrenagens e construído em alumínio; dentre outros itens. Algumas obras hospitalares exigem 100% de renovação de ar, ou seja, a Unidade de Tratamento de Ar (UTA) terá de resfriar o ar externo (geralmente está acima de 30°C) até 12°C. Esta operação é relativamente fácil de atender quando se trata de serpentina tipo água gelada (fancoil), porém, esta questão se complica quando o equipamento é uma unidade evaporadora, com serpentina de expansão direta. Neste caso é necessário a utilização de sistema de bypass de ar, sendo que uma parte do ar resfriado é direcionado novamente para a serpentina de resfriamento, porque numa única vez não é possível atender a diferenciais tão grandes de temperatura do ar (entrada x saída). Ainda no caso de unidade evaporadora, outro recurso é a utilização de 2 módulos em série com serpentinas de resfriamento, independentes, cada uma com sua unidade condensadora, formando 2 estágios de resfriamento. Este tipo de equipamento oferece alta eficiência energética, pois operam com baixas vazões de ar, e atendem a altas cargas térmicas. Vale lembrar a necessidade de mais treinamento de funcionários na linha de montagem, inspetores etc. e atualização dos manuais de construção das máquinas”, informa Ivan de Melo Szwarc, engenheiro de aplicação da AQ – Air Quality.
“Nos últimos anos, os equipamentos hospitalares têm demandado evolução, especialmente quanto ao consumo de energia, economia de espaço físico e eficiência de trabalho. Com o aumento do preço médio do metro quadrado construído em grandes centros urbanos, os equipamentos hospitalares precisam ser ao mesmo tempo pequenos, eficientes e com capacidade de entrega cada vez mais alta de qualidade do ar”, comenta Thiago Sega, da AAF – American Air Filter.
Ele diz que os equipamentos mais críticos precisam atender a qualidade do ar do ambiente hospitalar em termos de renovação e filtragem, mitigando contaminações cruzadas, infecções, propiciando um ambiente com melhores condições para recuperações pós-cirúrgicas, de transplantes e de enfermidades críticas.
“A indústria de filtros está se adaptando à nova norma hospitalar para oferecer produtos com maior eficiência, menor consumo energético e maior durabilidade, contemplando os desafios recorrentes do setor hospitalar. Os níveis de filtragem do ar são definidos de acordo com a qualidade requerida para cada ambiente projetado na construção do hospital. São exigidos filtros de maior eficiência quanto mais críticas são as necessidades do ambiente, variando normalmente entre filtros G4 (NBR16101) para ambientes de conforto até H14 (EN1822) em ambientes cirúrgicos, pós-cirúrgicos e de transplantados. Os fabricantes devem fornecer o certificado de ensaio para filtros de alta eficiência (HEPA) em relação à eficiência e estanqueidade, o que garante a eficácia global dos filtros até a chegada às instalações do hospital. Além disso, pode-se realizar ensaio de eficiência e estanqueidade in loco com contadores de partícula e óleo de PAO. Com o desenvolvimento de novas tecnologias filtrantes, melhoria no desempenho aerodinâmico dos filtros e aumento da área filtrante dos elementos, é possível atender exigências cada vez maiores em relação a filtragem, renovação de ar, eficiência energética e vazão dos equipamentos”.
Dois pontos importantes na especificação das UTAs são apontados por Ricardo Facuri, diretor executivo da Systemair Traydus: boas práticas de engenharia hospitalar e o cumprimento das exigências requeridas na NBR 7256.
“A norma, que teve sua última revisão em 2005, determina os requisitos relacionados ao ambiente condicionado, tais como filtragem, recirculações, renovação de ar, temperaturas, umidade etc. Além disso, algumas características construtivas são determinadas, como bandejas de condensado em aço inoxidável, painéis sanduíche, alta estanqueidade do gabinete, número máximo e filas para serpentinas de resfriamento e desumidificação, espaçamento mínimo entre aletas das serpentinas etc. Com relação aos filtros de ar, sempre o último estágio deve estar a jusante de todos os demais componentes da unidade de tratamento de ar, como serpentinas, resistências de aquecimento, ventilador, motor etc. O mais importante ao definir um equipamento hospitalar é verificar o tipo de ambiente que ele irá condicionar, definindo o grau de filtragem, a necessidade ou não de controle de umidade e quais as demandas térmicas do equipamento. Esses equipamentos devem ter gabinetes de altíssima estanqueidade, filtragem fina (terminal no equipamento), ventiladores com pressões adequadas e variação de velocidade para controle de vazão constante, além da facilidade de manutenção e higienização. As filtragens estão bem definidas na norma NBR 7256, no entanto, uma revisão está em pauta e, após, deverá ter critérios mais rígidos. Por exemplo, muitos ambientes hoje são atendidos com filtragem G4. Não faz sentido, uma vez que a própria norma de conforto – NBR16701, trata como filtragem mínima para ambientes públicos a classe M5. Hoje a norma estabelece a filtragem G4 para ambientes como sala de inalação, de emergência, isolamento, quartos, UTI neonatal, laboratórios, salas de exames, enfermaria, salas de manipulação e salas de apoio; filtragem fina para sala de procedimentos invasivos, UTI, laboratórios de segurança biológica, hemodinâmica, sala de cirurgias simples e salas de parto. Já a filtragem absoluta é exigida em salas de cirurgias especializadas, quartos de TMO, banco de tecidos, ambientes para atendimento de queimados e sala de manipulação de parental. A tendência é que, no mínimo, a filtragem fina seja exigida em futuras revisões da norma, como acontece na Europa e Estados Unidos”.
Quanto a eficiência energética, Facuri considera que “o AVAC é responsável por 40% do consumo elétrico de um hospital. Como profissionais atuantes neste mercado, temos a obrigação e oportunidade de explorar tecnologias que minimizem o consumo dos sistemas, sem abrir mão da qualidade e do cumprimento das normas em vigor. Existem inúmeras formas de recuperar energia, como UTA com rodas entálpicas e trocadores de placas, embora as rodas entálpicas não sejam indicadas por questão de contaminação cruzada. Os trocadores a placas ar/ar são altamente recomendados, mesmo não tendo uma recuperação de calor latente. Com relação a energia gasta em movimentação do ar, as soluções estão no mercado há muito tempo e ainda pouco utilizadas. Uma delas é eliminação de polias e correias na ventilação e UTA, responsáveis por até 25% de perdas ao sistema. Recomenda-se aplicar o acoplamento direto entre ventiladores e motores de altíssimo rendimento, como é o caso dos ventiladores plug fan com rotores limit load, acoplados a motores eletronicamente comutáveis (EC) que atendem o nível IR4 de eficiência energética. Também é fundamental o controle da vazão de ar pela variação de velocidade dos ventiladores, e não por estrangulamento da passagem do ar, através de reguladores de vazão na rede de dutos. Seja a variação por inversores de frequência, ou por motores eletrônicos, o ventilador deve consumir de acordo com a resistência do ar no sistema, que varia de acordo com a sujidade dos filtros. Acredito que a indústria de AVAC é bastante distinta com relação ao mercado hospitalar, um dos únicos que não cessaram investimentos mesmo durante a crise”.
Jorge Osvaldo Zato, gerente corporativo de engenharia e P&D da Trox, acrescenta que nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) o sistema de climatização cumpre uma função muito importante, não só pelo aspecto do conforto térmico, mas principalmente, por fazer parte das ações de biossegurança, uma das ferramentas para mitigar infecções hospitalares. “Todo o sistema de climatização de um EAS deve obedecer aos requisitos listados na ABNT NBR 7256:2005 – Tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto e execução das instalações, atualmente em revisão (CB-55). Esta revisão já passou por consulta pública e em breve deve ser editada. Também deve ser adotada a RDC 50 de 20 de março de 2002 ‘planejamento, programação, elaboração, avaliação e aprovação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde’ e suas revisões. E ainda, a série NBR 16401-1:2008, NBR 16401-2:2008 e NBR 16401-3:2008 – Instalações de ar-condicionado – Sistemas centrais e unitários, para as áreas não afetadas pela NBR 7256. O sistema de climatização de um hospital é composto de vários equipamentos, dentre eles, as unidades de tratamento de ar, compostas por trocadores de calor (serpentinas), ventiladores, umidificadores, atenuadores de ruído e filtros, este último para garantir a segurança microbiológica do EAS. A correta especificação contribui com a redução do consumo energético, considerando que um hospital normalmente opera 24 horas e todos os dias do ano”, conclui Zato. (APB)
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