O respeito ao PMOC em instalações de climatização, como reza a Lei 13.589/18, encontra respaldo em empresas de serviços de manutenção que têm procurado o caminho da atualização e da modernização. Mas tem contado, principalmente, com a pronta resposta da indústria no fornecimento de equipamentos e componentes para a garantia da qualidade do ar de interiores.
Henrique Cury, diretor da Ecoquest, entende que por se tratar da primeira medida legal tomada sobre qualidade do ar interior, a Lei “é um tremendo avanço. O Brasil é um país de vanguarda na América Latina por ser o primeiro a se posicionar sobre o tema. Temos muito o que caminhar, principalmente na execução e fiscalização do PMOC, mas é, sem dúvida nenhuma, um avanço.”
A contextualização que Cury ajuda a preservar o essencial. “No começo houve um certo desencontro de informações, os responsáveis das grandes empresas queriam cumprir a lei mas não sabiam exatamente como. Com o tempo viram que era simplesmente seguir o PMOC o que, teoricamente, já deveriam estar fazendo. Eu vejo hoje uma grande adesão das grandes empresas, mas ainda com muito a melhorar nas menores. Acredito que o endurecimento da fiscalização mude este cenário. A Abrava está fazendo um trabalho fantástico junto aos fiscais da Vigilância Sanitária em todo o Brasil. A fiscalização é, sem dúvida, o maior mecanismo de disseminação da necessidade de se executar o PMOC. Por outro lado, os cursos, eventos e a própria mídia vêm ajudando neste sentido.”
O diretor da Ecoquest diz, ainda, que a qualidade do ar de interiores é bem ampla. “Envolve todo o sistema de ar-condicionado, das serpentinas aos dutos, até o ambiente climatizado. A lei do PMOC levanta a questão sobre os benefícios de um ar de qualidade e os perigos de um ar não tratado. Ao oferecermos produtos que descontaminam a serpentina do ar-condicionado, como a luz UV, estamos diretamente atendendo ao PMOC na manutenção do sistema. Por outro lado, o uso de células fotocatalíticas nos dutos descontaminam os ambientes, ajudando indiretamente no cumprimento do PMOC. A lei trouxe maior discussão e consequentemente maior conscientização sobre qualidade do ar. Isso mexe om todo o mercado”, diz ele.
Equipamentos e componentes para a QAI
Particularmente a indústria mais ligada à renovação do ar, tem se esforçado no lançamento de produtos com essa finalidade. “A Multivac já vinha desenvolvendo equipamentos para a melhoria da qualidade do ar interior. A sanção da nova lei nos mostrou que estávamos no caminho certo. No momento estamos desenvolvendo novos ventiladores para ampliar as possíveis soluções para a QAI e de atender melhor os requisitos da lei do PMOC”, diz Rafael Vieira, da Multivac.
Vieira diz, ainda, que a empresa tem sido consultada, cada vez mais, pelos mais diversos tipos de clientes, sobre novas soluções para a aplicação do PMOC. “O que indica que a Lei está sendo levada a sério.”
“A Lei trouxe uma maior conscientização das pessoas e das empresas na melhoria da qualidade do ar”, corrobora Cury, que diz caber às empresas prestadoras de serviços e fornecedoras de soluções instruir o cliente final de oportunidades para execução do PMOC. “Por exemplo, a utilização da luz UV na serpentina, além de atender o plano, traz ganhos energéticos consideráveis e menores custos de limpeza. Este tipo de informação deve estar bem clara e ser passada pelas empresas que prestam o serviço ou vendem os produtos.”
Vieira lamenta o fato de muitos clientes ainda não compreenderem a diferença entre manutenção corretiva, preventiva e periódica. “Para eles, o PMOC não passa de mais um custo para o empreendedor. O que significa um desafio muito grande para os vendedores de serviços de PMOC no sentido de esclarecer e ofertar de forma coesa os serviços a serem prestados.”
“Infelizmente no Brasil, a força da lei é um dos grandes motivadores para garantir a qualidade do ar. Existem empresas vanguardistas que, conectadas com o que acontece nos países desenvolvidos e pensando na sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida de seus funcionários, buscam espontaneamente soluções para melhorar a qualidade do ar. Neste caso acho que estamos fazendo um trabalho correto. As empresas que estão cumprindo o PMOC apenas como obrigação são mais difíceis de entender a importância do assunto e este processo de convencimento é ainda deficitário. Talvez seja necessário melhorar o discurso e apresentar resultados práticos dos benefícios da melhora da qualidade do ar”, completa Cury.
A Multivac, segundo seu representante, tem se esmerado no desenvolvimento de produtos para atender as necessidades da ventilação que requerem altos níveis de filtragem do, como na exaustão para a renovação. “Realizamos treinamentos periódicos sobre soluções e produtos a fim de disseminar o conhecimento técnico e sustentável”, diz ele.
Cresce a procura por filtros de ar
“Como fabricantes de filtros, sentimos um aumento significativo da procura e aquisição de filtros, principalmente de classes de filtragem G3/G4 e M5 (NBR 16101:2012) para aplicação em edifícios de uso público, o que para nós é excelente e mostra o quanto a Lei referente ao PMOC veio para ficar. Vimos isso através de persistentes palestras e trabalhos de conscientização por parte do setor de AVAC que se mobilizou e atuou fortemente junto aos instaladores, empresas de engenharia, certificadores, fabricantes de filtros e de equipamentos, empresas de facilities, administradoras de condomínios, sindicatos e demais”, diz Eduardo Zanizzelo, gerente comercial da Linter.
José Augusto S. Senatore, gerente de desenvolvimento e operações da American Air Filters Brasil, faz um balanço “bastante positivo, pois houve uma maior preocupação dos usuários acerca das boas práticas de manutenção dos sistemas de AVAC. Além disso, merece destaque o trabalho brilhante que as entidades como Abrava, Asbrav, Sindratar entre outras, vem fazendo na divulgação e treinamento de profissionais diretamente envolvidos na manutenção e fiscalização desta lei.”
Senatore ressalta que, num primeiro momento, o impacto da 13.589 foi moderado. “Entretanto, acreditamos que haverá uma mudança significativa e permanente nos próximos anos, uma vez que já estão disponíveis filtros para a maior parte dos equipamentos de AVAC, inclusive os unitários aplicados em ambientes comerciais. Também é importante ressaltar que as tecnologias de monitoramento da qualidade do ar interno estão evoluindo de maneira extremamente rápida, resultando na redução de seus custos de implantação.”
A AAF, segundo seu gerente, fornece filtros de ar e sistemas de purificação do ar ambiente interno através de várias tecnologias. “Além disso, oferece aos clientes o acesso a sua plataforma de sensores IoT que contempla a medição da qualidade do ar interno bem como da saturação dos filtros dos sistemas. Está entre seus investimentos de P&D uma plataforma digital que permitirá aos usuários controlar de maneira fácil e segura toda a cadeia de manutenção de seus sistemas de AVAC, atendendo plenamente aos requisitos dispostos na lei.”
Já a Linter, fabrica filtros de ar grossos e médios, com classe de filtragem G3/G4 e M5 (NBR 16101:2012). “Devido ao aumento de demanda, no ano de 2019 estamos ampliando nossa linha de produção de filtros grossos, adquirindo equipamentos, aumentando postos de trabalho, investindo em logística e melhoria do produto, a fim de tornarmos nossos preços mais competitivos, com menor prazo de entrega e maior qualidade do produto.
Como melhoria para o processo de troca dos filtros por parte da equipe de facilities e manutenção, estamos substituindo as flandres metálicas, também conhecidos como ‘tela metálica’, por flandres de papelão reforçado com polímero, a fim de evitar acidentes de trabalho, como cortes e perfurações por parte dos operadores, além de atender as normas para certificação LEED por parte dos prédios e condomínios”, informa Zanizzelo.
Para Senatore, a Lei 13.589 representa uma evolução na garantia da qualidade do ar de interiores, “principalmente em um parágrafo da lei que adjudica às normas atuais e futuras da ABNT a responsabilidade de manter os critérios de boas práticas para esses sistemas. A conscientização acerca da boa qualidade do ar interno é, sem dúvida, um processo que leva tempo. Transformar o invisível em visível (ar limpo) é o maior desafio daqueles que pregam a importância do uso de sistemas de AVAC bem mantidos e bem projetados. A boa notícia é que a tecnologia está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas e, através de aplicativos e sensores, por exemplo, já é possível conhecer a qualidade do ar externo e interno em diversos ambientes. Esta transformação já é uma realidade”, completa.
Prestação de serviços
É na prestação de serviços que a nova lei do PMOC mais rapidamente mostrou seu impacto. “Houve um considerável aumento na conscientização das principais empresas sobre a necessidade de uma manutenção eficiente com a aplicação do PMOC e recolhimento da ART”, afirma Carlos Alberto Durazzo, diretor de serviços da Star Center. Ele afiança, ainda, que houve “um considerável aumento na procura pelos serviços de empresas especializadas em AVAC e qualidade do ar”.
“Percebemos que o mercado tem se movimentado com maior curiosidade e atenção sobre o que é PMOC, o que o compõe e como implementá-lo. Visto também os últimos acontecimentos e tragédias, tais como a do Ninho do Urubu (Centro de treinamento do Flamengo), e o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde acredita-se que a ausência ou negligência com as instalações (da concepção à manutenção) iniciaram os problemas que resultaram no incêndio de ambos os casos. Percebemos que a mídia de massa, no geral, tem dado espaço para alertar tanto sobre a Lei quanto para a necessidade de efetivamente executar o PMOC nestes locais de uso público”, afirma Leonardo Moraes Ferreira, gerente de manutenção da Newset.
Diante da possibilidade de sanções, as empresas procuram aprimorar suas práticas visando garantir a qualidade dos ambientes internos. “Verifica-se por parte dos responsáveis, um aumento pela procura de mais informações e conhecimentos sobre a aplicação da lei e sobre a importância em se contratar com segurança, uma empresa que assegure a aplicação do PMOC e a melhoria da Qualidade do Ar Interior”, acredita Durazzo.
Ferreira enfatiza que o impacto da Lei nosso segmento prestação de serviços, de foi totalmente positivo, pois, “além de criar novos nichos de atuação, que anteriormente não se preocupavam em estabelecer um PMOC, proporcionou uma certa classificação das empresas aptas a realizar este tipo de trabalho, fazendo com que pudéssemos solidificar mais ainda os clientes que já tínhamos. Com isso, operacionalmente o grande impacto é na gestão da manutenção, onde há tempos a Newset já se preparava para este cenário, utilizando softwares de gestão online para controle da manutenção e fornecimento de dados históricos e estatísticos aos clientes. Com a lei, controlar demandas, dimensionar equipes corretamente, bem como gerenciar o histórico das execuções e problemas de todo o parque de sistemas se tornou fundamental e algo que só é possível de ser feito com qualidade e agilidade através de softwares de gestão específicos para manutenção.”
O diretor de serviços da Star Center pede uma maior conscientização das empresas prestadoras de serviços e das contratantes, acompanhado do aumento da fiscalização das Covisas em cada município. “As empresas líderes na prestação desses serviços, devem promover eventos, seminários e encontros para conscientizar os contratantes e conscientizar também empresas menores, para que não assumam serviços onde o cliente não tenha essa consciência sobre a Lei e sobre o PMOC. Essa responsabilidade de todas as empresas promoverá maior credibilidade ao mercado”, finaliza Durazzo.
Veja também:
Gestores prediais defendem fiscalização enérgica
Lei 13.589 completa um ano em meio a dúvidas e expectativas