Assim como nos equipamentos, chillers, bombas, torres de resfriamento etc., a ação do tempo manifesta-se nos demais componentes, como válvulas, atuadores e sensores. Em se tratando de sistemas de água gelada, a perda de performance manifesta-se, também, devido à baixa qualidade da água. Para discorrer sobre esses fenômenos, consultamos três especialistas na área: Hernani Paiva, da IMI Hydronic Engineering, Leandro Medéa Antonioli, da Belimo, e Rafael Moura, da Mercato Automação.
A corrosão é a principal inimiga das tubulações
Em tudo há uma perda de rendimento ao longo do tempo. Até o corpo humano sofre esse tipo de deterioração. Com as instalações de ar-condicionado central não é diferente. Tudo que está em movimento apresenta atrito com alguma coisa. Isso não se reserva somente aos equipamentos mecânicos, mas também aos fluidos e ao corpo humano. Neste último, a gravidade é um dos principais causadores.
Voltando para os equipamentos e sistemas, há no âmbito financeiro um item de suma importância que é a depreciação, ou seja, no balanço das empresas deve ser considerada anualmente a substituição integral dos produtos decorrentes de sua utilização. O que chamamos de substituição preditiva de um equipamento.
Nas válvulas e controles do sistema hidrônico a deterioração ocorre através do desgaste do êmbolo das válvulas, das borrachas de vedação e dos constantes movimentos dos atuadores, isso quando falamos somente das válvulas de controles envolvidos. Mas o pior é a corrosão nas tubulações causada pela presença de ar na linha. A corrosão ataca a tubulação liberando ferrugem, que são particulados metálicos que se chocam com as válvulas, bombas e trocadores de calor, ocasionando a danificação ao longo do tempo. Muitas vezes são adicionados produtos químicos para diminuir essa oxidação, mas isso cria outros problemas que exigem o aumento na periocidade de manutenção preventiva a fim de evitar a queda da performance dos trocadores de calor nos resfriadores e climatizadores.
Inverter a deterioração é o grande obstáculo, mas consegue-se mitigar a perda de rendimento do sistema e do produto na sua fase prematura de funcionamento e com isso garantir a performance satisfatória diante da utilização versus o tempo. Para isso, algumas ações são prioritárias:
- Contratar um projeto que atenda às necessidades do cliente, não somente com a visão do investimento imediato, mas, também, na operação ao longo da vida útil.
- Instalador capaz de executar a instalação com esmero técnico segundo as normas vigentes.
- Comissionamento capaz de seguir todos os passos necessários, desde a concepção do projeto até a equipe ou empresa que vai comandar a operação do sistema ao longo dos anos. Vale ressaltar aqui que 50% do consumo de energia mundial vem dos edifícios e que 40% desses 50% vêm do ar-condicionado. Isso acontece também microscopicamente em cada edifício climatizado.
- A diminuição da presença do ar em instalações onde a troca de calor é feita indiretamente através de fluido como a água, não utilizar sistemas de pressurização através de caixas de água.
- Utilização de produtos mundiais que comprovadamente apresentem resultados, devidamente publicados em catálogos técnicos, sem informações falsas ou parciais, apresentando tempo de deterioração e depreciação.
- Performance dos equipamentos escolhidos para o funcionamento do sistema.
- Plano de manutenção e operação antes da partida do sistema com equipe treinada para esses fins.
Sistemas variáveis pedem válvulas de controle independente de pressão
É natural que com o passar do tempo e utilização dos equipamentos, exista uma perda de eficiência do sistema como um todo. É de grande importância realizar o monitoramento e gerenciamento do sistema e manutenções dos equipamentos dentro do cronograma especificado pelo fabricante, pois assim será possível monitorar o desgaste dos equipamentos e agir em situações de maior necessidade.
Nos últimos anos as válvulas de balanceamento e controle têm atingido um elevado nível de MTTF (Mean Time To Failure) e MTBF (Mean Time Between Failures) contribuindo para a confiabilidade do sistema. Um item muito importante para garantir o seu correto funcionamento e desempenho no sistema de HVAC, é o correto selecionamento e aplicação. Válvulas instaladas fora da sua especificação são passíveis de cavitação ou flashing, o que poderá causar muitos problemas na instalação e desgaste prematuro do conjunto. Um item de fundamental importância para o correto desempenho das válvulas é o controle da qualidade da água gelada ou de aquecimento do sistema. Quando o sistema trabalha com a água fora dos parâmetros ideais, é possível ocorrer sedimentação nas partes de vedação ou obstrução da passagem e a válvula terá o seu funcionamento comprometido.
Os atuadores que trabalham em conjunto com as válvulas deverão ter o seu torque dimensionado pelo fabricante da válvula. A utilização de atuadores fora da especificação do fabricante poderá danificar a válvula, queima do atuador ou afetar o close-off da válvula. Atuadores que trabalham em ambientes agressivos ou abertos deverão ser selecionados conforme a proteção IP / Nema indicada para a aplicação. Quando a válvula utilizar Linkage para conexão com o atuador, o kit deverá ser fornecido pelo fabricante do conjunto e evitar problemas durante a operação da válvula.
Nos últimos anos tivemos um crescimento na utilização de sistemas com primário e/ou secundário variável. Esse tipo de sistema causou um grande impacto no rendimento das válvulas de balanceamento e controle. Antigamente era comum encontrar válvula estática para o balanceamento, porém, com a chegada dos sistemas variáveis essas válvulas tiveram uma eficiência muito baixa, principalmente em cargas parciais. É importante que para esses sistemas sejam utilizadas válvulas de controle independente de pressão, pois são aquelas que se adaptam às variações do sistema e também às alterações de perda de carga com o passar do tempo. Atualmente, com o avanço da tecnologia, existem válvulas que possibilitam monitorar o rendimento dos equipamentos, consumo de energia e implantar lógicas de eficiência para atingir o melhor rendimento do sistema. Esses equipamentos coletam dados de operação e, quando conectados em nuvem, permitem realizar análises e implementar lógicas baseadas nos dados reais de funcionamento do sistema.
Sensores mal calibrados acarretam desconforto aos usuários
Iniciando pelos elementos de campo, os sensores necessitam de calibrações periódicas e quando elas não são executadas como planejado todo o sistema é afetado por medições não condizentes com a realidade, acarretando desconforto aos usuários, aumento de gasto energético e diminuição da vida útil de equipamentos.
Passando para a parte de CLPs e sistemas de supervisão, a programação e comissionamento mal executados fará com que todo o restante do sistema, mesmo que bem dimensionado, opere em condições distantes da ideal. Outro ponto é a seleção de equipamentos incompatíveis ou que não atendam plenamente a necessidade do projeto, como sensores com range de operação incorretos ou dispositivos de controle incompatíveis com a aplicação a ser controlada.
Ambientes atendidos por sistemas de climatização e renovação de ar que operam fora das condições de projeto podem trazer diversos problemas para a qualidade do ar. A renovação do ar executada de forma ineficiente, devido a um sensor descalibrado ou fora de escala, ou, até mesmo, uma lógica de operação incorreta, propicia o aumento dos níveis de CO2, potencializa a transmissão de doenças respiratórias, entre outros problemas. Por sua vez, a climatização de ambientes de forma incorreta aumenta a proliferação de fungos e bactérias, podendo causar alergias e gerar desconforto e perda de rendimento dos usuários.
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