No dia 6 de março, quarta-feira de cinzas, encontramos Arnaldo Basile em sua residência. O motivo seria um bate-papo sobre os seus 3 anos de gestão à frente da Abrava. Descontraidamente, ele falou sobre as dificuldades, as inovações introduzidas, a extrema colaboração dos colegas de diretoria e a interatividade com entidades correlatas. Prestes a entregar o bastão, acredita que a entidade nacional do ar condicionado e refrigeração pede um novo patamar, o da profissionalização. Abaixo, os principais momentos da entrevista.
Gestão organizacional e capacitação
“Em meu discurso de posse dei ênfase a duas questões: gestão organizacional e capacitação dos profissionais. Meu drive era a nacionalização da Abrava, treinamento e qualificação. Tornar a Abrava mais reconhecida nacionalmente e estabelecer contatos e parcerias com outras entidades com quem temos sinergia.
Em relação à qualificação, a urgência era maior, já que vivenciávamos a crise de 2016 de maneira bastante intensa. Muitas empresas demitiam profissionais, o que poderia criar um vácuo, que, infelizmente, tem sido constatado. A preocupação era exatamente esta, vamos manter estes profissionais que acumularam experiência ao longo do tempo e que de uma hora para outra não têm como exercer suas habilidades ou partir para outras experiências no setor? A qualificação sempre foi uma preocupação minha, desde que me conheço como profissional, para o engenheiro ou administrador a capacitação faz parte do seu business. Naquele momento, 2016, o que a Abrava poderia oferecer era isto àqueles profissionais que haviam perdido seu lugar no mercado.
Hoje estimo que a Abrava tem pelo menos 30% a mais de cursos do que há 5 anos. As empresas entenderam que num momento de certa ociosidade do pessoal valia a pena aproveita para investir em capacitação, aperfeiçoamento. Isso, sem contar as dezenas de palestras, sempre fontes de atualização e conhecimento.”
Nacionalização da Abrava
“A Abrava é uma associação nacional com mais de 56 anos de existência, mas sempre teve alguma dificuldade em interagir com algumas regiões, o que é natural pela extensão do país. O compromisso de fazer dessa maneira, deu a oportunidade de abrir as regionais de Pernambuco, Bahia, converter a regional Nordeste, que estava esvaziada, em regional Ceará. A regional Minas Gerais foi uma grata surpresa, ela existia a mais de 20 anos e sempre foi uma dúvida entre os colegas gestores da Abrava, de qual seria o comprometimento dos nossos colegas de Belo Horizonte. Uma conversa que tivemos lá, gerou um efeito multiplicador de atividades fantástico. A regional atualmente tem uma série de realizações, organiza eventos, interage com outras instituições e colhe resultados espetaculares, é um grande orgulho para todos nós.
Então, na questão da nacionalização, temos três regionais novas e o fortalecimento de Belo Horizonte. Além de outras interações que começamos a existir; nós participamos de alguns comitês, como o GTSSP, na FIESP, hoje liderado pelo Carlos Trombini, presidente do Sindratar-SP. Participamos da ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras e Construtoras, que nos permite acessar alguns parceiros que têm sinergia com a construção civil, assim nós passamos a ter relação direta com este mercado. Conseguimos fortalecer um pouco mais nossa atividade com o ICAHRMA, e com a FAIAR, por exemplo. Aliás, sobre esta última, que é a Federação das Associações Iberoamericanas, aconteceu uma coisa interessante. O Wadih Tadeu Neaime havia assumido a presidência da FAIAR em janeiro de 2016, no período que presidia a ABRAVA. Em meados de 2016 eu assumiria a presidência da Abrava. Eu argumentei que para que pudéssemos fazer um bom trabalho nas duas entidades, seria melhor o Wadi continuar como presidente da FAIAR e que a presidência dele não fosse transferida automaticamente para mim. Na FAIAR isso soou um pouco estranho: ‘Como, você vai abrir mão da presidência da FAIAR?’. O Wadi ficou como presidente da FAIAR, depois disso ainda foi presidente do Conbrava e do CIAR, com muitos bons resultados em ambos. Ele é um grande parceiro, foi sempre sensacional.
Outras entidades que vimos tendo um bom trabalho conjunto são a ABRAFAC – Associação Brasileira de Facilities, e o GRUPAS, Grupo de Gestores, que nos permitem uma visibilidade e interação muito grande e que nos reconhecem de maneira efetiva como os guardiões do setor AVAC-R. Destaco, ainda, a parceria de outras entidades muito ativas, como a ASBRAV, a ANPRAC, os Sindratares, de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, que têm nos ajudado a encaminhar de uma maneira mais sensata e assertiva tudo aquilo que acontece no mercado. Isso tudo se reflete no Comitê Nacional de Climatização e Refrigeração, do qual a ABRAVA é fundadora, e onde vimos realizando atividades em conjunto há mais de 4 anos. A interação com todas essas entidades nos permite interagir, interagir e aprender. Então, se eu pudesse destacar uma marca da minha gestão, eu diria isso, diversificar os contatos.
O avanço foi significativo. Hoje, por exemplo, participamos das reuniões da CNI. e fazemos parte das suas pautas, para falar sobre assuntos afetos ao nosso mercado. Nos deu mais visibilidade junto ao Procel, graças a existência de um grupo de eficiência energética para o qual de vez em quando éramos convidados. Hoje nós temos uma participação mais ativa. Isso tudo não veio exclusivamente do trabalho que desenvolvemos nesta gestão, veio em função do trabalho que deu chances a todos os colegas, presidentes de DNs, de outros que atuam na Abrava com menos evidência, mas que são expoentes no mercado; profissionais que interagem com outros setores. Este reconhecimento está vindo de uma maneira bastante significativa.”
Eficiência energética
“Recentemente estávamos questionando nossa participação nos assuntos relacionadas à eficiência energética. No mês de março, ocorreu uma movimentação, para a qual a Abrava foi convidada a tomar assento, no grupo de discussões energéticas no Brasil.
O Seminário Programa Brasileiro de Etiquetagem em Eficiência Energética para Sistemas de Refrigeração e Ar Condicionado (realizado em 22 de agosto último na FIESP) começou a ser planejado no final de 2017. O Procel queria realizar o Seminário com o apoio da Abrava. Em determinado momento eles notaram que seria melhor passar o bastão pra nós. Ali foi o start do relacionamento um degrau acima. Não somos mais simplesmente convidados, somos participantes nas questões de eficiência energética. E, mais um ingrediente, você vê os colegas nos DNs envolvidos com a eficiência energética, o que é animador. Isto não passa despercebido; o Procel percebe esta movimentação e o engajamento das pessoas.”
PMOC AC
“O PMOC é um caso à parte. Se fosse pra escrever um livro, o assunto ocuparia vários capítulos. O PMOC foi o grande trunfo da Abrava em nossa gestão. Quando eu participo de alguns bate-papos, algumas reuniões, e se começa ir para o campo jurídico, eu argumento: ‘Quem inventou o ar condicionado, o fez há mais de 100 anos. Não foi uma lei que o criou, nasceu por iniciativa de um empreendedor e de outros empresários que entenderam os benefícios e por aí as coisas começaram a caminhar. Há mais de 20 anos os profissionais começaram a discutir dentro da Abrava as melhores práticas de manutenção, operação e controle de equipamentos e sistemas de ar condicionado. Usualmente nós não falamos de refrigeração, mas refrigeração também. Então, a história do PMOC começou 20 anos atrás, não é uma história recente. Teve envolvimento jurídico, teve envolvimento dos colegas dos DNs de instalação, de projetos. Presidentes que me antecederam, Wadi, Samoel e Minozzo já tinham tido interações com o Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá, com o vereador Natalini. Mesmo nas questões jurídicas, a redação da lei foi sob o nosso departamento jurídico. Teve muita interação e muito envolvimento dos nossos colegas.
O Comitê Nacional de Climatização e Refrigeração deu enfoque em 2017 para esta questão. A lei estava para ser discutida e se fizéssemos um trabalho forte seria possível destravar o encaminhamento no sentido da sua aprovação. E assim foi feito. O sucesso na aprovação da lei foi atribuído ao Comitê Nacional de Climatização e Refrigeração, mas temos que reconhecer que foi um esforço concentrado do Carlos Eduardo Trombini e da Viviane Nunes pelo Sindratar São Paulo. Em nome do Comitê eles fizeram uma movimentação bastante inteligente e forte em Brasília, com contatos com vários deputados. O Deputado Arnaldo Faria de Sá nos orientou como fazer e como conduzir. O resultado foi a sanção da Lei no começo de janeiro do ano passado. Por coincidência eu estava jantando no dia 4 de janeiro, uma quarta-feira, com o Trombini e a Viviane, quando ela recebeu uma mensagem comunicando que a lei havia ido à sanção presidencial. No dia seguinte foi sancionada. Imediatamente começamos a estabelecer metas de atuação. No sábado fomos, eu e Trombini, agradecer pessoalmente o deputado Arnaldo Faria de Sá.
Na semana seguinte estabelecemos um tripé de ações: dar ciência aos nosso colegas do setor do que havia sido sancionado; dar visibilidade aos usuários, proprietários de sistemas, da sua responsabilidade para a contratação de um PMOC; o terceiro, mais complexo, é treinar, capacitar e dar visibilidade aos fiscais que fazem a fiscalização, eles têm que entender o que fiscalizarão. Nós dividimos em 3 ações, fizemos seminários em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco… inclusive isso impulsionou a abertura das regionais Bahia e Pernambuco.
Alguns fiscais da Anvisa já vinham sendo treinados desde 2016 por iniciativa do Qualindoor, um dos DNs mais ativos hoje na Abrava. Já vinham treinando estes fiscais para dar maior amplitude às boas práticas de engenharia. A aprovação do PMOC facilitou este trabalho. Os parceiros do Qualindoor têm rodado o país todo oferecendo treinamento para fiscais, em particular o Leonardo Cozac, o Arnaldo Parra e o Eduardo Brunacci, além de outros parceiros em outras regiões, como o Mário Canale, do Rio Grande do Sul. Mas há outros, e não quero ser indelicado omitindo seus nomes. Mas esses são os que mais têm se dedicado, rodado o Brasil, despendendo seu tempo para treinar os fiscais da Anvisa, que trata de portos e aeroportos.
Falta o restante, que é a grande massa onde precisamos disseminar conhecimento. Recentemente conseguimos convidar os fiscais da Covisa de São Paulo, que já recebeu os primeiros treinamentos. Resumindo: de fiscais de Anvisa já foram mais de 500 treinados, Covisa, em São Paulo, mais de 50, Rio de Janeiro já teve fiscais treinados, assim como a Bahia, Santos, Rio Grande do Sul, vários locais do Nordeste. Não é só a Anvisa, mas outros grupos têm sido alvo de treinamento. E isto está tomando forma, com grau de conscientização bastante forte.
Você mencionou a tragédia do CT do Flamengo. O resultado foi uma fatalidade, mas o que a precedeu foi uma aberração, uma falta de cuidado, uma falta de atenção para aquilo que é essencial numa manutenção. Ali ficou exposta a displicência com que se tem tratado as questões de manutenção, não só de sistemas de ar condicionado, mas de sistemas eletromecânicos em geral.
Adotamos na Abrava desde novembro de 2019, que, quando se fala em PMOC associa-se imediatamente ao ar condicionado; eu disse não, tem que ser mais específico, é o PMOC do Ar Condicionado. Entendemos que PMOC deve existir para sistemas hidráulicos, elevadores, escada rolante, qualquer sistema eletromecânico tem que ter seu PMOC. Então o PMOC não pode ser um tema atribuído apenas ao ar condicionado, pois vai aparecer tanta coisa louca, tanta coisa atrelada ao PMOC que não podemos deixar o ar condicionado atrelado a uma coisa incompleta. Isto é, PMOC do Ar Condicionado.
Por conta destes resultados positivos, estamos começando a ter uma participação no CONFEA. Eu, na condição de presidente da Abrava, e o Trombini, presidente do Sindratar-SP, participamos nos dias 15 e 16 de março de uma reunião do Confea para tratar destas questões atreladas ao PMOC do Ar Condicionado. Nosso objetivo é que isso se consolide duma maneira clara, honesta, transparente e correta, e que sirva como referência para o PMOC de outros sistemas. E, a partir daí, levarmos outras questões relacionadas ao nosso setor para dentro do Confea.”
A interferência da crise econômica na vida da associação
“Usei muito da minha experiência executiva. Não que você minta, mas busca ter como foco aquilo que vai pra frente. Sempre tive interação com os colegas da Abrava. Procurei ter interação com todos e mostrar que o momento era delicado e que corríamos o risco de perder associados. Minha mulher foi a minha conselheira e minha ouvinte. Compartilhei com ela todas as preocupações, inclusive testando meus discursos.
A única conclusão que cheguei, para não perder associados, é que seria necessário mostrar o valor da associação e, mais do que isso, mostrar ao associado que ele agregava valor e tinha benefício. Mais complicado era mostrar o valor para ele, dentro da empresa dele o valor em ser associado. Este era o desafio. E eu não via alternativa, senão sentar com cada um e conversar. Visitei vários associados. Não havia muita alternativa, a não ser dizer: vem pra dentro da associação, olhe para a associação; antes de tomar uma decisão, reflita, veja o que está acontecendo, veja o que tem de bom e o que você pode usufruir. Felizmente, no balanço entre associados novos e aqueles que se excluíram do quadro, o balanço é estável.
Tecnicamente, falando em economia, nós já saímos da crise, mas o setor ainda não. Se você dividir a economia nos 24 segmentos econômicos, o AVAC-R está presente nos 24, e nós somos um país tropical que precisa do ar condicionado, precisa da refrigeração. Então, quando se assume esta abordagem, de ver onde o associado pode contribuir e ser beneficiado por alguma outra interação, de algum outro reflexo, de alguma outra entidade parceira, você propicia este entendimento. Então, ter estabelecido acordos com outras entidades, ajudou a dar esta visibilidade. Os associados que tinham alguma dúvida sobre a participação na associação, ao perceberem esta interação, constataram que profissionais de outras entidades começavam a ter interesse no nosso setor, e começaram a rever seus conceitos. Isto ajudou a segurar o nosso rol de associados. Deu certo, o que não significa que esta é a única solução ou que daqui para a frente continuará da mesma maneira. Mas não vai prejudicar, a filosofia de atuação eu espero que continue daí pra mais.”
O futuro da Abrava
“Muitos colegas que atuam hoje, já atuavam antes na Abrava. Os colegas de São Paulo são os que mais têm chances de atuar na associação. Os que já usavam o chapéu da Abrava continuaram usando, apenas trocando de posições. E todos com um comprometimento muito grande. Estamos inseridos em tantas atividades simultâneas que mostram o comprometimento dos colegas envolvidos. Se a Abrava desenvolvia 3 dúzias de atividade há seis meses, hoje desenvolve 9 dúzias. Os colegas estão fazendo as coisas acontecerem. A grande mudança que vejo é essa. Estamos no limite? Não acredito, o homem sempre supera limites.
Mas acredito que chegamos num estágio que pede a profissionalização da Abrava. A partir da próxima gestão é preciso pensar profissionais dedicados exclusivamente à associação, inclusive como a Abrava já teve no passado. O mercado vai cobrar isso, assim como a interação com outras entidades. A mudança é essa, o comprometimento das pessoas.”
Mensagem final?
“Ar condicionado é bom e faz bem. E a refrigeração é imprescindível.”
Assista aos vídeos:
A relação institucional da Abrava com o mercado e outras instituições
Ar condicionado é bom e faz bem