Nem sempre a ação dos ocupantes de uma edificação tem interferência determinante sobre o funcionamento do seu sistema de climatização. Hernani Paiva, diretor da IMI Hydronic Engineering, enxerga, dentre as causas do mau funcionamento dos sistemas, “alterações de projetos feitos por instaladoras sem aprovação do projetista, a fim de reduzir custos de instalação, ou seja, ganham as concorrências já prevendo as mudanças no projeto; instaladores com baixo conhecimento de instalação e de engenharia; e falta de ajustes e testes comprobatórios na partida do sistema.”

Paiva não deixa de responsabilizar, também, o contratante, que precisa “passar para os seus contratados todos os requisitos necessários para ter o retorno garantido sobre seu investimento. Se ele não fizer isso, começará o desastre quando da entrega do sistema. Ele é o responsável também pela operação, com pessoas que devem ter qualificação na operação do sistema como um todo.”

Com vasta experiência em campo, o diretor da IMI relata que já viu falhas no conceito e nas especificações. “Instaladores sem a mínima condição para instalar um sistema, contratando terceirizados sem também a mínima qualificação, ou seja, sempre buscando redução de custos. Isso é responsabilidade do usuário que está preocupado com custo e não com a operação e nem com o seu retorno financeiro. A mesma coisa, em menor grau, se dá com a automação, com muita tecnologia envolvida, porém, se o sistema já vem errado no seu conceito e contratação como um todo, não é o sistema de automação que vai resolver.”

Ricardo Suppion, Gerente da Oventrop para a América Latina, destaca a falta de manutenção. “Mesmo um sistema novo deve ter trabalho de manutenção e acompanhamento da operação para correção de problemas ou desvios enquanto são pequenos e relativamente fáceis e baratos de se resolver”, diz ele.

Mas o papel dos operadores, na opinião de Suppion, não pode ser subestimado. “A falta de conhecimento por parte dos operadores do sistema sobre como ele deve operar e, em vários casos, desconhecimento básico sobre o que é um sistema de ar-condicionado e de seus componentes. Como exemplo, podemos citar leiaute do ambiente, muitas vezes obstruindo total ou parcialmente o fluxo de ar. Podemos fazer um comparativo com um automóvel, em que o manual diz que ele pode fazer 12km/l de combustível. Entretanto, isso é alcançado em determinada condição de uso, se o motorista acelera ou freia de maneira brusca, não calibra pneus ou outros pontos de atenção, com certeza nunca vai conseguir chegar nesse consumo. O mesmo vale para um sistema de ar-condicionado. Se o usuário colocar temperaturas muito baixas, não manter filtros e outros componentes, o resultado só pode ser um consumo mais alto que o esperado, além de queda na qualidade do ar, gerando desconforto e aumento de reclamações e insatisfação.”

Os diferentes tipos de sistemas de automação

Suppion diferencia, quanto ao desempenho, os tipos de sistemas. “O controle individualizado, por unidade ou por usuário é, em geral, o que gera mais ineficiência, pois, como o conceito de conforto térmico é algo subjetivo e considera vários fatores, isso pode levar, por exemplo, o usuário a ajustar temperaturas muito baixas para o ambiente, fazendo o sistema operar em condições nada eficientes em termos energéticos. Já nos sistemas com controles centralizados é exigido do operador conhecimento sobre ar-condicionado e principalmente sobre o sistema para que possa operá-lo de maneira adequada. Deve também ter independência dos usuários, de maneira que não tenha que modificar as temperaturas nos ambientes de acordo com a vontade de algumas pessoas; nesse caso, o sistema, mesmo tendo o controle centralizado, passa a operar como controle individualizado e com todas as consequências.”

O gerente da Oventrop diz que, em campo, o ajuste da temperatura em valores abaixo do previsto em projeto é algo corriqueiro. “A criação de salas fechadas, enclausurando grelhas e difusores para saída e retorno de ar ou posicionando armários abaixo desses elementos também é algo que ocorre.”

Em relação à automação, ele aponta que “a falta de manutenção, desligamento de alguns elementos e uso manual dos sistemas são os mais comuns. Além disso, o desconhecimento de como se pode ‘ganhar’ eficiência do sistema mudando alguns parâmetros durante períodos ou condições externas também contribuem para a queda de eficiência e insucesso de alguns projetos.

A resposta a esses problemas, ainda segundo Suppion, está na “documentação, treinamento e orientação como pontos chave. Muitas vezes a equipe que recebe o edifício é treinada, mas, passados seis meses ou um ano já não é a mesma e o treinamento inicial foi perdido. Sempre que começa uma nova pessoa na equipe ou uma equipe nova, deve-se dar o treinamento. Aí temos mais um ponto de importância em ter um profissional ou empresa de comissionamento do sistema acompanhando todo o projeto e documentando tudo, inclusive, se possível, criando e atualizando manuais para o sistema, não somente os manuais técnicos dos componentes fornecidos pelos fabricantes. Nesses momentos ele acaba sendo, muitas vezes, a única pessoa que conhece o sistema e como ele foi concebido e instalado, isto é, que tem todo o histórico.

Da redação

 

 

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