Em tempos de pandemia, muito tem se falado de novas tecnologias para descontaminação do ar em ambientes internos. Isso porque a prevenção às contaminações, por fungos, bactérias ou vírus, no caso do Sars-CoV2, é melhor e mais econômica do que remediar esse tipo de situação. Nesse sentido, algumas das principais tecnologias oferecidas pelo mercado são a luz UV, a fotocatálise e o ozônio.

A tecnologia de descontaminação por meio de luz UV-C ou luz ultravioleta germicida (UV-C 100 a 280 nm sendo 253.7 nm a mais comum) consiste na instalação de lâmpadas no equipamento de ar-condicionado, mais especificamente na serpentina evaporadora do equipamento, para eliminação do biofilme (colônia de fungos e bactérias) que cresce com a umidade e temperatura elevadas, principalmente quando o equipamento está desligado. Diversos estudos comprovam que, se usada na intensidade correta (a ASHRAE estabeleceu níveis mínimos de irradiação de 50-100 μW / cm² na face da serpentina) são capazes de eliminar a carga microbiológica presente no sistema, trazendo, além dos benefícios à saúde, vantagens econômicas devido à dispensa da limpeza e manutenção da serpentina com produtos químicos e da elevação da performance de troca de calor, que pode ser afetada em até 37% para um biofilme de 0,002” .

É importante observar que o uso da luz UV influi diretamente na melhor higienização do equipamento e consequentemente do ar que passa por ele, mas não possui efeito na descontaminação das superfícies e no ambiente tratado. Ainda há muita discussão no meio científico sobre a viabilidade econômica e eficácia dessa tecnologia na inativação de vírus, fungos e bactérias no ar em movimento em um sistema de ar-condicionado, pois teríamos que ter uma baixíssima velocidade, distância (grande quantidade de lâmpadas), alta intensidade de irradiação (o tempo de exposição muito pequeno) para que pudéssemos garantirmos a inativação. Dessa forma, a luz ultravioleta germicida (UV-C) deve ser utilizada na descontaminação de serpentinas evaporadoras de equipamentos para a melhoria da eficiência e higienização do sistema do ar-condicionado.

A tecnologia da fotocatálise consiste na produção de oxidantes naturais baseados em oxigênio e hidrogênio, sendo o principal deles o Peróxido de Hidrogênio (H2O2), gás natural, e inócuo, produzido através de células fotocatalíticas instaladas nos dutos de ar-condicionado ou através de equipamentos portáteis instalados nos ambientes. Várias são as vantagens da fotocatálise, entre elas a descontaminação microbiológica constante nos ambientes sem produção residual de ozônio, como a tecnologia IRC- Ionização Rádio Catalítica.

Essa tecnologia passou por testes em laboratórios homologados pela FDA (Food and Drug Administration), seguindo os protocolos por ela recomendados, que comprovaram a redução de 99,999 % do vírus MS2, de mesma estrutura celular do Sars-CoV-2, em 30 minutos de exposição. Ela também possui estudos de validação do renomado Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

É importante ressaltar que o grande desafio da fotocatálise é o seu dimensionamento. Sua eficiência está diretamente ligada ao dimensionamento realizado pelo critério das empresas fornecedoras. Como o peróxido de hidrogênio é produzido com a ajuda da umidade ambiente, células que possuem coberturas hidrofílicas têm maior capacidade de produção. A fotocatálise é uma tecnologia disruptiva e com comprovada eficácia na inativação de vírus, fungos e bactérias no ambiente e nas superfícies, portanto uma grande aliada no combate à Covid-19.

Outra tecnologia disponível é a que atua na descontaminação por meio do ozônio. O gás ozônio é formado por três moléculas de oxigênio (O3) e é sabido que tem papel fundamental na proteção da Terra contra a incidência dos raios UV. Da mesma forma, o ozônio é um excelente oxidante, reduzindo consideravelmente os microrganismos em ambientes internos, quando utilizado de forma correta.

Por apresentar características oxidativas, agindo sobre alguns Compostos Orgânicos Voláteis (VOC) e promovendo a descontaminação, quando utilizado em altos níveis o ozônio pode ser prejudicial à saúde. Dessa forma, a Environmental Protection Agency (EPA) permite exposição máxima de 0,05 ppm (partes por milhão) ao gás. Já a Ocuppational Safety and Healthy Administration (OSHA) do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos (correspondente ao Ministério do Trabalho no Brasil) permite exposição máxima de 0,1 ppm (partes por milhão) de ozônio em ambientes de trabalho durante permanência máxima de 8 horas diárias.

No Brasil, o Ministério do Trabalho, através da Norma Regulamentadora 15 (NR 15), indica, no Anexo 11, exposição máxima de 0,08 ppm (partes por milhão) para jornadas de trabalho de até 48 horas por semana e classifica o ozônio com grau de insalubridade máximo no caso de sua caracterização.

Existem empresas que utilizam o ozônio para descontaminação em ambientes desocupados com resultados excelentes. Como a meia-vida do ozônio é muito curta, não existe residual após sua aplicação, com ventilação adequada do ambiente. O uso de ozonizadores em ambientes ocupados só é recomendado quando há o monitoramento constante, cuidando para que não sejam ultrapassados os níveis estipulados pelos órgãos públicos.

Vale lembrar que as questões de descontaminação do ar usando ozônio não têm nenhuma relação com tratamentos chamados de “ozonioterapia”, definida pelo Ministério da Saúde como a prática que utiliza a aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas vias de administração, com finalidade terapêutica, utilizada há décadas em países como Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Rússia, Cuba, China, entre outros. Alguns setores de saúde adotam regularmente esta prática em seus protocolos de atendimento, como a odontologia, a neurologia e a oncologia, dentre outras, mas não há relação desse tipo de tratamento com o tratamento do ar.

Não há dúvidas que a pandemia vai modificar o olhar mundial sobre a questão da prevenção das contaminações. Uma nova cultura global de atenção com o saneamento, a higiene e a descontaminação, tem sido evidenciada e, muito provavelmente, fará parte de nosso cotidiano daqui em diante. Nesse novo cenário, estaremos preparados para atuar de forma preventiva e colaborar com essa retomada.

 

Manoel Gameiro, engenheiro mecânico com especialização em refrigeração e ar-condicionado, é parte da equipe da Ecoquest na área comercial e de novos negócios

 

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