Patrice Tosi pertence a uma linhagem pioneira no ar-condicionado. Pode-se dizer, sem exageros, que ela cresceu respirando freon. O pai, José Daniel Tosi, inaugurou sua primeira fábrica de equipamentos e componentes, a Coldex, em 1954 no bairro do Tatuapé, antiga área de concentração industrial na capital paulista. Mais velha de três irmãos, desde muito menina trafegava entre os maquinários, numa época marcada pela presença dos primeiros empreendedores do setor, como o tio Mário Lantery, então sócio na Coldex, e Paulo Velinho, o criador da Springer Admiral.

“Desde muito cedo eu saia com papai para fazer as coisas que ele gostava. Ia a jogos de futebol, lutas de boxe, corridas de automóveis em Interlagos. Foram inúmeras sextas-feiras assistindo lutas do Eder Jofre e do Miguel de Oliveira”, lembra.

As lembranças da mais velha dos irmãos Tosi não se restringem aos corredores onde eram produzidas serpentinas e, depois, selfs e fancoils. “Os almoços de domingo eram concorridos e à mesa conversava-se muito sobre o mercado de ar-condicionado”. Mas faz uma confissão: “Meu primeiro contato, mesmo, foi desligando o aparelho. Eu e papai nunca gostamos muito de ar-condicionado. Mamãe não vivia sem; ela ligava e eu e papai desligávamos”.

Patrice lembra de ir com a mãe e a secretária da empresa para comprar presentes para as festas dos funcionários no final de ano. “Fizemos festas maravilhosas, principalmente depois que a fábrica mudou-se para Diadema. Eu ajudava na organização”.

Uma “mania” do patriarca da família Tosi era implantar fábricas nos sítios que possuía. Com Diadema não foi diferente. No local a Coldex chegou a ter 1200 funcionários e um ferramental invejável. “Em 1972, quando dominávamos o mercado de selfs e fancoils, a Trane comprou a fábrica. Pouca gente sabe, hoje em dia, mas a Trane entrou no Brasil comprando a Coldex, que virou Coldex Trane”, diz Patrice.

José Daniel enxergou, então, uma necessidade do mercado em componentes de difusão e abriu, no que restara do antigo sítio, a Tropical. Neste interim, Patrice cursou administração de empresas na PUC e, depois, extensão em marketing na ESPM. Sempre colaborando em meio-período com a empresa da família.

Nascido o primeiro filho, partiu para experiências próprias, montando um ateliê de alta costura, que colheu sucessos por 10 anos. Continuou colaborando na organização das feiras e na confecção dos catálogos e materiais promocionais da empresa.

No final dos anos 90 a Tropical expandira sua produção, retomando a fabricação de equipamentos. Possuía, então, 50% do mercado de fancoils quando a Carrier comprou a marca, constituindo a Tropical Bryant.

Impossibilitados, por contrato, de fabricar equipamentos, a família investiu em uma nova fábrica, agora em Cabreúva, onde já possuíam um sítio. Foi retomada a fabricação de grelhas e difusores e montada uma moderníssima linha de serpentinas.

Com a mudança, os filhos já crescidos, Patrice assumiu a empresa em tempo integral. “Desde a faculdade papai insistia muito para que eu assumisse algum papel na empresa. Eu dizia que poderia, mas na área comercial e de marketing, o que me atrai é o contato com pessoas, visitar clientes, organizar feiras e eventos”, explica a executiva.

Em 2006, Márcio, o caçula dos Tosi, teve a iniciativa de criar a Jelly Fish, empresa voltada ao aquecimento de água, primeiramente fabricando bombas de calor e, em seguida, coletores solares. Foi a transição para a retomada da produção de equipamentos, ao fim dos 10 anos de restrições contratuais.

Patrice foi ainda mais fundo na área comercial e de marketing. A empresa abriu escritório na Rua Helena, no bairro do Itaim Bibi, e passou a participar ativamente de feiras e eventos nos diversos mercados que atendia. Novas linhas de unidades de tratamento de ar, particularmente para aplicações especiais, foram introduzidas; foi retomada a produção de self contained e desenvolvidos os primeiros chillers, inicialmente com compressores scroll e, em seguida, os de mancais magnéticos, através da parceria com a Multistack.

Em 2014, a crise econômica que se abateu sobre o país atingiu também a mais longeva empresa nacional do mercado de AVAC-R. “Não havia o que fazer, precisávamos colocar o comercial para andar. E a melhor maneira de fazer isso é estar frente a frente com os clientes. Viajei para todas as capitais e principais cidades do país. Fizemos todos os eventos que nos permitiam dialogar com o mercado, como os ENTRACs (encontros tecnológicos itinerantes organizados pela Nova Técnica Editorial), apostamos na rapidez de entrega e conseguimos nos recuperar em dois anos”, conta ela.

Adepta da educação continuada, Patrice tem feito diversos cursos para aprimorar a relação com o mercado, como mídias digitais, precificação, entre outros. “Precisamos oferecer o que o mercado quer e a internet é um meio a mais na nossa comunicação, sem abandonar os demais. Se um cliente prefere o catálogo impresso, nós precisamos ter; se a sua escolha é pelo digital, também temos. Não existe o ou, existe o e”, afirma.

Assim ela vê a questão de gênero. “Empresas como Emerson e Trane, que estabeleceram a meta de 50% das vagas para cada gênero, mostram o caminho. Está provado que a incorporação de mulheres na alta administração das empresas aumenta em 15% o lucro.”

Até o momento nenhum dos dois filhos manifestou o desejo de seguir as pegadas da segunda geração da família Tosi no ar-condicionado. “Se quiserem, a porta está aberta. Já temos a Marina, filha do Márcio, me ajudando no marketing; o Lucas, também filho do Márcio, fez engenharia e estava na Multistack, tendo voltado para o Brasil por conta da pandemia, mas retornará para lá. Marcelo tem um filho fazendo engenharia. Se todos quiserem vir para a empresa, há lugar. O importante é ter paixão. Essa mesma paixão, pelo mercado e pelas pessoas que o compõem, que sempre me motivou”, conclui a diretora da Indústrias Tosi.

O vídeo com a entrevista completa de Patrice Tosi pode ser acessado no Portal EA (www.portalea.com.br).

Ronaldo Almeida

ronaldo@nteditorial.com.br

 

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