Marlene Moraes é uma dessas pessoas lendárias no ar-condicionado. Tendo construído sua carreira em Belo Horizonte, passou a ser A (em maiúsculo mesmo) comercial da JAM Engenharia, uma das principais instaladoras não só de Minas, como do Brasil. Antes da pandemia, era fácil encontrar Marlene em salas de embarque dos principais aeroportos do país, num eterno corre-corre para atender às demandas de clientes em toda a parte.
Atualmente confinada em Brumadinho, na casa anteriormente utilizada para os finais de semana, a correria não para. “Às vezes eu ligo para alguém que se surpreende com o avançado da hora. Quando vejo já escureceu e eu não percebi. Parece que o tempo passa voando nesta quarentena.”
Nada mais apropriado para quem viveu parte da infância numa cidade chamada Passa Tempo. Nascida na capital mineira, acompanhou a mãe que retornara à cidade natal após a separação do marido. De volta a Belo Horizonte aos seis anos, desde então sempre cursou escola pública. Terminado o primário, transferiu-se para o SESI, uma opção profissionalizante.
Trabalhando desde cedo, estava como auxiliar do departamento pessoal de uma indústria têxtil, quando tomou gosto pelas coisas técnicas. “Eu precisava entrar na fábrica constantemente e comecei a pensar que era ali que gostaria de trabalhar, não em área administrativa”, conta. Assim, matriculou-se em um curso técnico mecânico numa escola particular. Um encarregado vendo seu gosto pela produção, conseguiu transferi-la para a área.
Terminado o Técnico, foi obrigada a ficar quatro anos fora da escola. “Queria cursar engenharia mecânica, mas não tinha condições financeiras. O único curso noturno que existia em Belo Horizonte era o da PUC, muito caro para minha condição”, lembra Marlene.
Perseverante, buscou uma opção que combinasse com suas possibilidades. “Achei, próximo a Belo Horizonte, na Universidade de Itaúna, o mesmo curso. “Então, eu trabalhava o dia inteiro, e ia para Itaúna fazer o meu curso. Chegava em casa por volta de meia noite e trinta. Fiz isso por 03 períodos e foi muito cansativo.”
Quem luta vence, diz a sabedoria popular. E, após conseguir uma promoção no trabalho, Marlene fez outro vestibular para a PUC e passou. Imediatamente pediu transferência e continuou a fazer o curso em condições mais favoráveis, até a formatura. Mas que não se pense que ela parou na graduação: “Tenho um MBA, na UFMG, em Refrigeração e Ar Condicionado, outro no CEFET, em Qualidade, além de diversos cursos de curta duração. Mas, procuro sempre me atualizar através de feiras, workshops e eventos na área de ar–condicionado.”
O ar-condicionado ainda não havia entrado no seu radar. Na indústria têxtil, agora, era a responsável pelo departamento de lubrificação em toda a fábrica, e observando a importância do controle de umidade e temperatura para o processo e para a eficiência da produção, muito ligados à disciplina de ar–condicionado, começou a se interessar pela área, conta Marlene Moraes.
“Um dia, por acaso, enviei meu currículo para algumas empresas. E uma delas, de ar–condicionado, para minha surpresa na área comercial, acabou me contatando e eu decidi encarar o desafio. Foi uma mudança da água para o vinho. Numa empresa, eu trabalhava na área de produção e manutenção. Na outra, no departamento comercial”, lembra. A empresa era a Tuma Engenharia, uma das mais expressivas do país, onde começou como engenheira de vendas.
Passados quatro anos, surgiu nova oportunidade, agora na Jam Engenharia, empresa com grande expressão comercial e técnica. Lá, Marlene começou em 1997 como engenheira de vendas. Mas não demorou para conquistar espaços mais amplos, tendo chegado ao posto de Gerente Comercial e de Orçamento, onde permanece.
Longe de imaginar que tudo foi sempre fácil. “Tive momentos decepcionantes que marcaram a minha vida. Mas que serviram de grande incentivo para eu ser uma pessoa e uma profissional melhores. A gente cresce nessas circunstâncias. Eu sofri preconceitos por ser mulher e por ser negra, numa área predominantemente de homens”, afirma.
Entretanto, jamais jogou a toalha. “Graças a Deus eu tenho tido muito êxito em meu trabalho. Sem ser piegas, trato cada obra como se fosse a mais importante naquele momento, pois para o proprietário investidor é meu cliente, a obra dele é a mais importante. Se eu vejo a obra pelos olhos do meu cliente, e proprietário, eu consigo dar o melhor de mim e fazer um bom trabalho”, diz ela.
A garra é hereditária. Marlene diz que sua grande referência é a mãe. Com o casamento desfeito muito cedo, criou os dois filhos com força e tenacidade. “Eu sempre morei com minha mãe, mesmo tendo minha própria casa. Ela foi o meu maior exemplo de vida, pois era uma lutadora e uma excelente pessoa. Por esses motivos, eu pautei toda a minha forma de pensar e agir nela, seguindo os seus exemplos. Por isso, e porque eu a amo muito, foi uma perda muito grande em minha vida quando ela desencarnou há dois anos”, emociona-se Marlene.
A gerente comercial da JAM diz ter feito muitos conhecidos nestas quase 3 décadas de vivência no mercado e, também muitas amizades. “Como o meu amigo Silbert Adriano, e uma grande mulher e amiga, que é a Priscila Baioco. Todos me inspiraram pela trajetória da vida.”
Segundo ela, seu melhor momento é no fechamento de um contrato. E, orgulha-se das obras em que se envolveu, como a do Mineirão.
Apesar de não ter tido filhos, Marlene se diz muito família. “Meus sobrinhos são como meus filhos e eu os amo muito. Tenho um irmão e duas irmãs, nossa família é muito unida e eu adoro quando compartilhamos momentos juntos.”
Apaixonada pelo ar-condicionado, deixa alguns conselhos aos jovens. “Quando você gosta do que faz, o resultado é sempre o melhor, pois você põe o seu coração naquilo. Procurem dentro de vocês qual a área que vocês gostam e se identificam. Mas, isso não é suficiente. Dediquem-se. Esforcem-se. Estudem sempre. E, por fim, atualizem-se. A roda do conhecimento tem sempre que girar, mas a dedicação é primordial. E, também, façam network, pois a estrada é mais tranquila com bons amigos ao nosso lado.”
Ronaldo Almeida
ronaldo@nteditorial.com.br
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