A situação provocada pela disseminação do novo coronavírus, com distanciamento social, restrições à concentração de pessoas e lockdown, pode levar a uma alteração no funcionamento do comércio varejista.
“O que se observou em 2020 foi um crescimento dos atacarejos e aumento do consumo via delivery. Esta situação já vem de encontro com a tendência do varejo em omnichannel, onde cada estabelecimento é também um centro de distribuição. Sendo assim, a tendência por equipamentos mais compactos, de médio e baixo perfil é mais forte, bem como a busca por refrigerantes naturais. Além disso, a preocupação com o baixo consumo de energia é sempre presente, o que nos leva a equipamentos cada vez mais compactos e eficientes. Já no atacarejo a busca é por equipamentos de médio, médio alto perfil e alto perfil. Em resumo, é um setor que está em plena movimentação”, afirma Cláudio Palma, CEO da Mipal.
Por outro lado, algumas coisas permanecem, independente de pandemia ou situação econômica, acredita Rogério Marson Rodrigues, gerente de engenharia da Eletrofrio. “A sustentabilidade dos projetos de refrigeração sempre será uma tendência, pois o conceito de sustentabilidade é mutável de acordo com o desenvolvimento do conhecimento humano e das tecnologias disponíveis. Há pouco mais de uma década, eliminar o HCFC e substitui-lo por um HFC era a grande sensação do momento, oferecendo a alguns daqueles que o fizeram a classificação de projeto com selo verde. Justa a classificação? Para aquele momento, sim; hoje, não. Neste momento, quando o mercado já disponibiliza soluções de fluidos refrigerantes de baixíssimo impacto no aquecimento global e alta eficiência energética, avalio que os próximos passos se dirigem para o monitoramento remoto e sistemas de controle autônomo. A tecnologia disponível já oferece ferramentas para começarmos a pensar na inteligência artificial e todas as consequências que ela proporcionará para a eficiência energética, qualidade do frio e redução das quebras e perdas de alimentos perecíveis, um bem de alto valor que demanda toda a atenção da engenharia de refrigeração. Paralelo à tudo isso, a eliminação dos fluidos refrigerantes tradicionalmente conhecidos pode ser o futuro, como aplicar a refrigeração magnética à expositores e câmaras frigoríficas de supermercados. Existe viabilidade técnica e econômica para esta tecnologia? Acredito que teremos que buscar estas respostas nos próximos anos.”
Fatores como giro de mercadoria e ciclo de abastecimento, assim como a posição geográfica do estabelecimento, orientam boa parte das escolhas tecnológicas. Entretanto, Palma acredita que a conscientização da responsabilidade sobre o meio ambiente leva à tendência de utilização de fluidos refrigerantes naturais e com menor agressividade ao meio ambiente.
O consultor Thiago Pietrobon vai na mesma direção. “Não há uma tendência única. O local determina muito qual o modelo de loja. Se considerarmos que a disponibilidade de grandes áreas é cada vez menor, não estaríamos errados ao dizer que há maior chance de as lojas menores serem uma tendência em grandes centros, enquanto em áreas de expansão urbana, as lojas maiores (hiper e atacarejos) prevalecerem.”
“Acredito que todos os conceitos de pontos de venda estão aptos a receber as novas tecnologias em curso e as que virão, respeitando-se as características de cada projeto. As lojas de vizinhança e minimercados vêm mostrando expansão há alguns anos e, agora, impulsionada pelas mudanças de comportamento em função da pandemia. Esta mudança trará demandas de monitoramento remoto pouco utilizadas em grande parte das redes de supermercado no Brasil. É quebra de paradigma”, completa Rodrigues.
Novos fluidos refrigerantes
“A eliminação dos HCFCs, no caso da refrigeração comercial especialmente o R22, já é uma realidade, uma vez que há pelo menos 2 anos é praticamente zero a instalação de novos equipamentos com R22. Claro que ainda temos a maior parte da planta instalada com este gás, mas é uma tendência natural que ele seja substituído, uma vez que sua disponibilidade será a cada ano menor. Os HFCs, especialmente o R134a e os da família do R400, seriam a tendência natural de substituição, não fosse pela descoberta de seu alto impacto no aquecimento global (GWP). Assim, por meio da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, o Brasil deve, ainda neste ano, assumir metas de redução também dos HFCs, o que torna o mercado mais incerto.
Há famílias de gases sintéticos, como os HFOs, assim como os naturais, como CO2, Propano e Amônia, todos com aplicação na refrigeração comercial. Assim como alguns HFCs de baixo GWP e zero OPD”, acredita Pietrobon.
Rodrigues, da Eletrofrio, explica que uma série de fatores para que os fluidos refrigerantes halogenados sejam a quase totalidade dos projetos de refrigeração comercial no Brasil. “Mesmo já dispondo de tecnologias e soluções de engenharia de menor impacto ambiental, como os HFOs, CO2 e hidrocarbonetos, a legislação nacional não impõe regras e deixa a critério de cada um os fatores para a tomada de decisão, privilegiando o baixo custo de investimento inicial, permitindo que façamos projetos de supermercados de grande porte, com capacidades próximas à 400 kW na média temperatura, utilizando o R404A em sistema de expansão direta. Quase 1.500 kg de R404A (GWP 3.922), com alto impacto ambiental e elevado consumo de energia!”
Na área da armazenagem frigorificada, o gerente de engenharia da Eletrofrio diz que a consciência de que a rentabilidade no varejo começa no adequado armazenamento e distribuição, vai acelerar o processo de aceitação da tecnologia de refrigeração aplicada nas centrais de distribuição do varejo alimentar. “São grandes as perspectivas para aplicação dos sistemas de CO2 transcrítico e de baixa carga de amônia (Low Charge Amonia).”
“Muitas são as soluções aplicadas à refrigeração comercial nos dias de hoje, que podem ser separadas pelo porte da loja, ou melhor, pela carga térmica instalada; porém, privilegia-se aquelas de baixo TCO (Total Cost of Ownership). Consumo de energia, baixo custo de manutenção, confiabilidade e baixa carga de fluido refrigerante são fatores que têm sido base para o desenvolvimento dos projetos atuais, quando consegue-se convencer os proprietários de supermercados que o menor investimento inicial pode não ser a melhor escolha”, diz Rodrigues.
Balcões e expositores
O gerente de engenharia da Eletrofrio identifica nos expositores frigoríficos, dentre os equipamentos da refrigeração comercial, aqueles que mais evoluíram nos últimos anos. “A aplicação das portas de vidro nos expositores verticais e horizontais foi a maior quebra de paradigma da história do varejo brasileiro, proporcionando uma grande redução da carga térmica destes equipamentos e, consequente, drástica redução no consumo de energia elétrica. Quando associada a elevação da temperatura de evaporação, o resultado é algo inimaginável há não mais do que 7 anos. Isso é transformação!”
Opinião semelhante tem Palma, da Mipal. “A conscientização de conservação de energia com a preocupação com a qualidade de produto leva à evolução de equipamentos que propiciam este efeito, como exemplo, as portas com barreiras térmicas que levam à melhor conservação do produto. As soluções passam desde expositores horizontais, verticais e ilhas self contained, até centrais de frio remotas para medias e baixas temperaturas, utilizando condensadores remotos a ar e câmaras frigoríficas de baixo, médio, médio alto e alto perfil.”
Também a automação é vista como a grande promessa para o avanço das instalações em supermercados. “Os sistemas de automação serão o grande salto dos próximos anos. O monitoramento remoto começa 2021 como sendo a grande ferramenta de melhoria e garantia da qualidade do frio alimentar. A partir dele, o acúmulo de informações de temperaturas, pressões, potência elétrica absorvida e muitos outros parâmetros, gerarão uma base de dados de imensurável importância para o início do desenvolvimento da inteligência artificial aplicada à operação dos sistemas de refrigeração comercial”, acredita Rodrigues.
Ronaldo Almeida
ronaldo@nteditorial.com.br
Veja também:
Fabricantes apontam as tendências para a climatização no varejo
É inconcebível pensar em supermercados sem automação e controle