Construções sustentáveis têm a capacidade de influenciar não só o entorno onde são implantadas, mas também a vida de seus usuários e a da comunidade. Nesse ciclo entra a importância das Certificações Ambientais que servem como instrumentos para medir o desempenho dos empreendimentos, agregando credibilidade, reconhecimento nacional e internacional, proporcionando maior valor no mercado e incentivando a sustentabilidade.

Com a crescente busca pelas certificações, aumenta a necessidade de profissionais capacitados para atender a demanda, bem como de produtos e soluções eficazes que estejam alinhados com o mercado. Inúmeras empresas seguem em constante processo de crescimento e atualização, desde a otimização e criação de produtos mais eficientes, até o treinamento e especialização dos colaboradores, buscando atender as exigências de um mercado em contínua transformação.

De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2016, pode-se atribuir cerca de 1/4 de todas as doenças e mortes no mundo a fatores ambientais: água imprópria para consumo, ambientes insalubres, poluição do ar, saneamento deficiente, mau uso do solo e má gestão de recursos naturais são alguns desses fatores. Em 2019 a poluição do ar foi considerada, também pela OMS, como o maior risco ambiental para a saúde; 9 a cada 10 pessoas respiram ar poluído diariamente. No Brasil, aproximadamente 16% das doenças poderiam ser evitadas com medidas de gestão ambiental eficientes.

É importante ressaltar que a construção civil é um dos setores que mais consome recursos naturais no planeta, entre 40% e 75%, gerando uma quantidade considerável de resíduos. No Brasil, estima-se que 25% dos resíduos industriais sejam atribuídos a esse setor. Além disso, as emissões de carbono provenientes da cadeia produtiva na construção civil são bastante relevantes, segundo a United Nations Environment Programme (Unep), as edificações são responsáveis por 35% do consumo global de energia e 40% das emissões de gases contribuintes ao aquecimento global. Apesar desses números serem menores do que os do Relatório da Situação Global do Meio Ambiente de 2010, devido a uma pequena conscientização por meio da população, ainda existe um longo caminho a ser percorrido quando falamos de sustentabilidade.

Não é surpresa que a arquitetura sustentável tenha se tornado um fator de grande relevância no modo como as edificações e cidades têm sido construídas. O papel do arquiteto tem evoluído na medida em que as cidades e pessoas necessitam de novas tecnologias e funções no modo de se relacionar, morar, trabalhar e viver. A forma e a função dividem espaço com a eficiência energética e o planejamento sustentável, e será impossível separar tais pontos; a criação de soluções integradas que levam em consideração fatores ambientais estará cada vez mais atrelada ao modo de projetar. A mentalidade do arquiteto precisa estar naturalmente inclinada a incluir tecnologia, bem-estar e preservação de recursos naturais.

É fácil usar os termos relacionados à sustentabilidade quando falamos em projetos de construção, expressões como arquitetura verde e design sustentável estão sempre em voga mas, na prática, garantir que um projeto seja de fato sustentável é um processo complexo, não basta criar uma cobertura verde e afirmar que o edifício é eficiente, por exemplo. Após anos de luta e discussão, podemos contar com leis e normas que garantem boas práticas e estimulam a proteção ao meio ambiente, além disso, a criação de certificações ambientais e selos mudou o cenário da construção sustentável, facilitando a acreditação e valorização dos imóveis. No Brasil, possuímos diversas ferramentas para medir o desempenho de edificações, como LEED, BREEAM, AQUA-HQE, Selo Azul + Caixa, Selo Procel Edifica e GBC Zero Energy.

Os benefícios ambientais, sociais e econômicos da arquitetura sustentável são incontáveis. Podemos citar a conservação dos recursos naturais, redução do consumo de energia, conservação da biodiversidade, melhoria na qualidade do ar e da água, melhoria da qualidade de vida, conforto e produtividade dos usuários, controle de materiais e processos em sua produção, redução de custos a longo prazo e dependência de fontes de energia tradicionais, além da valorização da propriedade e maior vantagem competitiva.

Atualmente a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é o maior selo de reconhecimento internacional na área, criada em 1993 pela United States Green Building Council. A certificação se baseia no sistema de pontos, avaliando quesitos em 9 categorias: processo integrativo, localidade e transporte, sustentabilidade dos lotes, eficiência no uso da água, eficiência energética e fontes de energia renováveis, materiais e recursos naturais, qualidade do ar e conforto térmico, visual e acústico, inovação e prioridade regional.

O Brasil vem mantendo uma ótima posição nos últimos anos entre os países com maior área certificada LEED, ocupando atualmente a quarta posição na lista que desconsidera os Estados Unidos, com cerca de 17 milhões de metros quadrados de espaços certificados, distribuídos entre mais de 530 projetos. Um estudo realizado pela universidade norte americana de Harvard, sobre co-benefícios da certificação LEED, afirma que, no Brasil, em um período de 15 anos, a cada R$ 1,00 economizado em energia, R$ 0,39 centavos serão revertidos em ganhos com saúde e benefícios climáticos.

Esse movimento de construções verdes vem ganhando potência no Brasil para atingir um patamar mais elevado em importância social e econômica. Segundo Felipe Faria, CEO da Green Building Council Brasil, no mundo o setor movimenta cerca de US$ 1 trilhão por ano e até 2030 poderá ser responsável pela geração de 7 milhões de empregos diretos e indiretos, em diversos níveis de atuação. “Trata-se do setor que mais contribuiu com os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU, além de ser a principal solução para a crise hídrica e energética em nosso país”, afirma Felipe.

Vivemos um momento histórico para o movimento, somos um país relevante em termos de atuação ambiental na construção e fazemos parte de uma revolução no mercado. É necessário romper o paradigma de que uma edificação sustentável é mais cara do que uma convencional, e de que o conceito de sustentabilidade é efêmero, afinal, hoje pode parecer um diferencial, mas logo será uma inevitabilidade.

Marina Schuch, é arquiteta e compõe a engenharia de aplicação da Mercato Automação

 

 

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