Robert van Hoorn é diretor da Multivac Ventilação, que além de produzir ventiladores tem em seu portfólio os tradicionais dutos flexíveis e os de painéis pré-isolados, o MPU. O Portal EA conversou com ele a respeito da renovação de ar interior e as soluções que a empresa oferece para a qualidade do ar interno (QAI).
“A necessidade de cuidar da qualidade de ar que respiramos sempre existiu, mas muitas vezes o seu benefício não é percebido pelos responsáveis e, consequentemente, a solução para uma coisa que não se percebe como problema sempre é taxada de caro. Agora, com a pandemia que estamos vivendo, o medo do vírus mudou bastante esta percepção e as pessoas enxergam uma necessidade maior de cuidar do ar que respiram. Mesmo assim ainda temos um caminho longo, porque no meu modo de ver em muitos casos exageramos em medidas de alcance limitado com álcool gel na entrada, botões sem toque etc. e mesmo assim o ar que respiramos é negligenciado, deixando isso por conta de máscaras, que têm sido importantes, mas possuem uma ação limitado, ainda mais se levando em conta que muitas vezes não são usadas de forma correta.”
Van Hoorn ilustra sua opinião com um release ao qual teve acesso há algumas semanas, sobre o projeto de um edifício “à prova de Covid”. “Achei interessante a chamada, mas quando me aprofundei nas soluções apresentadas, mais me pareceu um marketing para produtos existentes sendo reposicionados para ter algum apelo anti-Covid e, pior, sem nenhuma menção à ventilação ou QAI nas áreas comuns. Por exemplo, mostrou o uso de torneiras sem toque. A torneira sem toque é uma possibilidade a menos de ter contato com o vírus, mas, do ponto de vista prático, quantas vezes por dia você toca numa torneira? E quantas vezes por minuto você inala e exala ar?”
O diretor da Multivac explica que a chance de uma pessoa se contaminar pelo ar depende da da concentração de gotículas com vírus no ar e o tempo de exposição a elas. Mais tempo num ambiente com concentração alta de vírus no ar aumenta as chances de se contaminar e/ou adoecer, segundo ele. “Logo no início da pandemia recebi um filminho do professor Mariani (Antonio Luís Campos Mariani, professor da POLI-USP) de uma pesquisa japonesa sobre as gotículas e aerossóis num ambiente fechado com pessoas e os efeitos de ventilação sobre a concentração e distribuição destas gotículas no ambiente. É impressionante se ver a diferença de como a quantidade de gotículas se reduz se tiver uma ventilação cruzada. Baseado nisso, respondendo à pergunta sobre o papel da ventilação de renovar o ar e criar um fluxo de ar, a quantidade de vírus no ar se reduz e, consequentemente, a chance de alguém se contaminar se reduz também.”
Confrontado com a pergunta sobre a necessidade de mitigar a pegada de carbono através da redução do consumo energético, van Hoorn responde que sempre há uma evolução das soluções. “Meu pai sempre falava uma coisa que eu acredito que se aplica bem neste contexto. Primeiro faz a coisa certa, depois faça do jeito correto. Neste caso, o primeiro problema a ser resolvido é a proteção da a saúde das pessoas e a redução das chances de se contaminar, usando e abusando da ventilação (fazendo a coisa certa). Agora que já aprendemos mais sobre o assunto, já temos pistas do que funciona e do que não funciona, podemos começar a pensar em como fazer isso de forma mais correta e tentar reduzir os efeitos colaterais. No caso de aumento de consumo de energia existem soluções diversas que dependem do contexto, mas se pode pensar em sistemas mais sofisticados com controle e medidores de nível de CO2, ou criar um sistema que recirculação do ar usando filtros capazes de reter os vírus (reduz a energia térmica, mas precisa de ventiladores mais potentes).”
“Já antes mesmo da pandemia, na Multivac enxergamos que existem muitas instalações de ar-condicionado do tipo split sem renovação de ar, sendo que de acordo com as normas isso é obrigatório. Para estes casos desenvolvemos duas linhas de ventiladores, a CFM e CVM, já com as gavetas de filtros para tratar o ar fornecido ao ambiente. No momento também estamos desenvolvendo uma solução usando um motor eletrônico com um sistema de sensores (CO2 e diferença de pressão) e controle acoplado que visa uma renovação de ar adequada com uma eficiência energética maior e que avisa quando os filtros precisarem ser substituídos.”
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