Há tempos os especialistas em qualidade do ar interno vêm alertando para a necessidade da renovação do ar, mesmo em se tratando de sistemas split. A aspiração ao conforto térmico, aliada à queda de preços, favoreceu a ampla disseminação desse tipo de equipamento. Consultórios dentários, lojas de conveniência, salões de beleza e até salas de aulas contam atualmente com algum recurso de climatização. O problema é que raramente são observadas as mínimas recomendações para a preservação da saúde dos usuários.
O crescimento ampliou, como consequência, a demanda por mão de obra de instalação. Há alguns anos restrito a empresas constituídas, o mercado instalador abriu-se para milhares de profissionais autônomos. Os fabricantes de equipamentos, as instituições de ensino, como o Senai, e associações de classe, como a Abrava, buscam oferecer formação a essa mão de obra. Entretanto, dado o grande volume de pessoas em busca de oportunidades neste mercado sempre em expansão, o esforço não consegue acompanhar a demanda. Some-se a isso um investimento mínimo a ser realizado pelo aspirante a instalador que pretende oferecer um trabalho honesto.
Consequência do conjunto de fatores expostos acima, temos instalações de qualidade sofrível, beirando a precariedade. No que diz respeito à renovação do ar, a insuficiência de recursos e soluções, que oferecem riscos aos ocupantes, transformou-se, com a pandemia da covid-19, em verdadeiro crime. Como, portanto, manter a qualidade do ar interior em ambientes climatizados por sistemas split ou mini split?
O diretor de produtos para a América Latina da Trane, André Peixoto, explica que os sistemas de ar-condicionado com sistemas mini split não possuem entrada para captação de ar externo. “Este tipo de renovação de ar é possível em alguns fabricantes para a linha comercial leve. Atualmente, todas as linhas piso-teto inverter, cassete inverter e tipo duto inverter da Trane possuem entrada para tomada de ar externo. Já nos casos de sistemas com mini split é recomendado ter-se sistemas em paralelo para garantir a renovação de ar.”
Peixoto evidencia outro ponto. “É importante ressaltar que equipamentos splits geralmente possuem filtragem mais simples, em geral classe G1. Portanto, para controle da concentração de particulado no ambiente interno, é fundamental que o sistema de renovação possua um filtro fino, de preferência um F8 ou F9 para que, através da diluição com ar limpo, possamos atingir menores concentrações de particulados, em especial o PM2,5.”
“Outro ponto relevante é a umidade do ar, e aqui a recomendação é que se faça, ao menos, um monitoramento desta umidade no ambiente interno para verificar se está fora da faixa de 40% a 60% de umidade relativa de forma consistente. Se for o caso, deve ser considerado algum tipo de controle no sistema de renovação de ar ou dispositivos próprios para controle de umidade”, diz o executivo da Trane.
Willian Meise, engenheiro de aplicação da Johnson Controls Hitachi, chama a atenção para a necessidade da manutenção periódica que não tem apenas o objetivo de manter a boa qualidade de funcionamento dos equipamentos de ar-condicionado, mas também de prover a boa atuação dos dispositivos elétricos e mecânicos do sistema. “Uma manutenção adequada pode garantir uma boa qualidade do ar interior. Para realizar uma manutenção de qualidade, devem ser seguidas as recomendações do fabricante de cada equipamento, incluindo as devidas periodicidades de verificação, seguir as recomendações das normas ABNT NBR 13971 e ABNT NBR 14679, e obedecer à portaria GM/MS nº 3523 (PMOC).”
Sistema paralelo de renovação do ar
Em relação ao tratamento do ar, o engenheiro de aplicação da JCH lembra que os equipamentos do tipo split, devido as suas dimensões compactas, não oferecem dispositivos com um grau para filtragem maior do que o utilizado pelos diversos fabricantes. “De acordo com a ABNT 16401, a distribuição do ar externo ao ambiente deve possuir um filtro de ar instalado no duto. Para cada tipo de ambiente interno existe uma recomendação quanto ao grau de filtragem. Para ambientes que possuem split, a renovação deve ser feita por meio de ventilação mecânica ou diretamente no condicionador de ar, se ele permitir. Com o intuito de reduzir a carga térmica proveniente do ar externo a ser insuflado no ambiente, é possível fazer o uso de intercambiadores de calor que aproveitam uma parcela do ar de retorno para fazer a troca térmica com o ar exterior sem que haja a mistura dos dois fluídos”, informa.
Meise lembra, também, que a filtragem tem por objetivo contribuir para reduzir a concentração de poluentes no ambiente a níveis aceitáveis. “De acordo com a ABNT 16401, os equipamentos que possuem capacidade inferior a 10kW (31.129,7 BTU/h) não se enquadram dentro das filtragens estipuladas pela norma. Os equipamentos do tipo split no mercado já possuem uma filtragem com classificação G1. É necessária a conscientização dos clientes que utilizam este tipo de equipamento para que exista um sistema adequado de renovação de ar seguindo as premissas das normas vigentes quanto a taxa de vazão e as filtragens adequadas a cada tipo de ambiente.”
Mas, além destas recomendações, dada a atual pandemia e a possibilidade de ocorrências viróticas cada vez mais frequentes, outras devem ser observadas para a boa circulação do ar insuflado. “Sempre devemos observar as distâncias de instalação recomendadas nos manuais do fabricante de forma a permitir a captação e desguarda do ar de condensação. A não utilização das distâncias recomendadas poderá comprometer o rendimento do produto ou até mesmo impossibilitar seu funcionamento”, alerta Peixoto em relação à instalação da unidade externa.
Para as unidades evaporadoras, a regra é a mesma. “Deve-se respeitar as distâncias recomendadas nos manuais de instalação, além de manter o retorno de ar e insuflamento de ar sem nada que obstrua os pontos de captação e insuflamento”, diz ele.
Meise, da JCH, explica que muitos problemas de qualidade do ar interior são provenientes de má instalação das unidades externa e interna. Por isso, além de seguir as recomendações de cada fabricante, mantendo as distâncias mínimas entre condensadoras para a manutenção, o local deve ser adequado e contar com boa ventilação para que não aconteça curto-circuito, resultando em baixa eficiência térmica e reduzindo a vida útil do equipamento. Em relação às evaporadoras, ele diz que “as principais premissas são a altura em relação ao piso e a distância de alcance do ar das evaporadoras. Caso a distância de alcance seja inferior ao que é necessário no ambiente, o correto é dimensionar uma quantidade maior de condicionadores de ar que atendam toda a área a ser climatizada.”
Capacidade e diâmetro das tubulações
“O técnico instalador deve se atentar à informação de cada fabricante. Por não existir uma relação confiável entre capacidade e diâmetro de tubulação, embora muitas vezes a intuição e experiência ajudem o técnico, sempre vale a pena consultar o manual do equipamento a ser instalado. Sabemos que as pressões do R-410a são maiores que as do R-22. Por isso, além de atentar sobre qual tubulação deve ser utilizada, devemos também verificar qual parede de tubo será utilizada; via de regra para o R-410 as tubulações acima de 3/4‘’ devem utilizar tubulação rígida de parede 1/16””, explica Peixoto.
“Os diâmetros das tubulações são calculados em função do volume de refrigerante e pressão de trabalho para cada capacidade de equipamento. É considerada a distância de tubulações através do comprimento equivalente para manter um bom retorno de óleo, evitando problemas de lubrificação nos componentes mecânicos do circuito frigorígeno”, completa Meise.
Da redação