A pandemia da Covid-19 tem sido um assunto é bastante dinâmico, a cada semana aparecem novas informações sobre o comportamento do vírus. O aparecimento das vacinas mudou muito o cenário de mortalidade criado pela pandemia, o que é bastante positivo.
No tocante à transmissão do vírus em ambientes interiores já se conhece a importância indiscutível da ventilação adequada para inibir a transmissão do vírus, embora a má ventilação não seja o único fator contribuinte.
Ao longo desses dois anos de pandemia observou-se que, independentemente da variante do vírus predominante, as recomendações preconizadas pela área de QAI são bastante eficientes na mitigação da disseminação do vírus, de maneira análoga ao que tem sido na mitigação de concentração de outros vírus e particulados em geral. Dessa forma, os cenários conhecidos de boa utilização do sistema de ar-condicionado permanecem válidos em presença da pandemia de Covid-19.
As recomendações do QAI estão baseadas nas legislações e normas vigentes, que são de amplo conhecimento de nossa comunidade do AVAC. Cabe comentar a recente criação, em 2021, do Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno (PNQAI), que é uma proposta de organização da sociedade civil para a conscientização da população sobre a importância do tema.
De forma mais objetiva, podemos dizer que os futuros projetos de AVAC definitivamente deverão incorporar o atendimento integral à estas legislações e normas vigentes, de maneira especial por parte dos proprietários das instalações. Infelizmente ainda se observa, notadamente por razões de ordem econômica, uma resistência à adesão a estas recomendações.
Em relação à filtragem do ar, é importante lembrar que cada ambiente requer o seu nível de filtragem apropriado para garantia de segurança de seus ocupantes, conforme preconizado pela ABNT NBR16401-3, por meio de ventilação mecânica e captação de ar externo, sendo que a velocidade do ar no filtro não deve ser excessiva para que se alcance filtragem adequada.
Até o momento os estudos em curso não chegaram a uma conclusão sobre a necessidade de se rever os sistemas de filtragem atualmente empregados. Considerando que as avaliações estão em curso e que o assunto é novo, pode haver mudança dessa posição no futuro.
Da mesma forma, para as taxas de renovação do ar, a ABNT NBR 16401 aborda de maneira bastante ampla a questão da renovação de ar dos ambientes interiores. Da mesma forma que na questão da filtração de ar, até o momento os estudos em curso não chegaram a uma conclusão sobre a necessidade de se rever os critérios de definição das taxas de renovação de ar atualmente empregados. Considerando que as avaliações estão em curso e que o assunto é novo, pode haver mudança dessa posição no futuro.
Cabe comentar que é de senso comum que o aumento das taxas de renovação de ar pode reduzir o risco de contaminação, por aumentarem a diluição de contaminantes nos ambientes. Sabendo-se que existe uma relação direta entre taxas de renovação do ar e dispêndio energético, a busca pela eficiência energética é uma constante nos dias de hoje, em todas as áreas da atividade humana. Na área de ar-condicionado e ventilação, não é diferente. Atualmente estamos coordenando o grupo de trabalho GT-13 da SBCC (Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação), que está traduzindo a norma ISO 14644-16 que trata da eficiência energética de salas limpas e controladas.
Ampliando o tema, quero citar aqui uma informação recém-publicada em um artigo pelo nosso colega Engº Paulo Reis, presidente do DNAE – Automação e Elétrica da Abrava: “Solução Eficaz – definição pelas novas diretrizes, orientações e padronizações no AVAC-R, difundidas pela ASHRAE e pela REHVA, com base nos conhecimentos já adquiridos sobre a Covid-19, estabelecem que todo sistema de climatização de ambientes interiores deve necessariamente possuir uma solução na disciplina de automação e elétrica em que a curva de eficiência energética e qualidade do ar interior garanta o máximo ponto de convergência possível, isto é, eficaz.”
Embora sempre tenha sido um tema de extrema importância para os ocupantes de ambientes interiores, certamente a QAI ganhou importância devido à pandemia de Covid-19. Notadamente, os ocupantes dos ambientes interiores estão mais atentos ao assunto, o que obriga que os responsáveis pela operação e manutenção das instalações de AVAC busquem conhecer como suas instalações operam para corrigir os eventuais desvios.
Temas que aparentemente não mais sensibilizavam alguns operadores de edifícios corporativos e outros de grande ocupação (por exemplo, centros de compras, hipermercados etc.), voltaram a ganhar importância, tais como: SED- síndrome do edifício doente, queda de produtividade dos ocupantes, absenteísmo etc. Este foco de atenção na Qualidade do Ar Interior vai gerar novas demandas relacionadas ao atendimento das normas vigentes e das boas práticas de engenharia relacionadas à renovação do ar, eficácia de ventilação e filtragem. Novas demandas em tempos de poucos recursos requerem estudo e criatividade na busca de soluções eficientes. O retrocomissionamento de instalações existentes é uma das ferramentas que poderão ser utilizadas na busca de soluções eficazes com custos reduzidos. As boas práticas de engenharia buscarão as soluções mais eficazes com os menores custos de implantação e de operação.