Na rota para a substituição dos refrigerantes atuais, é possível incluir o NH3 com excelentes resultados e segurança

A discussão sobre a descarbonização do AVAC-R tem na substituição dos atuais fluidos refrigerantes um dos seus pontos fulcrais.Além dos impactos diretos na emissão de gases de efeito estufa, encontra-se envolvida a questão energética. Um refrigerante pode ser de baixo impacto ambiental, no que tange às emissões, mas não alcançar a melhor eficiência energética, tornando nulo o efeito pretendido.

Por outro lado, há que se levar em conta fatores relacionados à segurança das instalações quanto à pressão, toxicidade e inflamabilidade das diversas alternativas. Por isso, a escolha nunca pode ser amparada em um ou dois argumentos apenas. É necessário realizar uma análise a cada caso e buscar a melhor alternativa que contemple os vários aspectos. A princípio, todos os fluidos naturais ou misturas, como os HFOs, encontram seu lugar. Aqui, avaliaremos a viabilidade da amônia aplicada a instalações de refrigeração comercial.

É possível utilizá-la nesse tipo de aplicação? “Sim, é possível”, afirma o gerente industrial da Eletrofrio, Rogério Marson Rodrigues,“inclusive temos, pelos menos, 25 supermercados no Brasil utilizando a amônia como fluido refrigerante primário, resfriando fluidos secundários para atendimento de expositores e câmaras frigoríficas, tanto para média (resfriados) como baixa temperaturas (congelados). Os fluidos secundários aplicados nestes casos são o propileno glicol (30%) e o acetato de potássio (80%), para os sistemas de resfriados e congelados, respectivamente, ou o etanol (25% / 55%) em ambos os sistemas.Ainda na refrigeração comercial, mais especificamente em centrais de distribuição ou centrais de processamento de alimentos, a amônia também está presente, sempre no conceito de fluido primário proporcionando o resfriamento de um fluido secundário.”

Luciano Costa, engenheiro de vendas técnicas na Güntner do Brasil, corrobora.“A grande vantagem na aplicação de amônia está na eficiência energética do sistema, pois possui melhores propriedades termodinâmicas, além de ser um sistema muito mais robusto, com baixa manutenção, confiável e seguro, pois o nível de exigência de segurança em um sistema de amônia é muito maior.”

Para o engenheiro da Güntner a amônia presta-se melhor em aplicações e instalações de médio e grande porte, tanto para regimes de alta quanto baixa temperatura. Em instalações pequenas o investimento inicial é ainda muito alto. Quanto à escolha do fluido secundário, segundo ele, “dependerá basicamente da temperatura de evaporação da amônia e das temperaturas de trabalho do fluido secundário. Com o adequado controle, pode-se utilizar água quando necessário temperaturas positivas, glicol em solução aquosa em temperaturas positivas e negativas em uma evaporação até em torno de -20°C, além do CO2 e soluções de etanol, mais indicadas para aplicações abaixo de -20°C de evaporação. Entretando, existem diversas alternativas de fluídos secundários além destes, que são um pouco menos utilizados.”

O maior problema da amônia é a alta toxicidade. O que não chega a representar um grande problema, na visão de Marson. “O respeito às normas e procedimento de solda são fundamentais para a garantia da estanqueidade do sistema de refrigeração.”

A opinião é compartilhada por Costa, que ressalta a necessidade de respeito às normas.“Primeiramente a construção do sistema em acordo com as normas vigentes, utilizando equipamentos e materiais que atendam aos critérios especificados, com os procedimentos adequado de soldagem, limpeza, testes e afins. Na sequência, mas não menos importante, prever um sistema de segurança em acordo às recomendações do IIAR.”

Por outro lado, é mandatório o respeito aos materiais específicos exigidos em uma instalação do tipo. “A aplicação de amônia em sistemas de refrigeração exige componentes específicos para este fluido refrigerante, os quais devem respeitar as características do fluido, evitando reações com metais que possam resultar em vazamentos indesejados”, alerta Marson.

A interpretação de Costa, da Güntner não é diferente. “As mudanças são bem significativas, a iniciar pelo material, pois para halogenados, a grande maioria dos componentes são fabricados em ligas de cobre. A amônia não é quimicamente compatível com estes materiais, então suas válvulas são tipicamente de ferro fundido, aço fundido ou inox. A faixa de trabalho dos sensores é diferente devido às pressões de trabalho serem também.”

E para quem acha que esse tipo de instalação é raro, os exemplos, se não são tão numerosos, ao menos servem para atestar sua viabilidade. “Existem duas redes de supermercados, uma no Rio Grande do Sul e outra no Rio de Janeiro que utilizam, em parte de suas lojas, a amônia como fluido refrigerante primário”, informa Marson.

“Temos diversos cases de sucesso em aplicações com amônia e amônia mais fluido secundário. No Brasil temos clientes no segmento da proteína animal e frigoríficos de médio porte, utilizando amônia como fluido primário e glicol como fluido secundário, otimizando suas instalações em áreas onde se exige baixa carga de amônia e mantendo eficiência na performance térmica e energética. Temos ainda, grandes clientes no segmento de operação logística, centros de distribuição e indústria alimentícia com sistemas em operação e obtendo excelentes resultados com melhor payback e consumo energético, utilizando fluidos mais sustentáveis com amônia no primário, glicol e CO2 no secundário. E há uma maior presença dessas soluções também em redes supermercadistas que buscam por alternativas de menor impacto ambiental, com mais tecnologia na casa de máquinas, componentes mais seguros e que facilitam a manutenção, além da escolha por trocadores de calor de maior qualidade e confiabilidade”, afirma Débora Faili, gerente comercial divisão AVAC-R na Güntner do Brasil.

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