Trata-se de um conjunto de atividades de característica contínua, que visa manter as boas condições de funcionamento de determinado equipamento ou processo

A Lei Federal 13.589/2018 regulamentou a obrigatoriedade do Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) em todos os espaços públicos com ocupação humana. Através da Lei o poder público buscou estabelecer bases mínimas para a qualidade do ar em ambientes interiores objetivando preservar a saúde e o bem-estar de seus ocupantes.

No entanto, há quem defendaum entendimento mais amplo na aplicação do PMOC, visando ativos ou processos.“Como o próprio processo se denomina, PMOC é um Plano de Manutenção, Operação e Controle. Desta forma, é um conjunto de atividades, de característica contínua, que visa manter as boas condições de funcionamento daquele equipamento ou processo. Se aplica tanto para climatização, quanto para refrigeração comercial, industrial etc. Entretanto, no caso de ambientes de uso público e coletivo, a sociedade brasileira já conta com Leis e Normas que exigem cuidados com essas atividades, a fim de manter estes espaços seguros do ponto de vista sanitário e ambiental”, afirma o especialista Arnaldo Lopes Parra, diretor da Pósitron, diretor de relações associativas e institucionais da Abrava e membro do Conselho Editorial da revista Abrava + Climatização & Refrigeração.

“Já para espaços de somente refrigeração comercial, como por exemplo balcões ou câmaras frigorificadas, de modo geral não existe ocupação humana contínua.O fato de não existir ocupação humana permanente, não significa que estes espaços podem receber menos atenção por parte da manutenção, tanto para aspectos sanitários (estoque de alimentos), quanto para manter os parâmetros estabelecidos em Normas Técnicas (temperaturas para resfriados, congelados etc.). Também vale lembrar que câmaras resfriadas, onde existe ocupação humana (no caso câmara fria de preparo e corte de carne, por exemplo), devem seguir as orientações sanitárias, as Normas ABNT sobre o assunto, as NRs da CLT e incluir o PMOC”, completa Parra.

O mesmo alerta faz Rogério Marson Rodrigues, gerente industrial da Eletrofrio. “A refrigeração comercial possui setores de manipulação de alimentos com grande circulação de pessoas e presença de trabalhadores por longos períodos, cuja qualidade do ar interno é tão importante quanto em sistemas de ar-condicionado, o qual já recebe atenção específica de ações de PMOC. Nestes setores da refrigeração, a atenção deveria ser a mesma.”

Também Anderson Oliveira, gerente de vendas e distribuição da Sanhua, entende que o conceito pode ser um pouco mais expandido.“A adesão do PMOC na refrigeração comercial é muito positiva, uma vez que as manutenções preventivas devem seguir alguns critérios pré-estabelecidos por fabricantes de componentes e equipamentos de forma geral. Assim como é previsto a análise da qualidade do óleo de um compressor semi-hermético, o PMOC aplicado em refrigeração comercial pode auxiliar, por exemplo, na análise de desbalanceamento de rede elétrica que, quando fora dos padrões, ocasiona um superaquecimento do motor elétrico do compressor, reduzindo sua vida útil. Consequentemente aumentando o custo operacional.”

“Por se tratar de um ambiente de uso público e coletivo, ou seja, um ambiente destinado às atividades de natureza comercial, os supermercados devem implementar e manter o PMOC (Plano de Manutenção, Operação e Controle) do sistema de climatização, previsto pela Lei Federal 13.589/2018. Um dos principais objetivos do PMOC é assegurar a qualidade do ar interno para os ocupantes. Apesar da Lei Federal ter apenas 5 anos, o PMOC não é novidade, e existe desde 1998 através da Portaria 3.523 estabelecida pelo Ministro da Saúde, José Serra. Esta portaria determina um regulamento técnico com medidas básicas referente aos procedimentos de manutenção, assim como solicita a determinação de procedimento e parâmetros para análise de qualidade do ar, disposto posteriormente através da Resolução-RE Nº 09/2003”, explica Ana Carolina Rodrigues, engenheira de aplicação e vendas sênior para a América Latina da Copeland.

O que precisa ser controlado

Ao falarmos numa ampliação da aplicação dos conceitos que embasam a construção do PMOC, iremos nos deparar com realidades bem mais complexas. “O PMOC para a refrigeração comercial pode diferir de acordo com as características do processo a que se destina. Refrigeração de produtos embalados hermeticamente tem aplicação diferente de refrigeração de produtos in natura ou semiprocessados. Assim, geralmente se controlam as seguintes grandezas: temperatura do espaço refrigerado, temperatura do produto, umidade relativa econtaminantes presentes. Para ambientes de preparo de alimentos, onde se requer refrigeração e existe presença de trabalhadores em forma contínua, por exemplo, também existe preocupação com o índice de CO2 e outros.Para itens físicos para controle, os operadores e mantenedores concentram atenção nas características de consumo energético, medindo e controlando corrente, tensão, frequência, potência consumida, dentre outras”, avança Parra.

Já Oliveira, da Sanhua, inclui a troca de óleo, atuadores, sensores, transdutores, desbalanceamento elétrico, delta de temperatura interna e/ou do processo, qualidade da água de condensação e resfriamento, periodicidade entre as intervenções preditivas, preventivas, corretivas, sistemas de segurança, dentre outros itens a serem controlados.

A manutenção de parâmetros como temperatura e umidade de câmaras e balcões, visando a durabilidade e qualidade dos alimentos, é uma questão crucial na manutenção de sistemas de refrigeração. Assim, faz todo o sentido buscar assimilar as ferramentas que dão vida ao PMOC num ambiente com tais características.“Um PMOC bem idealizado pode determinar procedimentos de trabalho os quais orientarão as atividades de manutenção e permitirão o acompanhamento da gestão, responsáveis por manter a qualidade do frio alimentar”, entende Marson, da Eletrofrio.

“A medição e o controle de temperatura e umidade para espaços refrigerados é de grande importância para manter a máxima eficiência energética do processo, permitindo a melhor performance e menor consumo de energia possível. Podemos, assim, entender que quanto mais preciso for o controle, melhor será a performance do equipamento e melhor relação de consumo de energia. O PMOC neste caso irá constituir uma ferramenta útil, pois através de procedimentos planejados de coleta e análise de parâmetros, permitirá antever e programar ações para manter o processo dentro de seus parâmetros, otimizando o uso e diminuindo custos. Curvas de tendência de consumo ou mesmo corrente elétrica diretamente, podem servir de alerta para intervenções preventivas e corretivas”, completa Parra.

A mesma defesa faz Oliveira. “O PMOC direcionado aos controles de umidade e temperatura contribui positivamente, uma vez que para cada tipo de produto ou alimento, sempre haverá uma range pré-estabelecido pelo fabricante (produto / equipamento) que alertará quanto às consequências oriundas da não observância desses tópicos. Um bom exemplo é a temperatura e umidade no armazenamento da carne, no qual fica muito visível, na sua coloração e textura, quando armazenada de forma incorreta. Outro exemplo é o sorvete. Quando acondicionado em temperatura fora do range indicado pelo fabricante, ou na tentativa de o “recongelar”, o sorvete pode se tornar cristalino, perder sua textura e consequentemente haverá alteração do sabor.”

Mas qual seria o caminho para o estabelecimento de um plano de manutenção, operação e controle visando as instalações de refrigeração em um supermercado? “Como as disciplinas de ar-condicionado e refrigeração possuem similaridades técnicas, as equipes de manutenção são quase sempre as mesmas dentro de um supermercado, o que possibilita a elaboração de um PMOC direcionado às áreas climatizadas de alta, média e baixa temperatura”, pontua Marson.

“O PMOC é uma ferramenta poderosa, e sua elaboração requer profissionais habilitados, com profundos conhecimentos na área, além de imprescindível experiência.A avaliação do estado dos equipamentos, observação das condições de registro e controle das grandezas físicas, elétricas e ambientais são fatores decisivos para o bom desempenho dos processos. As características dos espaços refrigerados, seu uso e acesso, layout de câmaras e corredores, também constitui diferença para a eficiência energética”, alerta Parra.

Para Oliveira, a indicação primária é “sempre seguir os manuais de instalação, manutenção e configuração dos fabricantes. A partir daí, pode-se isolar vários trechos do sistema de refrigeração e climatização e desenvolver o PMOC por blocos de sistemas. Por exemplo: pensando em um sistema Rack, podemos elaborar um bloco dos componentes mecânicos, bloco dos componentes elétricos, bloco do sistema de condensação e bloco do sistema de evaporação e temperatura interna. Uma vez separados por blocos, isolamos os itens principais do bloco a ser analisado e trabalhamos na elaboração da devida manutenção, de acordo com os parâmetros do fabricante daquele item a ser estudado. Nesse exemplo, dividimos um sistema Rack em 04 blocos e cada qual terá um plano de manutenção que pode, ou não, ser dependente um do outro. Diferentemente de equipamentos prontos como sistemas splits, a refrigeração comercial é um sistema concebido pelo projeto e cada projeto tem características intrínsecas; portanto, podemos definir que um PMOC para refrigeração comercial é exclusivo”, concebe ele.

Já em relação aos centros de distribuição, os caminhos seriam outros, embora com similaridades. “Os centros de distribuição de produtos perecíveis, diferentemente dos supermercados, possuem câmaras frigoríficas de grande porte e altas potências instaladas, porém, o conceito de elaboração de um PMOC é similar, guardadas as proporções dos equipamentos instalados”, explica o gerente da Eletrofrio.

“O primeiro passo a ser dado, é que o Responsável Técnico (RT) pelo PMOC atenda aos requisitos mínimos de profundos conhecimentos nas áreas frigorígena, automação e controle, bem como esteja perfeitamente familiarizado com as atividades, as rotinas e procedimentos específicos dos processos envolvidos. Câmaras frigorificadas para medicamentos são atendidas por normas diferentes de câmaras para carne congelada ou produtos hermeticamente embalados. O estudo do layout, com projeto bem definido quanto ao equipamento a ser empregado, e o tipo de controle e automação, irá permitir que o RT selecione as rotinas específicas, bem como determinar suas periodicidades e demais detalhes.As rotinas de manutenção têm como base a norma ABNT NBR 13.971 – Manutenção Programada para Sistemas de Refrigeração, Ventilação e Ar Condicionado”, finaliza Parra.

Arnaldo Parra

Veja também:

Implementação de um PMOC

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