Patrice Tosi fala no parlamento italiano

Brasil possui o maior contingente mundial de descendentes italianos; representando-os, uma comissão de mulheres esteve na Itália ouvindo e fazendo-se ouvir

Patrice Tosi, diretora das indústrias Tosi, vice-presidente do Sindratar SP e integrante do Conselho Superior Feminino da Fiesp (Confem) tem motivos para comemorar.Em agosto a família comemora os 70 anos da sua presença na indústria da refrigeração e ar-condicionado, contados a partir da criação da lendária Coldex pelo pai, José Daniel Tosi, e pelo tio, Mario Latery. Como parte das comemorações, o Grupo de empresas inaugura mais uma fábrica, em modernas instalações que contarão com um anfiteatro e museu. Outras são aguardados.

Patrice Tosi e Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália

Patrice acaba de retornar de uma jornada na Itália, país de onde partiram seus bisavós para “fazer a América”. Convidada pela Fiesp e pelo Ministério da Indústria italiano para apresentar as histórias daqueles que, fugindo das dificuldades várias, ajudaram a construir o país enquanto nação. Mas, principalmente, falar sobre a luta cotidiana das mulheres pelo seu lugar no mundo profissional e na sociedade. Além de discorrer sobre a estratégia de marketing da Tosi na pandemia.

“Foi uma grata surpresa, porque, de repente,você começa a ver que tem pessoas que querem te ouvir, que querem ouvir o que você tem para falar, ou a sua história, e conseguir ajudar. Tenho participado do trabalho voluntário no grupo, fazendo mentorias para mulheres empreendedoras. E, neste processo recebi o convite da presidenta do Confem, Marta Lívia Suplicy para essa atividade que envolveu, também a Virada Feminina”, esclarece Patrice.

O ministério da indústria italiano está nas mãos de uma mulher. Partiu dela o convite a seis mulheres brasileiras, com descendência italiana, para falar sobre a vida dos imigrantes, suas dificuldades e contribuições para o país que os recebeu. Vale notar que a imigração italiana tem 150 anos no Brasil.

A Virada Feminina, foi para que as participantes falassem sobre empreendedorismo feminino, dando voz às mulheres, tanto do Brasil, quanto da Itáliae de todo o mundo.Foram abordados, também, as várias violências sofridas pelas mulheres, incluindo feminicídio e abuso em geral, dentro das empresas e na sociedade. “Meu tópico era empreendedorismo feminino e marketing em tempo de crise. “Você sabe como ninguém, você faz parte desse nosso meio, você sabe como ninguém, a importância que é, numa época de crise, você botar a cara, e era o que eles queriam ouvir”, conta a executiva e empreendedora.

Delegação brasileira

Durante a recuperação judicial, à qual a empresa esteve submetida por cerca de quatro anos, e durante a pandemia, Patrice, na condição de diretora de marketing da empresa, realizava lives desde as linhas de produção, mostrando os equipamentos que saiam para abastecer hospitais, eletrocentros e demais atividades industriais. Para isso, eram chamados técnicos das linhas de produção e da engenharia da empresa para falarem sobre as características e aplicações dos produtos.Esse trabalho, cujo objetivo era mostrar que a empresa estava viva e atuante, chegou até a Fiesp, gerando o convite para que a experiência fosse reproduzida na Itália.

A iniciativa da diretora de marketing das indústrias Tosi visava, em primeiro lugar, lembrar, frente à contrainformação de concorrentes, que a empresa longe de estar derrotada pelas adversidades impostas por uma situação originada na própria crise política e econômica atravessada pelo país entre 2014 e 2018 e, depois, pela pandemia, estava viva e atuante. Pelas lives, projetistas, instaladores e clientes finais podiam perceber que produtos saiam das linhas de produção e novos equipamentos eram gestados na engenharia do grupo.Por outro lado, visando elevar o patamar da qualidade da mão de obra, Patrice criou a primeira plataforma de Ensino à Distância (EAD) sobre água gelada da indústria nacional que, atualmente, conta com cerca de 8.000 beneficiados.

Agenda exaustiva

O primeiro evento foi na embaixada brasileira em Roma, promovido pela Fiesp. Estavam presentes cerca de 100empreendedoras.Eram brasileiras e italianasque estão empreendendo e querendo ouvir as seis mulheres convidadas, cada uma falando da sua experiência. Isso envolveu uma reunião com o embaixador para troca de experiências. Em seguida, houve uma audiência no Parlamento com seis deputadas. Ali, Patrice diz ter compreendido a importância da Lei Maria da Penha, “a terceira lei mais importante do mundo em benefício da mulher”.

“Tudo o que acontece aqui ainda,todo esse feminicídio, todo esse machismo enraizado no Brasil, é, também, muito enraizado na Itália.Coisa que a gente não sabe, acha que no país europeu não existe. Na Itália é maior do que na Espanha, nos outros países da Europa não é tão forte assim, os números são bem menores. E as deputadas conversaram com a gente, teve uma fala no Parlamento,onde foi sobre o problema da violência contra a mulher, todos os tipos de violência, estamos falando de todos os tipos, desde o salário,o feminicídio, o abuso; desde o homem na Itália que, quando casa com a brasileira, não deixa ela aprender a língua, para exclui-la um pouco da sociedade”, narra ela.

“Tem muita coisa que acontecee a gente não sabe, mas acontece pelo mundo inteiro. Eles estão fazendo isso pelos vários países do mundo até para a gente poder entender e levar o que o Brasil está fazendo. O Brasil está fazendo coisaslegisl, é horrível o que acontece aqui, mas a gente ainda está mais evoluído que muitos países, coisas que a gente não sabe”, continua.

Essa foi a discussão em Roma, reproduzida em Milão, em que o empreendedorismo industrial é mais desenvolvido. “A Itália do Sul é mais conservadora, é mais raiz, e a do Norte é mais ligada à Europa. É tem onde tem as indústrias. É muito legal, porque a gente pode levar para as duas Itálias o que a gente está fazendo aqui e, principalmente, falar sobre empreendedorismo. Porque do Norte da Itália ele é bem maior do que do Sul da Itália, onde ele é mais parecido com o nosso empreendedorismo, que é o da mulher que não tem trabalho, que faz uma coisa pequena e vai embora. No Norte da Itália, já tem muita indústria, muitas universidades”, explica.

Patrice diz que se sentiu honrada de levar a história da família, “que saiu de lá passando fome e veio e lutou. E, depois, o papai conseguiu sair disso tudo, da família, do interior, e montar a empresa. Eles ficaram muito orgulhosos.”

Ao final as participantes receberam uma medalha pela história dos antepassados, que não só contribuíram para o desenvolvimento do país que os recebeu, mas também daquele de origem. “Foi muito bacana o que aconteceu. Fiquei muito orgulhosa.Eu, que nunca fui tão italiana assim, saí super italiana. E a gente tem que valorizar isso. Seja dentro do país, ou seja, de fora; aqui os italianos trouxeram muita arte, todo mundo tinha ofício. Até porque pouca gente sabe que no Brasil, em São Paulo principalmente, durante quase 20 anos se falava mais italiano do que português. Tamanha a quantidade de imigrantes! Então, nós somos essa mescla.”

A delegação convidada pelo ministério italiano da indústria, com intermediação da Fiesp, foi compostaporseis mulheres. A da Virada Feminina, contou com dezoito mulheres.As delegações se entrecruzavam, a da Fiesp estava, também, contida na da Virada. Além de falarem na embaixada e no parlamento, as mulheres foram chamadas a contar suas experiências em vários outros ambientes, como universidades.

Assista à entrevista com Patrice Tosi: aqui

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