Empresa criada por Albert Adolf Dietz já opera com 60% de energia fotovoltaica e deve alcançar a totalidade ainda este ano
James Angelini entrou como estagiário na Apema no dia 24 de maio de 1985, uma sexta-feira. No dia anterior fizera uma entrevista com Werner Dietz, irmão de Albrecht Adolf Dietz e sócio da empresa. Terminada a conversa, foi comunicado que estava aprovada sua contratação. Angelini despediu-se dizendo que na segunda-feira começaria. Ao que o empresário respondeu: “Não, você começa amanhã”.
Angelini e Márcio Veiga, que entrou na empresa também como estagiário em 1987, dividem o controle e a condução do negócio desde os primeiros anos do século. A Apema foi fundada em agosto de 1964 por Albrecht, que chegara da Alemanha 4 anos antes para trabalhar na RádioFrigor. Seu irmão Werner, que viera passar uns dias no Brasil e acabou ficando, logo incorporou-se à sociedade.Albrecht Dietz, falecido em 2015, contava que o nome original – Aparelhos, Peças e Máquinas (Apema) -, foi escolhido em função da orientação que dava à empresa, voltada para a produção de equipamentos especiais, o que se mantém até hoje, mas também para ocupar uma posição privilegiada nas Listas Telefônicas, então o principal canal de publicidade da época.
Inicialmente o negócio ocupava um pequeno espaçoem uma fábrica de flanges de conterrâneos dos irmãos. Em seguida, alugaram um galpão de 250 m2próximo à Ponte João Dias, no Bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Cedo as encomendas começaram a chegar de segmentos como usinas hidrelétricas e Petrobras. Em 1968 a Apema iniciou um processo de especialização em trocadores de calor, mercado no qual até hoje é extremamente reconhecida pela qualidade, embora mantendo a produção de diversos outros equipamentos.Em 1976 o crescimento da empresa obrigou-a a transferir-se para São Bernardo do Campo, onde se encontra até hoje, numa área construída de 12.000 m2.
Angelini assumiu, em 1984, a gerência de fábrica, enquanto Veiga se responsabilizava pela engenharia. Em 1994 ele assumiria a área comercial. A partir de 2004 Dietz iniciou a transição do comando da empresa. Ele dizia que não queria parentes na empresa, por isso escolheu as duas crias da casa para encabeçarem o negócio, permanecendo no desenvolvimento de novos produtos, sua verdadeira paixão.
Com Angelini na área comercial e Veiga na engenharia, a empresa foi adotando um perfil cada vez mais voltado à produção de trocadores de calor. “Tudo aquilo que a Apema fazia no passado, misturadores, esteiras transportadoras e máquinas especiais, nós fomos tirando fora. Chegavam as consultas, a gente declinava. E fomos nos aperfeiçoando e se preparando para fazer exclusivamente os trocadores de calor.A gente achava, naquela época, que era um mercado muito mais promissor. É um mercado imensurável. Todo tipo de indústria usa esse equipamento”, diz Angelini.
O mercado de máquinas especiais, segundo o diretor da Apema, é muito inusitado. O orçado nem sempre corresponde ao que deve ser entregue. A rentabilidade era pequena, trabalhava-se muito para ganhar pouco, quando não com prejuízo.
Treinamento e especialização
No começo a empresa tinha um consultor para calcular o dimensionamento dos trocadores de calor. Em seguida, foi adquirido o software. A partir daí, Veiga foi treinando outras pessoas e a produção se direcionou cada vez mais para o segmento, com maquinário específico para isso. Pode-se dizer que os atuais controladores mudaram a história da empresa.
Incialmente, eram os radiadores, equipamento até hoje no catálogo da empresa. Em seguida foram desenvolvidos os trocadores casco e tubo e, mais tarde os de microcanal e a placas. Sempre mirando projetos especiais, o aperfeiçoamento foi contínuo visando atender aos diversos segmentos industriais. Os radiadores, muitos usados na indústria de papel e celulose, segmento que por muito tempo capitaneou os negócios da empresa.
Com a privatização da Eletrobras deu-se início a uma reformulação de todas as usinas hidrelétricas.Devido à sua especialização e tecnologias desenvolvidas, a Apema tem atendido ao nicho com radiadores para resfriamento do ar dos geradores hidrelétricos. Esta tem sido, nos últimos dois anos, a parte mais substancial do faturamento da empresa.
“No ramo de trocadores de calor, a Apema fabrica hoje 90% dos possíveis tipos que podem ser feitos.Essa é a vantagem da gente. Temos aquilo que chamamos de standard, que são os produtos de linha, aqueles que os fabricantes de hidráulica compram, e os especiais. Do faturamento, 30% são os de linha, os produtos standard. Os 70% restantes vêm dos especiais, no qual o maior cliente é a área de energia”, explica Angelini.
O empresário ressalta, porém, que isso pode mudar imediatamente, a depender dos rumos da economia. Assim como há algum tempo a área de papel e celulose dominava e hoje é a energia, nada impede que as posições se alterem novamente.
“Nós estamos entrando bastante forte também no óleo e gás.Aindústria de papel e celuloseparou em função da política, com a entradado novo governo.Sempre param com os investimentos, de início. Agora estão retomando, mas não tem mão de obra para fazeras fábricas.Mas o papel e celulose promete esse final de ano ou começo do ano que vem, porque eles têm muitas plantas em andamento”, espera Angelini.
Devido a alta especialização em trocadores de calor e a grande diversidade de segmentos atendidos, a Apema é pouca afetada por crises. Nem mesmo na pandemia da covid-19. Não por outro motivo, também, tem crescido ininterruptamente em torno de 20% ao ano desde que o controle foi assumido pelos atuais gestores.
“Eu acho que tivemos uma visão muito boa de partir para esse mercado de trocadores de calor.Como atendemos vários mercados, é difícil que todosestejam ruins.O papel e celulose teve uma parada, mas a energia estava em alta, assim como o óleo e gás. Às vezes cai a energia, mas o papel celulose volta forte. A gente atende os montadores, os principais montadores, e atende diretamente as diversas plantas.Então, a Apema é conhecida tanto pelos montadores como pelas plantas de produção. A química e petroquímica está parada há muito tempo, hoje apenas com manutenção, não tem mais investimentos grandes nessa área, mas quando tem investimentos nós participamos. É raro a gente estar em crise, com queda no número de propostas”, continua Angelini.
Engenharia é o diferencial
Por outro lado, a grande vantagem da Apema é o fato dela oferecer engenharia. A partirdos dados de operação a empresa projeta e fabrica o equipamento.“No fundo somos uma empresa de engenharia. Esse foi o nosso grande diferencial no mercado.Se a gente tivesse ficado como várias caldeirarias, muitas delas maiores do que a Apema, competindo com gente que vendia por quilo, não teríamos os resultados alcançados”, entende o diretor da Apema.
No mercado de caldeiraria, não raro a precificação é feita pela quantidade de aço utilizada. Algo que, segundo a empresa, isso nunca foi praticado por ela. Pode-se dizer, também, que a empresa cresceu devido às falhas dos concorrentes.
Outro fator tem sustentado o crescimento da Apema: o trabalho dos seus colaboradores, muitos deles com mais de 20 anos de casa. “Você não pega o engenheiro pronto, você precisa prepará-lo. Para isso, precisa dos engenheiros mais velhos, que trazem a experiência. Esses são os nossos reais patrimônios. Se entra aqui alguém de outra área para administrar o negócio, ele não enxerga isso, ele enxerga valor,enxerga salário. Se ele acha que o salário dos nossos engenheiros está alto e que pode contratar gente mais nova pagando menos para cair o custo, é o que ele faz. Só que esse engenheiro não pode fazer o que fazia o anterior. Além de que nem todo engenheiro possui o dom para trabalhar na área.Por isso investimos em capital humano, do contrário a empresa acaba”, explica ele.
Hoje os dois sócios já não atuam tanto na linha de frente. Angelini já não viaja como viajava para o atendimento aos clientes. Da mesma maneira, não é Veiga quem faz os cálculos para o desenvolvimento dos equipamentos. Mas ambos continuam a ter o domínio de tudo o que envolve a empresa e, se necessário for, podem assumir a frente das atividades. Além de passarem firme os conhecimentos adquiridos.
Ampliação e produtividade
Quando chegou a pandemia da covid-19, a Apema estava com bastante trabalho e pouco espaço para a produção. Lembrando que a empresa produz equipamentos que chegam a pesar 70 toneladas. Era necessário não só ampliar a área de galpões, masde instrumentos para a produção, como pontes rolantes, que custam fortunas. Na pandemia, devido ao fechamento de muitos galpões, foi possível à empresa investir em pontes por um quarto do valor original. As novas instalações permitiram uma agilidade bem maior na produção.
“Hoje não dá para conceber a Apema sem essa área. Na verdade, nós ampliamos na frente e nos fundos.Mexemos em layout também para a peça não precisar descer, fizemos várias modificações. Investimos em máquinas novas. Porque se não formos competitivos em todos os aspectos, comoprocesso,pessoal etreinamento, vamos ficando para trás, com o custo aumentando.Adquirimos uma máquina de usinagem que diminuiu o tempo em 40%.Compramos mais uma que está para chegar.Ainda não chegou por causa do problema de transporte na China.E essa máquina é grande, vem em um contêiner especial.Está pronta e parada há quase 3 meses no fabricante.Foi embarcada ontem (17/07) e deve chegar em setembro”, explica Angelini.
Quando confrontada pela necessidade de ampliação, a empresa chegou a estudar a mudança para o interior do estado construindo uma fábrica já dimensionada para os equipamentos que fabrica atualmente. O terreno atual é em desnível, o que dificulta a produção. Mas a posição privilegiada em relação ao escoamento da produção e, principalmente, o acesso a uma mão de obra já desenvolvida, levou à decisão da ampliação da infraestrutura atual.
Ao mesmo tempo, a empresa continua a investir em novas máquinas para ganhar em produtividade. Até porque o mundo ficou pequeno. Hoje, por exemplo, é possível comprar um trocador de calor na China. As empresas já não concorrem entre si apenas dentro do país, concorrem mundialmente.
De olho na formação e aperfeiçoamento da mão de obra, a empresa começa a investir cada vez mais no social. “Temos funcionários aqui que, igual ao próprio James, com 39 anos, muitos com mais de 25 ou 35 anos de empresa. E a gente mostra para o mercado esse cuidado com os colaboradores, valorizando a história que possuem dentro da empresa.”, diz João Pedro Ramos, responsável pela área de marketing da empresa.
Dentre as diversas atividades direcionadas aos colaboradores, está uma biblioteca em processo de criação. Instalada no meio de um dos galpões de produção, ela tem incentivado a leitura e, também, a doação de livros.Os resultados já se fazem notar. Muitas pessoas têm retirado livros para ler em casa. Outros fazem doações. O controle é exercido pelos próprios funcionários.
“Uma empresa como a nossa tem que tratar o funcionário dela como um patrimônio. Você treina uma pessoa durante 10 anos, como é que pode perdê-lo? É um grande investimento feito e que não pode ser perdido”, entende Angelini.
Outra preocupação dos atuais gestores da Apema é com o meio ambiente. O próprio terreno onde está assentada a empresa possui ampla área verde. Atualmente, 60% da energia consumida é gerada por painéis fotovoltaicos. Os 40% restantes serão alcançados nos próximos três meses, uma vez que os painéis necessários para isso já se encontram armazenados no pátio aguardando a instalação.