No último dia 11 de outubro aconteceu o Bate-papo com Entidades Internacionais realizado em São Paulo pela Abrava e pelo Sindratar-SP.Promovido em formato híbrido, o evento contou com as participações de Colin Taylor, gerente sênior para o clima do Clasp (CollaborativeLabeling and Appliance Standards Program, ou Programa Colaborativo de Etiquetagem e Padrões de Eletrodomésticos), e Rodolfo Dourado Maia Gomes, diretor-executivo da International Energy Iniciative (IEI) Brasil. A moderação ficou a cargo da pesquisadora Suely Machado Carvalho, Senior Expert no Painel de Avaliação Tecnológica e Econômica do Protocolo de Montreal, no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, convidada especialmente para a ocasião, feita de forma online.
Arnaldo Basile, presidente executivo da Abrava abriu os trabalhos. Na sequência, os dois palestrantes apresentaram suas respectivas entidades, explicando os objetivos e alcance de cada uma delas. Enquanto a Clasp se dedica a estimular a redução das emissões de carbono, diminuir os custos operacionais e reduzir tanto a demanda quanto o custo da oferta de energia, a IEI, fundada há mais de três décadas, advoga pela transição energética como instrumento para um mundo sustentável.
No Brasil, a Clasp desenvolveu, ao longo dos anos, projetos de etiquetagem para ares-condicionados e refrigeradores, além de apoiar o Inmetro e o Procel para definir os critérios para etiquetagem. A previsão é que em 2025 a organização abra seu primeiro escritório no país.
De acordo com Taylor cerca de 1,7 bilhão de pessoas no mundo não têm refrigerador, enquanto 1,2 bilhão de habitantes não têm acesso a um ventilador ou aparelho de ar-condicionado. “As ondas de calor, provocaram 489 mil mortes por ano, entre 2000 e 2019, em todo o mundo. Por isso, a climatização virou caso de sobrevivência” destacou.
Além de detalhar as operações da IEI Brasil, Dourado trouxe, em sua apresentação, informações sobre a Emenda de Kigali e o Protocolo de Montreal e oportunidades estratégicas para o país e para o setor de AVAC-R.
De acordo com ele, a Emenda exige uma redução progressiva de 80% (CO2 equivalente) nos próximos 30 anos na produção e consumo de 18 HFCs de alto potencial de efeito estufa. “Estimativas sugerem que emissões evitadas até 2100 podem chegar a 420 gigatoneladas de CO2 equivalente, evitando até 0,4ºC até o final do século”, explicou.
Após as apresentações e posicionamentos das entidades convidadasos palestrantes responderam às perguntas do público, presente e online.Entre as questões apresentadas, a preocupação com a climatização de data centers, dado o impacto energético dos sistemas de ar-condicionado nestes ambientes.
Segundo Taylor,a demanda por climatização em data centers é crescente. Por isso, é importante o desenvolvimento de normas e etiquetagens dos equipamentos de resfriamento desses ambientes. Lembrou, também, que a China está preparando a adoção de índices mínimos para data centers, de modo a limitar o consumo de energia desses locais na totalidade. “Talvez no Brasil não seja possível implementar normas mínimas para data centers, mas algo equivalente ao Selo Procel”.
Dourado destacou que a IEI publicou um trabalho sobre data centers no Brasil para o Ministério de Minas e Energia, com apoio da GIZ, entidade alemã especializada em projetos de cooperação técnicos e de desenvolvimento sustentável em escala mundial. Arnaldo Basile complementou a discussão lembrando que a mineração de criptomoedas, que também consome muita energia elétrica, já entrou no radar das entidades.
O gerente-geral do Sindratar-SP, Marcelo Mesquita, questionou o representante do IEI sobre os recursos financeiros necessários para que o CoolingActionPlan, ou Plano de Ação para Resfriamento, da Indonésia e Índia tivessem maior amplitude.O palestrante respondeu que tanto na Indonésia quanto na Índia há recursos nacionais e privados e provenientes de acordos internacionais, como os relativos ao Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal.
O diretor do IEI esclareceu que o Brasil tem oportunidades significativas para acessar recursos financeiros, como o Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal, para projetos de eficiência energética e redução de emissões. A coordenação desses recursos é feita pelo Ministério do Meio Ambiente, com foco no cumprimento das metas da Emenda de Kigali.
“No caso da implementação de um plano nacional eficiente, isto requer colaboração entre vários ministérios, incluindo o do Meio Ambiente, o de Minas e Energia e o do Comércio e Indústria. O Brasil possui uma cadeia produtiva avançada e eficiente, especialmente na fabricação de aparelhos de ar-condicionado, mas enfrenta desafios para exportar produtos devido a barreiras regulatórias e de eficiência”, esclareceu.
Suely Carvalho, lembrou que a Abrava, o setor AVAC-R e a sociedade podem fazer uso dos recursos do fundo multilateral mediante a apresentação de um plano, de acordo com os critérios para a atual fase de melhoria de eficiência energética e transição do uso de fluidos refrigerantes.
Embora existam esforços para melhorar a eficiência energética dos aparelhos eletroeletrônicos,há obstáculos, como a necessidade de atualização das normas de eficiência e o aumento da capacidade administrativa.”Os aparelhos de ar-condicionado produzidos atualmente no Brasil são muito mais eficientes do que os produtos da Índia e Indonésia. Comparativamente, até o momento, a maioria das geladeiras produzidas no Brasil não podem ser exportadas para países da América Latina e África”. frisou Colin.
Perguntado sobre a existência no Brasil, de algum esforço para elevar os níveis mínimos de temperatura para refrigeração de ambientes, que atualmente é de 18ºC, Taylor informou que na Índia há uma política segundo a qual todos os aparelhos de ar-condicionado, quando ligados, automaticamente iniciam sua operação com o termostato em 24ºC.
Arnaldo Basile lembrou que a Abrava, gestora do CB-055, já debateu normas relacionadas que estipulam, para os ambientes, quais são as temperaturas mínimas para inverno e verão, de modo a reduzir o consumo de energia e buscar a melhor eficiência dos equipamentos e sistemas. Principalmente quando se fala em automação.
A introdução de bombas de calor é vista como uma oportunidade significativa para substituir caldeiras a gás, reduzindo, assim, as emissões de gases de efeito estufa.Os palestrantes concordaram que o Brasil tem um setor industrial robusto, mas precisa de um plano de política industrial prioritário que considere a eficiência energética como um elemento central. Isso inclui, também, campanhas educativas e conscientização do consumidor.
O diretor da Clasp acredita que as bombas de calor têm forte potencial para diversas aplicações, especialmente na indústria, podendo ser usadas em caldeiras a gás para gerar vapor a uma temperatura mais alta. “Na China, já há bombas de calor que podem prover vapor até 150ºC”, exemplificou.
“A realização desse bate-papo nos levou a conclusão de que o setor tem condições de elaborar um Plano Nacional de Refrigeração e Climatização de Ambientes e assumir o protagonismo acerca do tema eficiência energética. A importância do Setor AVAC-R na Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, políticas da neoindustrialização e um novo posicionamento político, diplomático e potencial comercial do Brasil no mercado AVAC-R Internacional permeiam os próximos passos”, concluiu Basile.