A aplicação da última revisão da Norma ganha a adesão de projetistas e contratantes e provoca o lançamento de novos produtos e tecnologias

Em vigor desde outubro do ano passado, a nova versão da Norma ABNT NBR 7256 – Tratamento de ar em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto e execução das instalações, percorreu um longo caminho. Para alcançar o resultado atual, foram necessárias 72 reuniões mensais, ou mais de 6 anos de trabalho coordenados pelo CB-55 da Abrava. Participaram do processo de revisão profissionais de várias disciplinas e especialidades. Contou com engajamento de vários membros de diversos Departamento Nacionais da Abrava, com destaque para o Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores (DNPC), mas também de outros, como o de comissionamento e de qualidade do ar interno. O resultado foi um robusto arcabouço normativo para a orientação de todos os agentes envolvidos no esforço de dotar os estabelecimentos de saúde seguros para profissionais e usuários da saúde.

A resposta já se faz sentir. Embora a Norma especifique equipamentos e materiais bem mais sofisticados, além de maior exigência quanto às taxas de renovação e filtragem do ar, acarretando, em tese, no maior dispêndio energético, contratantes e projetistas têm feito o possível para adequar as novas instalações ao normativo. Por outro lado, fabricantes têm se esmerado em oferecer equipamentos que a viabilizem. De forma geral, essa é a visão de diversos profissionais envolvidos no processo.

Francisco Pimenta, diretor da Climatizar e atual presidente do DNPC, já percebe os impactos da Norma revisada. “Os projetos AVAC-R para hospitais que tenho feito já seguem, na íntegra, esta norma. Os clientes compreendem que o sistema de ar-condicionado é um vetor da saúde e contribui bastante para a mitigação da contaminação cruzada, sem deixar de lado o conforto térmico e a qualidade do ar interior.”

Do lado da indústria, a percepção não é diferente. “A Trox do Brasil participa ativamente de projetos e especificação de produtos nas instalações hospitalares e, definitivamente, a nova revisão da norma NBR 7256:2021 mudou o tipo de equipamentos utilizados, com uma atenção maior ao grau de filtragem. A nova norma motivou também o desenvolvimento de novos produtos específicos voltados para atender mais facilmente os requisitos da norma”, diz Jorge Zato, gerente corporativo de engenharia e P&D da Trox do Brasil.

Certamente a percepção não é generalizada. Num país com as dimensões do Brasil e com enorme diversidade econômica e social, nem tudo pode ser absorvido da mesma maneira. “Ainda é cedo, contudo a Norma apresentou melhora bem importante e veremos os resultados nos próximos ano. A inclusão de novas tecnologias como a foto catálise elevará muito a biossegurança nos hospitais”, pontua Henrique Cury, CEO da Ecoquest.

A reação do mercado mostra-se em várias atitudes. “Notamos uma preocupação dos projetistas com a especificação de equipamentos, visivelmente incluindo requisitos mais elevados de filtragem e controle de umidade e, consequentemente, mais preocupados com a qualidade do ar interior das instalações hospitalares”, informa Zato.

Sem dúvida, existem razões para a avaliação de Zato. “Acredito que o maior impacto será a redução de contaminações hospitalares sem esquecer a eficiência energética. Hospitais buscam sempre melhorar sua eficiência na questão de contaminações, mas nem sempre conseguem devido a custos. A nova Norma buscou aliar esses dois fatores”, diz Cury.

Na posição de projetista, Pimenta percebe os desdobramentos imediatos: “No meu modo de ver, o maior impacto seria na classe de filtragem. A exigência ficou maior, inclusive em ambientes como consultórios médicos e apartamentos. Para equipamentos menores, como built-in, os fabricantes ainda estão desenvolvendo soluções para atenderem a esta mudança. Por outro lado, existem alguns ambientes nos quais são exigidos, agora, a pressão negativa em relação aos ambientes contíguos. Um exemplo disso é a Sala de Atendimento de Emergência. Neste caso, consegue-se atender a exigência com a inclusão de ventiladores devidamente dimensionados. Contudo, há uma interferência na arquitetura para que se consiga este diferencial de pressão.”

A reação de fiscalizadores e de agentes do mercado

É sabido que sem uma ação dos órgãos fiscalizadores nenhuma norma consegue se impor. Neste sentido, ganha importância a reação desse agente. E os sinais têm sido positivos. “Órgãos como a Anvisa e as Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais, têm nos consultado quanto as mudanças em equipamentos para atender as novas demandas. Treinamentos para os agentes fiscalizadores também estão sendo implementados”, informa Zato, da Trox.

Pimenta faz algumas ressalvas. “É um tema polêmico, pois ainda há profissionais de engenharia que entendem não ser obrigatório o cumprimento de normas. No caso de hospitais é mais raro. Esta Norma específica teve uma repercussão maior, pois a revisão dela ocorreu concomitantemente à pandemia e muitos profissionais de saúde já conhecem do que se trata. Porém, não há órgão oficial que analise e aprove o projeto de AVAC-R, inclusive em hospitais. O que há é uma análise macro, com o objetivo de saber se o sistema já estaria prevendo equipamentos especiais e coisas deste tipo. A notícia boa é que as vigilâncias sanitárias estão adquirindo mais conhecimento a cada dia que passa, além do interesse pelo tema. A própria Abrava já ministrou treinamentos para fiscais nas esferas federal, estadual e municipal. Isso é muito bom para o mercado AVAC-R e para a nossa saúde.”

Também em relação a contratantes e fornecedores de sistemas e equipamentos, existe uma reação positiva, embora com ressalvas. “Tanto contratantes como projetistas, consultores e instaladores, têm nos consultado para auxiliá-los a especificar equipamentos para as diversas aplicações dentro de uma instalação hospitalar. Os diferentes requisitos de cada área, como controle de umidade, grau de filtragem – incluindo filtros Hepa e pressões de ambientes, requerem equipamentos diferentes, e nós, como fabricantes, estamos nos adiantando a esta demanda com o lançamento de vários novos produtos como o novo fancolete hospitalar modelo TLE-Slim. Para atender a todas as demandas este produto possui nada menos que 1080 configurações diferentes”, diz o gerente da Trox do Brasil.

Obviamente a reação difere, mas em geral é positiva. “Os contratantes querem que a norma seja cumprida, os comissionadores também. Nós, projetistas, somos a favor de um projeto cada vez melhor, com mais segurança para os usuários. Fato é que a participação dos projetistas na revisão desta norma foi notável. Fornecedores de equipamentos e componentes estão se esforçando para adequar os seus equipamentos a esta nova exigência, normalmente demanda um pouco de tempo para esta adaptação. Mas, já vejo alguns saindo na frente com novos produtos. Agora é aplicá-los nos projetos”, afirma Pimenta.

Razões financeiras também contribuem para a aceitação da Norma. “A maior reclamação que tenho escutado dos contratantes e dos instaladores é quanto ao aumento do valor dos projetos e isso se deve a uma melhora importante nos sistemas de QAI. Era inevitável que isso acontecesse. Existe agora a necessidade de conscientização que seguir a Norma pode não trazer benefícios imediatos aos hospitais, mas seguramente trará a médio prazo. Já os projetistas e os fornecedores de equipamentos e componentes reconhecem as melhoras. São praticamente unânimes nessa tendência que já vem acontecendo em outros países. Os instaladores também estão a favor desta corrente, pois novas exigências podem aumentar o preço agregado da instalação”, sinaliza Cury.

As contribuições

Uma vez que os benefícios são amplos – técnicos, financeiros e, principalmente, para a saúde dos usuários e funcionários -, não há razão para erguer obstáculos à aplicação da NBR 7256. Neste sentido, cabe estabelecer qual a contribuição de cada agente no processo.

“A revisão desta Norma congrega uma corrente de pensamento que trafega desde os EUA, passando pela Europa e com participação efetiva no Brasil. É a busca por maior segurança em ambientes hospitalares. É uma situação em que todos ganham e os maiores ganhadores são, sem dúvida, os usuários do sistema. Neste sentido, acredito que todos os agentes estão pensando na aplicação total desta Norma e o interesse do cliente final deve se intensificar com a união de forças”, espera Pimenta.

Jorge Zato segue na mesma linha: “A conscientização de todos os envolvidos desde o contratante até o instalador é fundamental. É importante que fabricantes, associações, instituições e órgãos governamentais divulguem continuamente os ganhos que a nova revisão da norma proporciona, como o aumento da segurança microbiológica da instalação, a redução da infecção hospitalar e a melhora no bem-estar dos pacientes e funcionários.”

Da sua parte, o projetista Francisco Pimenta, que faz muitos projetos para edificações hospitalares, diz que, neles, sempre tenho aplicado a Norma com boa receptividade. “Acredito nesta união dos agentes envolvidos na divulgação da Norma e seus benefícios. Cada vez mais ela se torna conhecida, assim como os seus benefícios. Portanto, a tendência é o aumento da adesão a ela e a melhora dos sistemas AVAC-R em hospitais e outras edificações de saúde.”

Exemplo disso são algumas instalações hospitalares emblemáticas que já nascem sob a égide da NBR 7256. “O novo hospital Mater Dei Salvador é uma das instalações recentes, inclusive inovando tanto no atendimento aos requisitos de segurança como na eficiência energética ao utilizar vigas frias de alta eficiência em quartos comuns. Esta nova tecnologia já usada na Europa e nos Estados Unidos da América, permite uma redução no consumo energético de até 35%, com facilidade de manutenção e operação”, esclarece Zato.

Outro exemplo de tecnologia que começa a ser incorporada às EAS é apontada por Henrique Cury. “As tecnologias ativas começaram a ser aceitas nas normas hospitalares uma vez que existem soluções aprovadas pelo FDA. Cada vez mais novas tecnologias farão parte do universo da qualidade do ar. É importantíssimo sempre validar sua eficiência e segurança, antes de qualquer aplicação.”

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