Além de linhas especiais de equipamentos, as novas diretrizes merecem atenção acurada de empresas projetistas

É possível perceber os impactos significativos da revisão da NBR 7256. Podemos dividir em duas vertentes principais: investimento e técnica. A primeira é a que tem mais chamado atenção dos Gestores de Estabelecimentos de Saúde. Algumas exigências, principalmente de filtragem e controle de umidade, exigem adoção de equipamentos de linha especial com preços fora da linha convencional. Na parte técnica há uma gama de especificidades que merecem atenção especial das empresas projetistas, principalmente para os ambientes protetores (PE) e AII (ambiente de isolamento de infecções por aerossóis).

No desenvolvimento da norma em muitas reuniões houve a participação de profissionais do mercado hospitalar e dos órgãos fiscalizadores. Ainda de forma inicial temos recebido retorno das empresas de arquitetura hospitalar e dos arquitetos (as) de hospitais de ações positivas em relação às novas recomendações normativas. Tenho recebido solicitações para executar descrições técnicas de como será desenvolvido o projeto de ar-condicionado, ventilação, renovação de ar e exaustão mecânica, e quais os padrões que serão adotados principalmente para os setores críticos e semicríticos dos ambientes hospitalares.

O contratante pode ser o cliente final, particular ou público, sempre representado por corpo próprio de Engenharia e Arquitetura que de forma séria buscam atender a norma vigente. Em algumas ocasiões a contratação de construção do EAS (Estabelecimento Assistencial de Saúde) é realizada em pacote conjunto, isto é, projeto e instalação do sistema de ar-condicionado. Neste caso, se não houver Caderno de Encargos com orientações técnicas por parte do Cliente, a regra é buscar sempre a solução tecnicamente com menor CAPEX, dentro das regras normativas, mas sem preocupações com vida útil, eficiência energética, manutenção ou custo operacional. A presença de Comissionadores na Gestão Hospitalar é bastante rara. Usualmente tenho presenciado que a empresa Instaladora assume o papel com anuência do Cliente, e com vistas a redução do investimento.

Há no Brasil um grupo de excelentes projetistas de sistemas hospitalares, particularmente vinculados ao DNPC (Departamento Nacional de Projetistas e Consultores) da Abrava, que atendem não somente as exigências mínimas normativas, mas vão além com preocupações com OPEX, eficiência energética, manutenção, vida útil e definição do melhor sistema a depender da região de implantação do projeto. O projeto de ar-condicionado é fundamental na construção hospitalar e um erro inicial poderá comprometer a cadeia de saúde pública atendida pela EAS.

Os fornecedores e fabricantes de equipamentos e componentes estão seriamente empenhados em atender a nova norma regulamentadora da gestão hospitalar. Novos produtos estão surgindo no dia a dia propiciando aos projetistas e consultores a disponibilidade de larga gama de opções de produtos, tais como filtros, caixas de ventilação e exaustão com filtragem especial, controladores lógicos programáveis para controle de umidade, temperatura e pressão diferencial, hidrônicos com maior pressão estática externa disponível e filtragem fina e absoluta, DOAS, UTAs e UTAEs com diversas configurações construtivas, elementos de difusão de ar de concepções variadas, micro e mini ventiladores acoplados a sistemas de filtragem especial, dentre outros.

As empresas Instaladoras, com exceções, são movidas exclusivamente pelos aspectos comerciais. Compreendemos que isto ocorra fruto da concorrência desenvolvida pelos Clientes que buscam somente preço, sem atentar aos aspectos empresariais (solidez econômica e financeira, curriculum de obras executadas, corpo técnico de engenharia) e pela deslealdade existente entre os participantes dos processos licitatórios, que buscam reverter o preço do contrato fechado com alterações de projeto, equipamentos e materiais. A conduta acima citada é crítica em EAS, pois estamos tratando da nossa e da saúde pública.

O ideal em construção de EAS, seja de pequeno ou largo porte, é a contratação de projeto de ar-condicionado junto a empresa com experiência no setor e, a depender do porte do empreendimento, concomitantemente empresa de comissionamento para colaborar no projeto, auditar e comissionar a instalação e os equipamentos a serem fabricados e desenvolver os ajustes e balanceamento de todo o sistema. Gostaria de pontuar o setor de Manutenção Hospitalar que é de fundamental importância no sucesso da instalação. Os profissionais desta área percebem com facilidade as melhorias que poderiam ter sido implementadas no projeto de ar-condicionado e que facilitam o dia a dia da gestão de manutenção. Outro item importantíssimo é o Sistema de Supervisão e Controle com controladores lógicos programáveis que são fundamentais para operação, segurança e manutenção de qualquer estabelecimento assistencial de saúde.

Na minha região de atuação posso citar a Rede D´Or que possui profissionais competentes e divididos por setor, qual seja: Engenharia Clínica, Engenharia de Manutenção, Engenharia de Obras Novas e Engenharia de Retrofit. Atuam de forma uniforme entre as diversas Engenharias e buscam constantemente atender as normas ABNT e a melhor forma construtiva. Também a Rede Hospitalar Mater Dei, que recentemente construiu hospital de 22 andares e centro médico em Salvador/Bahia, onde as premissas principais foram a eficiência energética, processos de manutenção eficiente, OPEX e tecnologias de ponta, tais como as vigas frias. Não mediram esforços no investimento com contratação de empresas competentes de instalação de ar-condicionado, comissionamento e automação. O empreendimento foi coroado de sucesso.

A norma ABNT NBR 7256 percorreu um longo caminho. Iniciou em 19/12/2012 e foi editada em sua emenda 1 em 31/10/2022. Temos praticamente dez anos de revisão da norma após mais de setenta e duas reuniões mensais. A evolução foi enorme, comparando com a anterior de 30 de março de 2005. Percebemos que a norma ANSI/ASHRAE/ASHE Standard 170 edição 2021 evoluiu a partir da edição de 2017 e anteriormente da 2013. Então, a cada quatro anos temos uma nova edição americana. No caso da nossa 7256 a revisão foi aguardada por dezessete anos. A evolução tecnológica da humanidade é muito rápida e necessitamos nos adequar rapidamente às novas tecnologias que surgem praticamente a cada dois anos. Sugiro que comecemos o mais breve possível a revisão da 7256 de 06/08/2021 para que em 2025 possamos obter um produto normativo atualizado.

Mário Sérgio de Almeida é engenheiro mecânico e diretor da MSA Projeto e Consultoria

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