Uma instalação mal planejada pode dar, literalmente, muita dor de cabeça para os envolvidos; por isso, tudo começa por um bom projeto
Instalações de refrigeração, ar-condicionado e exaustão, particularmente em ambientes urbanos, podem trazer desconforto à vizinhança. A começar pelo ruído que, a depender do nível, torna insuportável a convivência. Mas há também outras formas, tão ou mais nocivas, de impactos das instalações de AVAC-R no seu entorno. Cozinhas industriais são um exemplo clássico, que podem provocar tanto no ruído, como emissão de odores.
“Para eliminar esses transtornos é fundamental um estudo de acústica da instalação, avaliando a posição de todos os elementos geradores de ruídos e o caminho até os receptores nos vizinhos. Portanto, deve-se avaliar bem onde esses equipamentos ficarão alocados, além de ter bem claro quais as caraterísticas de ruído desses equipamentos para, então, entender se algum tipo de atenuação acústica será necessário ou mesmo viável. Outro aspecto relevante é estar ciente das normas e legislação local, bem como o tipo de vizinho de cada situação para entender qual o nível de ruído aceitável”, explica Rafael Dutra, coordenador de aplicação da Trane do Brasil.
Dutra lembra que o ruído não é o único problema que pode ser encontrado numa instalação de ar-condicionado. “Em geral os equipamentos de AVAC-R utilizam fluxos de ar e água e estes podem causar transtornos. O fluxo de ar quente de unidades condensadoras sendo direcionado para locais com fluxo de pessoas pode causar incômodos e deve ser evitado, se possível, com o uso de defletores ou mesmo realocando os equipamentos. Outro problema possível é o arraste de água de torre de resfriamento que pode ser transportada até locais com a presença de pessoas ou materiais sensíveis à umidade; dessa forma, o uso de torres modernas que minimizam o arraste de água e a localização estratégica das torres podem reduzir este problema. Além destes, a vibração causada por equipamentos rotativos pode gerar problemas acústicos ou mesmo de percepção de vibração do solo na localidade vizinha e, para mitigar isso, uma boa fundação ou laje deve ser prevista, bem como elementos de isolamento de vibração na base e conexões hidráulicas da instalação.”
Para a mitigação dos transtornos, Claudia Alabarce, gerente comercial da Soler Palau, dá algumas dicas. “Utilizar ponto de operação em que a potência sonora esteja adequada para o local de instalação. Os ventiladores, por exemplo, podem ser selecionados com velocidades mais baixas de descarga. Em locais urbanos, próximos a áreas residenciais, instalar equipamentos em casas de máquinas com proteção acústica ou utilizar também atenuadores de ruídos.”
Ação desde o projeto
Como tudo o que envolve a engenharia, a solução dos problemas começa por evitá-los, e o projetista é a figura central para isso. “O projetista deve estar devidamente informado sobre as condições do entorno da instalação, tais como o tipo de vizinhança e qual o nível de ruído limite para o projeto. A partir daí, ele pode buscar equipamentos e soluções no mercado que possam atender a este requisito estabelecido. Isso, sem deixar de fora aspectos como o posicionamento dos equipamentos, elementos de mitigação de vibração e, se necessário, elementos atenuadores de ruído. Um aspecto importante é entender os efeitos de elementos de atenuação de ruído sobre os equipamentos e se estes estão aptos a trabalhar nas novas condições impostas por esses elementos, que podem ser menor fluxo de ar sobre trocadores de calor e forçando, assim, os equipamentos a trabalharem sob temperaturas mais elevadas. O projetista deve cuidar, também, para não causar problemas com fluxo de ar quente ou arraste de água sobre pessoas e materiais sensíveis, em geral, através do posicionamento dos equipamentos ou com uso de anteparos e equipamentos capazes de mitigar estes problemas”, recomenda Dutra.
Alabarce lembra que os transtornos podem ser vários. “No caso, por exemplo, de exaustão de cozinhas profissionais, ter atenção para a filtragem dos odores evitando, assim, que se propaguem nas redondezas odores de gorduras ou outros.”
A gerente comercial da Soler Palau completa: “No caso de ventiladores e de caixas de ventilação, a seleção em um ponto adequado da curva do ventilador garantirá a performance ótima, tendo tanto um gasto energético ideal quanto o menor nível de ruído para a aplicação e região onde os equipamentos serão instalados.”
Não só ao projetista cabe a eliminação de problemas futuros. “O instalador deve aplicar todas as medidas previstas pelos projetistas para mitigar estes problemas e, com sua experiência e observação de campo, propor melhorias para ajustes que se façam necessários. Em geral, todos os elementos de isolamento de vibração devem ser instalados conforme as instruções dos fabricantes para garantir sua efetividade. Isso vale também para tubulação e dutos, que devem possuir elementos flexíveis para isolamento de vibração e ser instalados adequadamente”, lembra Rafael Dutra.
Dutra lembra de outra questão fundamental. “Um aspecto relevante é a estética arquitetônica das edificações, que não podem ser prejudicadas com a visibilidade dos equipamentos em fachadas ou no terreno da instalação. Para isso, diversas soluções criativas podem ser aplicadas, desde um posicionamento estratégico com recuo e limitando a altura dos equipamentos, até painéis e elementos vazados ou elementos biofílicos que integram a proposta arquitetônica da edificação. Deve-se tomar o cuidado de prever qualquer impacto sobre a operação do equipamento e, se possível, mitigar esses efeitos.”
Tudo isso, sem perder de vista os benefícios. “A instalação de AVAC-R interfere não somente de forma negativa, ela contribui também de forma positiva, levando adequada qualidade de ar para ambientes internos em redondezas que possuem a qualidade do ar exterior poluída, como aquelas afetadas pelo grande fluxo de automóveis”, finaliza Claudia Alabarce.
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