O alto custo da energia elétrica, aliado a um crescimento da consciência ambiental, tem impulsionado a adoção de tecnologias e práticas mais sustentáveis na refrigeração comercial. Em relação às tecnologias, empresas em todo o mundo têm buscado oferecer ampla de soluções. Do lado das instituições, há um esforço grande pela conscientização dos usuários. Esta é a opinião de representantes de três das empresas mais inovadoras do mercado: Antonio Gobbi, diretor comercial da Full Gauge Controls, Luiz Villaça, da engenharia de aplicação da RAC Brasil, e Rogério Marson Rodrigues, gerente de engenharia da Eletrofrio.

Popularização das pautas no Brasil

Discutimos a preocupação com o meio ambiente e energias renováveis em feiras e fóruns internacionais desde a virada do século. A grande novidade que percebemos é a popularização dessas pautas aqui no Brasil nos últimos anos.

Está cada vez mais comum o uso de controladores inteligentes com setpoint econômico, softwares de gerenciamento e monitoramento remoto via internet, uso de válvulas de expansão eletrônicas, compressores de capacidade variável (variable capacity compressor-VCC) e ventiladores de velocidade variável (VSF – variable speed fans). Apenas citando alguns exemplos.

Tem contribuído para esse avanço, o fato de os donos de estabelecimentos quererem se livrar do maior vilão deles, que é o alto valor da conta de energia elétrica. Muitos já estão preferindo investir em novos projetos sustentáveis e outros realizando retrofit. Por trás disso, vêm todos os benefícios para o meio-ambiente.

Costumamos usar o exemplo de que alguns anos atrás ainda usavam frequentemente termostatos mecânicos e foi uma evolução a chegada dos controladores digitais inteligentes. Em 1997, lançamos a primeira versão do software Sitrad para gerenciamento de equipamentos e instalações, foi um outro grande avanço. Neste meio tempo o setor também discutiu sobre os fluidos refrigerantes que não agridem o meio-ambiente. Hoje vemos chegando ao mercado equipamentos cada vez mais eficientes e, com o tempo, essas tecnologias vão se popularizando. É uma questão de tempo e divulgação dos seus benefícios.

A tendência mundial é a busca constante por soluções que visam maior eficiência. A refrigeração comercial também está neste caminho através de novas tecnologias e legislações.

Temos muito orgulho em contar que usamos, aqui na Full Gauge Controls, placas fotovoltaicas para geração de energia elétrica e que o nosso consumo é proveniente de fonte limpa, o que significa que nossa energia é totalmente renovável e que não agride o meio ambiente. Ela vem das usinas de fontes incentivadas pelo Governo Federal brasileiro (eólica, solar, biomassa, PCH e CGH), com o objetivo de obter uma matriz energética ambientalmente limpa e sustentável de acordo com nossos princípios e valores, sempre calcados no cuidado com o meio ambiente. Já reduzimos mais de 126,229 toneladas de CO2 desde 2021!

Antonio Gobbi, diretor comercial da Full Gauge Controls

 

 

 

 

 

 

 

Sistemas estão bem mais eficientes, com amplo uso da eletrônica

A eficiência energética na refrigeração comercial tem avançado, tanto na atenção dada ao tema como nos resultados em campo. O DN de Refrigeração Comercial da Abrava, por exemplo, lançou neste ano de 2023 uma Cartilha de Eficiência Energética. Voltada aos usuários finais da refrigeração, como padarias, mercados ou mesmo lanchonetes, a cartilha explica em termos simples a importância e o impacto do tema em seus negócios.

Em termos de resultados em campo, os sistemas de refrigeração comercial atuais estão definitivamente mais eficientes do que no passado, com amplo uso de eletrônica para atingir esse objetivo. Mecanismos como válvulas de expansão eletrônicas, modulação de capacidade e condensação flutuante trazem economias energéticas que podem ultrapassar os 20%.

Os principais fatores que contribuíram para esse avanço da eficiência energética na refrigeração comercial foram, possivelmente, a percepção de seu impacto em custos, o reflexo no meio ambiente e a redução nos investimentos necessários. Em termos de custo, o usuário final está passando a entender que a conta de energia chega todo mês e as economias também. Segundo a ONU, eletricidade corresponde a aproximadamente 75% do desembolso total do cliente na vida útil de seu sistema de refrigeração. Vale investir um pouco mais em um sistema mais eficiente, pois o efeito virá rapidamente na conta de eletricidade. E a redução no consumo de eletricidade ajuda o meio ambiente. Além disso, a existência hoje de soluções energeticamente eficientes de baixo investimento permitem que mesmo pequenos negócios usufruam desse avanço.

Buscando citar alguns componentes específicos dos sistemas de refrigeração comercial que trouxeram avanço na eficiência energética da refrigeração comercial, podemos listar as válvulas de expansão eletrônica, os mecanismos de modulação de capacidade dos compressores, tanto inversores eletrônicos como controles de capacidade no cabeçote, e os ventiladores eletrônicos EC.

Em compressores, temos hoje avanços significativos em eficiência energética, notadamente em compressores semi-herméticos de alta eficiência, em compressores que aceitam rotação com velocidade variável e em modulação pulsante de capacidade no cabeçote através de controle eletrônico. Unidades condensadoras com compressores semi-herméticos e controle de capacidade são um exemplo de avanço em eficiência energética. Hoje temos evaporadores com ventiladores eletrônicos EC, mais eficientes energeticamente que os ventiladores convencionais.

Os projetos atuais dispõem de diversas alternativas para obter ganhos em eficiência energética. O uso de válvulas de expansão eletrônica, modulação de capacidade e compressores semi-herméticos de alta eficiência são elementos hoje muito usados. Além disso, sistemas para baixas temperaturas podem ter importante melhoria na eficiência energética se projetados e implementados utilizando compressores semi-herméticos de duplo-estágio.

Luiz Villaça, engenharia de aplicação da RAC Brasil

 

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Elevação das temperaturas de evaporação é fundamental para a melhoria da performance

Durante o processo de substituição do R-22, ocorreu um retrocesso nas questões de eficiência energética nos sistemas de refrigeração comercial, principalmente em função dos fluidos refrigerantes substitutos. Com o passar dos anos, novas soluções tecnológicas foram, aos poucos, compensando a retirada de um fluido refrigerante de alta eficiência, tal como o uso de compressores de velocidade variável, válvulas de expansão eletrônica, motores eletrônicos aplicados nos ventiladores de expositores, forçadores de ar e condensadores remotos, além da elevação das temperaturas de evaporação, tanto para os sistemas de resfriados como para os de congelados, ação promovida por um grande fabricante de expositor frigorífico, fundamental para a melhoria da performance dos sistemas de refrigeração. Simultaneamente, os controladores eletrônicos passaram a permitir um gerenciamento de dados e otimização dos sistemas para a obtenção da máxima performance de cada projeto.

O desenvolvimento de tecnologias de velocidade variável em compressores tem sido um dos mais importantes fatores de aumento da eficiência em sistemas de refrigeração. Grande parte dos principais fabricantes já dispõe de soluções de controle de capacidade que permitem obter as mais altas performances destes equipamentos. Os avanços nas unidades condensadoras estão relacionados a aplicação de compressores de velocidade variável, além de fluidos refrigerantes de alta performance e ventiladores eletrônicos.

O desenvolvimento de uma geometria adequada e ventiladores eletrônicos são fatores importantes para a performance de evaporadores, mas nada supera o dimensionamento de trocadores de calor com a menor diferença entre a temperatura de evaporação e a temperatura do ambiente ou, simplesmente, trabalhar com a maior temperatura de evaporação possível, aumentando o tamanho da serpentina e reduzindo a potência do compressor.

A tendência atual em sistemas de refrigeração que buscam qualidade de frio e eficiência energética, é a operacionalização de um sistema de monitoramento e gerenciamento de dados, garantido que cada projeto obtenha sua melhor performance em tempo integral, não somente poucas semanas ou meses após o comissionamento inicial. Entender que uma câmara frigorífica projetada para trabalhar com temperatura ambiente de 4°C não deve trabalhar com 3°C, ou abaixo, é fundamental para obter performance energética.

Infelizmente, no mercado nacional de refrigeração comercial, temos inúmeros exemplos em que a tomada de decisão na aquisição de um projeto é pelo preço baixo, independentemente das consequências danosas que estes projetos trarão durante sua vida operacional, seja pela qualidade do frio ou pelo consumo de energia elétrica.

Rogério Marson Rodrigues, gerente de engenharia da Eletrofrio

 

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