Família, que já começa a preparar a terceira geração, é importante protagonista da história do ar-condicionado e refrigeração no país
Em 1954 José Daniel Tosi daria início, ao lado do cunhado Mario Lantery, a uma história que sobrevive há 70 anos. Naquele ano era inaugurada a Coldex, que marcaria toda a história posterior do AVAC-R como fabricante de equipamentos. Inicialmente produzindo componentes para abastecer a nascente indústria de refrigeração, logo a empresa passou a produzir equipamentos de grande porte para a climatização de ambientes.
Vale lembrar que, à época, o mercado não era segmentado como é hoje. O instalador não apenas cumpria essa função, como também as de projetista e fabricante de equipamentos. O espaço para o surgimento de novos atores no segmento era estreito. Ao lançar o seu self contained, o famoso 5TVI, popularmente conhecido como pulmão de aço, Tosi lançou as bases para a criação de novas atividades. Iniciava uma era que, nas palavras de Celso Simões Alexandre, um “engenheiro com uma mesa e um telefone” poderia constituir uma empresa de projetos.
Nas primeiras décadas da segunda metade do século XX a presença de empresas multinacionais no país dava-se através de representantes ou de escritórios de vendas. Exceção feita à Carrier que mantinha uma área de serviços no Rio de Janeiro, onde, vale lembrar, Tosi e Lantery começaram, ao lado de Hans Robert Bodanzky, a dar seus primeiros passos no mercado. Os fundadores da Coldex enxergaram nesse cenário uma grande oportunidade: havia espaço para uma empresa nacional.
A intuição confirmou-se e, em poucos anos, a Coldex dominava o mercado. Tanto foi assim que, de um pequeno galpão no Tatuapé, a empresa se veria, num espaço de 15 anos, ocupando amplas instalações especialmente construídas para abrigar seu parque fabril. Começava a década de 1970 e o início do que se convencionou chamara de “milagre brasileiro”, quando o país crescia a taxas chinesas.
A euforia em torno ao crescimento da economia atraia empresas multinacionais nos mais distintos setores. No ar-condicionado não foi diferente. Novamente a Carrier, que passara sua operação para a família Belinky no início da década de 1960, além de Hitachi e Trane começavam a olhar novamente para o Brasil. A Coldex, indiscutivelmente líder de mercado, chamava a atenção.
As duas grandes do mercado mundial fizeram suas propostas de compra. Após incansáveis negociações, Tosi e Lantery venderam a primeira grande empresa nacional de ar-condicionado e refrigeração para a Trane.
Empreendedor incansável, José Daniel Tosi, dois anos após a venda para a Trane, enxergou mais uma oportunidade. O país ainda não possui nenhuma empresa fabricante de equipamentos para difusão. A Trox, então, começava a ensaiar seus primeiros passos no país. Tosi correu o mundo para encontrar as melhores tecnologias para difusão de ar e montou sua Tropical.
Por força de contrato, o empresário só poderia produzir equipamentos após 5 anos da venda para a Trane. Assim, com a produção de grelhas, difusores e caixas de ventilação consolidada, em 1978 a Tropical começaria a produzir fancoils, com um design moderno e prático que viria a influenciar todos os demais fabricantes por mais de uma década. Daí para a retomada na fabricação de self contained foi um passo.
A década de 1990 encontraria Tosi, com sua Tropical, mais uma vez na liderança do mercado de fancoils. Era o início da chamada globalização com um grande volume de capitais em busca de oportunidades. Nesse cenário, mais uma vez Tosi venderia uma indústria. A Carrier fez sua oferta através de uma subsidiária, a Bryant, e tornou-se proprietária da Tropical, adotando a marca Tropical Bryant.
O dinheiro da venda financiou modernas instalações para a produção de serpentinas e componentes de difusão em Cabreúva, São Paulo. Agora, Tosi se comprometia a não fabricar equipamentos pelo prazo de 10 anos.
Nesta altura o comando das empresas já estava entregue à segunda geração formada pelos filhos Patrice, Marcelo e Márcio. Foi desse último a ideia de começar a produzir bombas de calor para o aquecimento de piscinas. A inciativa, vitoriosa, abriria caminho para a instalação de uma indústria de coletores sob a marca JellyFish.
Passados os 10 anos a Tosi voltou à carga. Com capital de giro os irmãos em um prazo muito curto lançaram suas linhas de fancoils, self contained e chillers modulares. Buscando a conquista de fatias maiores do mercado em pouco tempo estabeleceram um acordo com a Multistack, empresa formada por executivos egressos da Trane que começara a produzir os chillers com compressores de mancal magnético nos Estados Unidos. Estava lançado o Turbotosi.
Embora colecionando sucessos, a empresa foi surpreendida pelos eventos que abalaram a economia nacional a partir de 2014 e que culminaram com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Carente de capital próprio foi obrigada a recorrer a bancos e passo seguinte ao FDIC. Uma manobra que, se necessária, representou um enorme risco.
Sem se deixar abater, os irmãos foram à luta. Conseguiram colocar o negócio na recuperação judicial e estabeleceram um regime de guerra nas finanças. Resultado do esforço, em 4 anos saíram da recuperação e retomaram os investimentos em novos produtos. Focando em engenharia, estabeleceram pontes em mercados como data centers, hospitalar, industrial e de eletrocentros. A terceira geração, formada pelos filhos de Patrice, Marcelo e Márcio, começa a tomar contato com o negócio fundado pelo avô, num processo que pretende ser lento e seguro em direção à mais uma sucessão.
Toda essa história é contada no livro “Tosi, uma história do ar-condicionado no Brasil” escrito pelo jornalista Ronaldo Almeida, editor da revista Abrava+Climatização& Refrigeração, e pela historiadora Márcia Bassetto Paes. Com base em entrevistas com personagens das épocas e muita pesquisa histórica o livro reconstitui a saga da mais longeva família do AVAC-R brasileiro.
Além do livro, que teve seu lançamento em coquetel realizado na sede da Fiesp no último 28 de outubro, a trajetória da Tosi está estampada num museu sediado nas novas instalações inauguradas recentemente na fábrica de Cabreúva.