Apesar de ser um dos grandes produtores mundiais de alimentos, o Brasil é um campeão no desperdício
O Brasil é o quarto maior produtor de alimentos do mundo, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia. Essa honrosa colocação, infelizmente, esbarra no fato de ser um dos campeões em desperdícios. Milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogadas no lixo todos os anos.
Recentemente, uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estudou as causas do desperdício de alimentos entre fornecedores e supermercados. O resultado apontou para questões como a cultura alimentar da população, a legislação brasileira e também para a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva.
O estudo foi realizado por Camila Moraes, sob orientação de Andrea Lago da Silva, docente do Departamento de Engenharia de Produção daquela Universidade. Foram analisadas, para tanto, quatro redes de supermercadosde diferentes estados do Brasil. O resultado foi o mapeamento de 27 causas do desperdício, tendo apontado, também, que 40% das perdas ocorrem na distribuição, sendo o varejo responsável por 12% delas.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), aponta, entre os principais motivos do desperdício, validade vencida (36,9%), impropriedade para venda (30%), avaria dos produtos (18,2%) e danos em equipamentos (4,8%), seguidos de furto externo (19,8%) e erros de inventário (13,5%). A pesquisadora ressalta que a taxa de 12% não reflete a realidade, porque o varejo centra suas ações na redução do seu próprio desperdício, transferindo custos para outros elos da cadeia, como o próprio consumidor, através de promoções, e a devolução aos fornecedores, a quemcabe arcar com as perdas.
Não cabe aqui analisar as causas ou como são compensadas essas perdas. Mas, em como a indústria da refrigeração pode contribuir para alterar esse quadro desolador.
“O desperdício de perecíveis em supermercados é um desafio comum, com várias causas interligadas que impactam diretamente a qualidade e a durabilidade dos produtos. Entre as principais causas estão a logística ineficiente, o armazenamento inadequado, a previsão de demanda incorreta e a gestão inadequada da validade dos produtos. No entanto, um dos pontos mais críticos é o controle de temperatura”, afirma Fernando Tominaga, gerente comercial na Carel e atual presidente do Departamento Nacional de Automação e Elétrica da Abrava.
“São diversos os fatores que causam o desperdício, desde problemas operacionais como excesso de estoque, falta de planejamento de vendas e promoções mal planejadas.Porém, entendo que a maior causa dos desperdícios de perecíveis está relacionada a falhas na cadeia de frio. Isso inclui a má manutenção dos diversos equipamentos de refrigeração, o controle inadequado da temperatura dos produtos, falta de monitoramento contínuo, além dos problemas no transporte e armazenamento.Equipamentos que não operam de forma eficiente ou que não oferecem a precisão necessária no controle de temperatura podem acelerar o processo de deterioração”, completa Denis Ferraz, coordenador de usuários finais da Copeland.
Nesse sentido, Tominaga ressalta a importância da automação e controle. “A automação e o controle de temperatura desempenham um papel vital na redução de perdas de perecíveis. Sistemas de controle microprocessados permitem que os parâmetros do sistema de refrigeração sejam ajustados automaticamente, garantindo que a temperatura seja mantida conforme as especificações de cada tipo de produto perecível, como carnes, laticínios e vegetais.”
- Denis Ferraz
- Fernando Tominaga
“Com sistemas automatizados, é possível monitorar e ajustar as condições de operação dos equipamentos de refrigeração em tempo real, garantindo temperaturas estáveis e adequadas para cada tipo de produto, além de economizar energia devido ao controle mais estável e preciso.Os sistemas de automação atuais oferecem funcionalidades avançadas, como o gerenciamento remoto dos históricos das temperaturas, alarmes dos equipamentos e diagnósticos preditivos. Essas tecnologias permitem que falhas potenciais sejam identificadas e corrigidas antes de causarem impacto nos produtos ou na operação”, continua Ferraz.
O presidente do DNAE da Abrava explica a operação. “Através de sensores de temperatura conectados ao sistema de controle, o sistema pode regular a operação de compressores, evaporadores, válvulas de expansão e outros componentes do sistema de refrigeração, mantendo a temperatura constante dentro da faixa ideal. Caso ocorra um desvio de temperatura, seja devido a falhas no equipamento ou a erros operacionais, o controle microprocessado pode identificar rapidamente o problema e tomar decisões automaticamente, acionando mecanismos de correção ou ajustando os parâmetros operacionais para evitar danos aos produtos, minimizando o risco de perdas.”
“Além disso, a integração com plataformas de IoT (Internet das Coisas) facilita a análise de dados para otimizar o desempenho dos equipamentos, promovendo economia de energia e melhor conservação dos alimentos. Isso reduz não só as perdas, mas também os custos operacionais, aumentando a eficiência geral do supermercado” diz Ferraz.
Nesta direção, Tominaga explica que, além dos controladores, sistemas supervisórios oferecem uma gestão integrada. “Esses sistemas monitoram a temperatura em tempo real, coletando dados de sensores instalados em câmaras frigoríficas, vitrines e prateleiras. Eles centralizam as informações para análise e permitem detectar rapidamente qualquer desvio das condições ideais. Por exemplo, se a temperatura de uma câmara frigorífica de carnes subir acima do limite recomendado, o sistema gera alertas automáticos para os operadores, que podem ser enviados por e-mail, SMS, aplicativos de mensagens ou alarmes na interface do sistema.”
“Além de monitorar a temperatura em tempo real, sistemas supervisórios também oferecem relatórios históricos de desempenho, que ajudam a identificar padrões, como falhas recorrentes ou períodos de temperaturas inadequadas. Esses dados ajudam a otimizar ainda mais o controle e a reduzir desperdícios. Na maioria dos sistemas, ajustes podem ser feitos remotamente, sem necessidade de presença física no local, garantindo eficiência operacional”, continua Tominaga.
Tecnologias e componentes avançados
O representante da Copeland, explica que, atualmente, as tecnologias e componentes mais avançados para controlar estoques e reduzir perdas combinam automação, conectividade e eficiência energética.
“No setor de refrigeração, destaco os compressores inverter que oferecem controle de capacidade variável, ajustando-se às demandas reais de refrigeração. Isso mantém temperaturas mais precisas, minimizando flutuações que podem comprometer a qualidade dos alimentos; sensores inteligentes integrados a plataformas de IoT, que permitem o monitoramento contínuo de temperaturas em tempo real, e os níveis de umidade e consumo de energia. Esses dados ajudam a identificar e corrigir anomalias antes que elas causem prejuízos.Também os controladores eletrônicos avançados que gerenciam todo o sistema de refrigeração e oferecem funções como desligamento automático em casos de falha, set points flutuantes e registros de histórico de operação, além da integração com sistemas de gestão de estoque.Por fim, os softwares degestão integrada composto por sistemas que conectam equipamentos de refrigeração ao gerenciamento de manutenção e de estoques ajudando a prever necessidades de ressuprimento, evitando excessos ou falta de produtos, reduzindo perdas e otimizando o armazenamento. Essas tecnologias não só aumentam a eficiência operacional, mas também promovem a sustentabilidade, reduzindo desperdícios e consumo energético, enquanto garantem a qualidade e segurança dos perecíveis.”
Mais uma vez Tominaga explica como acontece, na prática, a ação desses componentes. “Sensores de temperatura e umidade conectados à Internet das Coisas (IoT) permitem obter dados em tempo real sobre as condições ambientais. Esses sensores podem ser posicionados em pontos críticos de instalações AVAC-R, como câmaras frigoríficas, áreas de armazenamento e sistemas de climatização. A IoT possibilita uma integração eficiente e monitoramento constante, garantindo que todos os parâmetros operacionais sejam mantidos dentro das faixas ideais para a conservação de perecíveis.Sensores de qualidade do ar, como os de CO2, são essenciais para otimizar a ventilação e manter a qualidade do ar interno. Eles ajustam automaticamente os sistemas de ventilação, ativando exaustores ou sistemas de climatização conforme necessário, o que também contribui para reduzir o consumo de energia.”
Uma inovação crescente, de acordo com o presidente do DNAE da Abrava, é a incorporação de Inteligência Artificial (IA) nos controladores AVAC-R. “Com a IA, os sistemas aprendem com os dados históricos e otimizam seu funcionamento ao longo do tempo. Isso permite ajustes dinâmicos conforme as mudanças nas condições ambientais e nos requisitos operacionais. A IA pode prever picos de demanda ou falhas nos equipamentos, ajustando automaticamente os parâmetros de operação para garantir a eficiência”, diz ele.
Tominaga vai além na descrição das novas tendências. “Manutenção preditiva baseada em sensores, dados históricos e algoritmos de machine learning, é outra inovação importante. Ela permite prever falhas nos componentes do sistema AVAC-R antes que ocorram, com base em padrões de comportamento do sistema. Isso possibilita realizar manutenções preventivas ou corretivas de forma antecipada, evitando falhas inesperadas e minimizando o tempo de inatividade dos sistemas. Como resultado, é possível reduzir as perdas de perecíveis e melhorar a confiabilidade do sistema.”
O que as empresas e instituições oferecem
A Copeland é fornecedora de equipamentos para o sistema de refrigeração projetados para atender às demandas de supermercados e outros ambientes críticos, segundo Ferraz. “Entre os destaques estão os compressores com tecnologia inverter e os sistemas de controle e gerenciamento integrados. Os compressores da linha Copeland inverter ajustam automaticamente sua capacidade de operação conforme a necessidade de refrigeração, mantendo temperaturas constantes e evitando variações que podem comprometer a qualidade dos produtos. Essa precisão no controle reduz as chances de deterioração dos perecíveis e contribui para a redução de perdas além de serem altamente eficientes na questão energética.”
“A Copeland”, continua Ferraz,“também oferece suas soluções em controle e gerenciamento que incluem controladores eletrônicos inteligentes, sensores de temperatura e softwares de monitoramento remoto. Isso permite que operadores identifiquem qualquer anomalia em tempo real, corrigindo problemas antes que impactem os alimentos.”
Fernando Tominaga prefere divulgar os avanços proporcionados pelo departamento nacional que preside. “O DNAE desempenha um papel essencial na promoção, regulamentação e desenvolvimento da tecnologia de automação AVAC-R em nível nacional. Sua atuação envolve diversas frentes, como a participação na normatização, a certificação de empresas e profissionais, além da promoção de inovações tecnológicas.”
O presidente do DNAE lembra, ainda, que o órgão organiza cursos, treinamentos e workshops, como o Curso de Automação e Elétrica para AVAC-R, que já capacitou mais de 200 integradores de sistemas de automação no setor em 2024. “Para 2025, estão previstas novas turmas deste curso, além de um Workshop de Automação e Elétrica em AVAC-R, que visa divulgar as novas tecnologias, promover o networking entre profissionais do setor e estreitar a colaboração com os principais fabricantes de equipamentos.”
O DNAE também desempenha um papel estratégico na disseminação de boas práticas para a redução de desperdícios, incentivando a adoção de sistemas de automação que promovem maior eficiência e sustentabilidade nas instalações de AVAC-R. Por meio de sua atuação, as empresas têm acesso a informações e recursos para melhorar seus sistemas de controle e reduzir perdas de perecíveis.
“Conhecer os sistemas AVAC-R em profundidade é essencial para oferecer soluções de automação que atendam às necessidades de eficiência energética, redução de custos operacionais, conforto e sustentabilidade. A automação, quando bem implementada, transforma os sistemas AVAC-R em instalações inteligentes capazes de se ajustar automaticamente às necessidades do ambiente e dos usuários, maximizando o desempenho e minimizando o impacto ambiental. Dessa forma, o conhecimento técnico dos sistemas AVAC-R é crucial para o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis, atendendo a desafios operacionais e ambientais. Com isso, as empresas podem reduzir perdas, melhorar a eficiência e atender a regulamentações ambientais, garantindo melhores resultados no longo prazo”, conclui Tominaga