O setor AVACR encontra-se intrinsecamente alinhado às principais agendas globais, com destaque para o Protocolo de Montreal, dedicado à proteção da camada de ozônio e tido hoje como o maior case de sucesso internacional. Contudo, a aprovação da Emenda de Kigali, em 2016, adicionou uma dimensão climática urgente a essa pauta, ao buscar o controle e a redução de hidrofluorcarbonetos (HFCs) com alto GWP – gases de efeito estufa com potencial de aquecimento global centenas ou até milhares de vezes superior ao dióxido de carbono (CO₂).
Para contextualizar a relevância do tema, basta observarmos que, em 2022, o Brasil importou um volume de HFCs equivalente a 90 milhões de toneladas de CO₂. Esse número é significativo se comparado à meta nacional de descarbonização, que estabelece emissões máximas entre 850 e 1.050 milhões de toneladas para todos os setores em 2035. Reconhecendo a magnitude do desafio, ajustes estão em andamento nos inventários nacionais para fornecer dados mais precisos sobre as emissões do setor AVACR na próxima comunicação nacional. E especialistas destacam um consenso: embora existam barreiras, as oportunidades de descarbonização superam os obstáculos.
Especialmentenos últimos anos, o setor AVACR conquistou espaço nas Conferências das Partes (COPs) da UNFCCC, com pavilhões exclusivamente dedicados a discussões sobre resfriamento e construções (Cooling and Building), além de iniciativas nos estandes de vários países, agências da ONU e empresas. Sendo essencialmente uma agenda política, a COP direciona iniciativas práticas por meio de compromissos globais, como o Global CoolingPledge e o Global MethanePledge and Other Super Pollutants. Esses compromissos são traduzidos em regulações, padrões e projetos que impactarão diretamente o setor.
Algumas diretrizes estratégicas para o setor,entre as metas destes compromissos, já podem ser adiantadas aqui, para que entre em nossos planejamentos:
- O setor deverá se comprometer em reduzir as emissões de HFCs e outros GEEem 68% até 2050.
- O Brasil deverá implementar códigos nacionais de energia para edifícios.
- Devemos ter aumento dos esforços mundiais para aumentar a eficiência de novos equipamentos em 50% até 2030.
- O Brasil vai continuar avançando no estabelecimento de padrões mínimos de desempenho energético (MEPS).
- Políticas de compras públicas sustentáveis serão usadas para acelerar as mudanças no mercado.
- Existe um objetivo global de promover P&D para alcançarmos sistemas com refrigerantes abaixo de GWP 150.
- E o Brasil precisa acelerar o gerenciamento de ciclo de vida dos fluorocarbonos, por meio da Economia Circular e Logística Reversa, para garantir que este “estoque” de HFCs presente em equipamentos hoje não chegue à atmosfera, por falta de cuidado na destinação final de resíduos e equipamentos obsoletos.
Os preparativos para COP30, no Brasil, será o tema do nosso próximo editorial. Não deixe de acompanhar. Você também pode mandar dúvidas e sugestões para contribuir neste quadro. A presença AVACR é tão essencial para reduzir impactos quanto para construir soluções de adaptação e que moldarão um futuro mais sustentável.
Thiago Pietrobon é presidente do Departamento Nacional de Meio Ambiente da Abrava (DNMA) e esteve acompanhando, pela Associação, as negociações na COP 29, além de participar ativamente das negociações sobre a agenda climática