O projeto de Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA) existe há pouco mais de uma década. Seu criador e impulsionador é o educador, pianista, regente e gestor cultural Ricardo Castro, que idealizou o projeto com o objetivo de atender jovens e crianças em situação de vulnerabilidade. Em 2008 foi criado o Instituto de Ação Social pela Música (IASPM), ligado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Governo do Estado da Bahia, para fazer a gestão do projeto. Após criar vários núcleos de prática musical em todo o Estado da Bahia, incluindo orquestras, grupos de câmara, corais, entre outras atividades, e constituir-se em referência mundial através da sua Orquestra Juvenil, o Neojiba conquistou sua própria casa. Em 2014 parte das instalações do Parque do Queimado foi cedido, pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), ao Instituto. As obras de restauração e adaptação às necessidades das atividades a serem desenvolvidas no local tiveram início em 2017. Orçado em R$ 13,5 milhões, o projeto teve a contribuição do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do governo do Estado da Bahia.

O prédio que abrigará, a partir do final deste ano, a sede do Neojiba, incluindo escola de música e anfiteatro, pertenceu à Companhia do Queimado, criada em 1852, primeira concessionária de captação, tratamento e distribuição de água do Brasil. A captação era feita, então, na Fonte de Queimados, nascente do rio de mesmo nome descoberta por padres jesuítas por volta de 1.600. O prédio principal abrigava a estação de bombeamento que enviava água para chafarizes públicos, residências e outros estabelecimentos da cidade.

Desafios e soluções

A história da edificação, agora tombada pelo IPHAN, e os fins que dela se pretende, colocavam enormes desafios para os envolvidos nos trabalhos de recuperação e adaptação. “Quando fui chamado para fazer o projeto já havia sido contratado o arquiteto Sérgio Ekermann que esclareceu tratar-se de um prédio tombado que deveria ter características especiais. Quando comecei a conversar com o maestro Ricardo Castro, percebi que era um homem muito exigente acusticamente. Procurei usar o que de melhor encontramos no mercado: fancoils com atenuadores de ruídos, ventiladores plenum fan de baixa rotação, dutos de lã de vidro, o Isover Acustic etc. Até o alinhamento das lonas do ventilador eu procurei fazer. No decorrer do projeto o maestro disse que queria um nível superior de arquitetura e ar condicionado, e contratou um escritório da Suíça para dar assessoria ao Sérgio Ekermann. Para a acústica, contratou a empresa japonesa Nagata, que tem escritório em Los Angeles e possui em seu portfólio alguns dos maiores teatros do mundo, como o Philharmonie de Paris, Walt Disney Concert Hall de Los Angeles, Elbphilharmonie de Hamburgo, entre outros. No meu primeiro contato vieram dois técnicos de Los Angeles, um japonês e um americano. Não fizeram crítica alguma e foram muito educados”, conta Mário Sérgio de Almeida, diretor da MSA, idealizador do projeto de climatização do Neojiba. Os técnicos da Nagata entregaram um manual para o consultor Almeida, com a filosofia do escritório. O projeto de ar condicionado deveria atingir, no máximo, 20 dB dentro das salas de ensaios, no foyer e na sala de concertos. “Quando li o manual, botei fora o meu projeto. Eles aprovaram as máquinas que eu havia selecionado; os atenuadores acústicos, tanto no retorno quanto na insuflação, não iriam caber nas UTAs, eu especifiquei todos na parte externa delas. Cada sala tinha uma máquina independente. A sala que guarda o piano é climatizada com controle de umidade. O piano sobe por um elevador e o palco deve estar na mesma temperatura da sala, do contrário ele desafina com a mudança de ambiente. É uma forma de executar completamente diferente. Eles não usam um sistema de pressão constante, o negócio deles é velocidade, que eles estabelecem por trechos; a curva não é uma curva convencional, é praticamente quadrada, devendo haver distâncias entre curvas. A velocidade nas grelhas é baixíssima, à medida em que os dutos se aproximam do local de difusão eles vão baixando de velocidade e crescendo de tamanho, e muitas vezes é necessário dar uma volta com eles para chegar no ponto de difusão do ar”, continua o diretor da MSA.

Os dutos de chapa galvanizada possuem elevado grau de estanqueidade, com 50 mm de isolamento por dentro e por fora. Depois do isolamento em lã de vidro, vem o isolamento em gesso acartonado. Nos lugares em que o duto atravessa a parede, é preciso haver um isolamento de chumbo, assim como quando um duto passa sobre outro. Todos os dutos são apoiados em calços de mola; a distância entre dutos é pré-determinada, assim como os suportes dos calços, e, seja no ar ou no piso, tudo tem que estar sobre calços de molas. “O mais surpreendente, diz Almeida, é que as próprias salas dos ensaios são suspensas sobre calços de molas, permitindo uma camada de ar de isolamento. Não existe jato de ar nas salas, o ar praticamente cai, tanto na insuflação quanto no retorno.”

O isolamento com chumbo é devido à possibilidade de vibração do prédio, que pode passar para os dutos. Assim, é criada a massa inercial para a velocidade ser uniforme dentro do duto e não sofrer influência do entorno. Devido à passagem de veículos e aviões, o teto é duplo, assim como as paredes; os vidros e esquadrias são especiais, com fator acústico.

Objetivo é contar com acústica e conforto

O objetivo do maestro Ricardo Castro é ter o melhor estúdio de difusão do Brasil, por isso o teto de 20 dB. As curvas em dutos são usadas como instrumentos de atenuação. Não existe veio interno e os dutos da sala de concerto correm pelo piso, também com insuflação pelo piso executada em grelhas lineares, assim como o retorno. O palco é de uma madeira especial e o estúdio Nagata estabeleceu a montagem, espessura da madeira e o posicionamento dos caibros.

A instalação em si, não é grande, possuindo 60 TR distribuidas em 4 chillers modulares. A CAG foi implantada a 200 metros com a tubulação da água enterrada, também para evitar ruído das máquinas. “A casa de máquinas estava originalmente ao lado do prédio. Mais tarde decidimos coloca-la sobre o morro e os consultores da Nagata adoraram a ideia. Os fancoils ficam acima da construção com os dutos descendo pela colina. Quando o duto desce pela colina e entra no prédio, tem que haver uma caixa especial. O duto de entrada não pode coincidir com o duto de saída, precisa entrar pelas laterais por uma caixa isolada de determinada espessura, e dela saem os dutos para os ambientes. Como a velocidade é muito baixa, a perda de carga também é baixa”, esclarece Almeida

As unidades de tratamento de ar possuem 40 mm de espessura e os ventiladores na sala maior são duplos, para insuflação e retorno. O isolamento acústico é de poliuretano (40 mm). “O importante eram os atenuadores de ruído, na entrada e na saída, contínuos e de 3 a 4 metros de comprimento. Conseguimos tirar 30 dB, tanto na insuflação quanto no retorno, e, através do cálculo das atenuações em cada curva, pudemos atingir os 20 dB no interior das salas. Até o atenuador eram 90 dB, e nós tiramos 70 dB no caminho. Uma parte, 30 dB, no atenuador, e os outros 40 na geometria construtiva dos dutos”, diz o consultor e projetista. Todos os ambientes têm controle de umidade e temperatura e todo o tratamento do ar foi feito nos fancoils. A exigência era em relação à acústica e ao conforto. Por isso o ar é lançado como se fosse uma pluma no ambiente, e a preocupação é com a temperatura a dois metros de altura, na área de ocupação. Os camarins, sala de piano e corredores, são equipados com fancoletes, instalados no interior de caixas de chapa, isoladas com lã de vidro e gesso, para o ruído não sair para fora. O fornecimento de ar exterior e exaustão dos banheiros também está confinado em caixas, possuindo ventiladores com baixa rotação. Todas as caixas possuem acesso e manutenção através de portas acústicas, e também com tratamento de chumbo e fita de alumínio para o isolamento da lã de vidro.

Equipamentos passaram pelo crivo da Nagata

Bruno Jorge Pereira, Gerente de Obras da Artemp, foi o responsável por coordenar o Projeto Neojiba. Ele explica que o maior desafio dos profissionais envolvidos com a instalação, foi compatibilizar a experiência anterior, em instalações de ar condicionado, com as diretrizes da consultoria Nagata, já que algumas situações eram novidade.

“Além de estar trabalhando em um prédio tombado, em si já uma dificuldade, não se podia mudar nada para não modificar a velocidade do ar e provocar ruído no sistema. Nós precisamos buscar soluções que mantivessem as seções do duto, evitando as interferências, de acordo com as determinações da consultoria de acústica. Mas não houve dificuldade de relacionamento. As dificuldades estavam nas poucas possibilidades de soluções existentes, pelo fato de estarmos trabalhando em um prédio tombado. As soluções eram sempre bastante restritas”, conta Pereira.

A instalação mesclou água gelada e VRF. “O VRF atende algumas salas mais específicas, como camarins – masculino e feminino -, salas técnicas e de instrumentos. A água gelada atende as seis salas de aulas, o foyer, o palco e a plateia. A maioria dos dutos utilizados foi do tipo Climaver, específicos para atenuação acústica. Todos os dutos, quando encontram paredes de concreto, receberam uma camada de chumbo para criar bloqueio. Todos os equipamentos utilizados na obra foram levados à aprovação da Nagata para verificar as referências máximas de decibéis, e as curvas só podiam ser de 90 graus e com uma particularidade: a seção aumenta 50% toda vez que há um joelho de 90 graus, uma exigência da Nagata”, conclui o Gerente de Obras da Artemp.

Ronaldo Almeida

ronaldo@nteditorial.com.br

FICHA TÉCNICA:

Nome da obra: Neojiba – Parque do Queimado

Arquiteto: Sérgio Ekermann

Projetista: MSA Projetos e Consultoria

Instalador: ARTEMP Engenharia Térmica

Integrador da automação: Multipla

Chillers: 03 Chillers Carrier, condensação a ar, modelo Aquasmart, capacidade unitária 15 TR

Unidades de tratamento de ar: Carrier

Dutos: Circular e Climaver Acustic

Isolamento dos dutos: Feltro Isoflex nos dutos circulares

Isolamento da tubulação de água: Armaflex

 

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