Antes de falarmos sobre o tratamento de águas precisamos entender sua função no Planeta, assim como reconhecer que a água, apesar de abundante em países como o Brasil, tem como tendência ficar cada vez mais escassa. Para se ter uma ideia, de todo o montante de água doce (rios, lagos, fontes subterrâneas etc.) existente no planeta, em torno 0,77% do total pode ser aproveitado, salientando que a quantidade de água doce disponível não está distribuída de maneira uniforme ao redor do globo. Dito isto, podemos começar a compreender a importância do programa de tratamento de águas para sistemas de AVAC-R.

O que venho observando como consultor e especialista, é que, no Brasil, programas de tratamentos de águas vêm sendo utilizados de maneira genérica, ou seja, um programa pré-definido que já funciona em algum local sendo aplicado em outro. O mercado de tratamento de águas precisa caminhar para programas de tratamento customizados, ou seja, elaborados em função da qualidade da água, estado atual dos equipamentos e obedecendo tendências ambientais, haja vista estarmos em um país com dimensões continentais; assim sendo, o que funcionou ou funciona em um sistema não necessariamente performará em outro.

Por muito tempo o Brasil manteve a cultura de que programas de tratamento de águas para AVAC-R não possuíam uma recomendação específica; com o passar do tempo começamos a trazer ao mercado brasileiro a relação dos programas de tratamento de águas (PTA) e a qualidade de ar interno. Na verdade sistemas de condensação a água necessitam de torres de arrefecimento atuando dentro de especificações estabelecidas em projeto, somente dessa forma os equipamentos como um todo podem desempenhar suas funções. Acontece que as torres de arrefecimento são o contato do sistema de condensação com o ambiente externo e, dessa forma, a elaboração de programas de tratamento passam a ser condição fundamental para o desempenho do sistema de ar-condicionado.  A Portaria nº 3.523/GM, de 28/08/98, Anexo 1- PMOC- Cap 5- alínea “g”, menciona torres de resfriamento e estipula como um dos objetivos do PMOC “Verificar e eliminar sujeira, danos e corrosão’’, o que justifica a relação de programas de tratamento de águas ao PMOC, pois o controle de processos corrosivos, assim como o microbiológico, somente se dará por intermédio de tecnologias utilizadas nos PTAs.

Por ser a água uma substância extremamente importante para a manutenção da vida no planeta, ela faz parte do corpo de todos os organismos vivos, transporta substâncias, garante a realização de diversas reações químicas, além de ser considerada um solvente universal em virtude de sua capacidade de dissolver outros compostos químicos. A água nunca é pura, pois nela estão dissolvidos gases, sólidos e íons. A especificação de um programa de tratamento de águas (PTA) em um sistema de condensação perpassa pelo conhecimento do processo como um todo, desde a qualidade da água de make-up (reposição), características ambientais e de composição do sistema, como exemplo características das torres, tipos de tubulações, metalografia envolvida no processo dentre outros.

Na verdade, produtos químicos são parte integrante de um programa de tratamento de águas. Outros componentes são da mesma forma importantes para o PTA, como o data survey do sistema, conhecimento do make-up, equipamentos de dosagem e formas de monitoramento das características das águas. Acima de tudo, o usuário deve buscar através de um especialista a confecção de um escopo técnico para tratamento de águas específico para o seu sistema.

A resolução 09 Anvisa, de 2003 é bastante clara em seu capitulo V, ao mencionar as fontes poluentes  de ordem biológicas e, nesse caso, menciona na tabela as principais fontes de poluentes biológicos em ambientes interiores e destaca, além de outros, água estagnada nas bandejas de condensado, desumidificadores, umidificadores e, também, as serpentinas de condicionadores de ar. Na mesma tabela menciona que as bandejas necessitam estar limpas através de procedimento de limpeza física, ou manter tratamento para eliminar possíveis fontes poluentes.

A Abrava publicou, em 2019, a Renabrava 08, que trata do  uso de produtos químicos em sistemas de AVAC-R. Nela é possível encontrar recomendações para o uso de tecnologias para a conservação e limpeza de serpentinas e bandejas de condensado. Cabe ressaltar que os produtos de limpeza de serpentina são um subconjunto de uma ampla categoria que inclui todos os agentes de limpeza de superfícies rígidas. Outras tecnologias também são utilizadas para conservação das serpentinas. As principais oferecidas pelo mercado são a luz UV, a fotocatálise e o ozônio.

Cabe ressaltar que a ANVISA é o órgão responsável pela regularização de produtos de limpeza. Destacando que se os fabricantes e comerciantes afirmarem que os seus produtos removem proliferação microbiana, estes deverão, obrigatoriamente, ser registrados como produtos saneantes. Assim, é importante que os prestadores de serviços e comerciantes de produtos para limpeza de serpentinas fiquem atentos a esse requisito (Renabrava 08).

De resto, o tratamento da água de resfriamento pode ser feito com o emprego de diversas técnicas e métodos, sejam eles químicos, físicos ou uma combinação de ambos. A escolha do melhor método deve se basear na sua eficiência, nos efeitos ambientais e na respectiva legislação de controle. Um tratamento químico de água tem o objetivo de manter o funcionamento seguro e contínuo do sistema, tubulações e equipamentos durante o período de funcionamento, bem como, o aumento da sua vida útil. Tais problemas podem ser controlados mediante um programa de tratamento (PTA) adequado, o qual depende das características técnicas do sistema, estudo dos contaminantes externos envolvidos no meio, a qualidade da água de reposição e a classificação ideal para a água de circulação.

O programa de tratamento de águas precisa ser projetado por profissional independente, que elaborará um escopo técnico, ou seja, o projeto para programa de tratamento customizado. É imperativo que o programa de tratamento químico customizado seja elaborado por um especialista, devidamente registrado no conselho da categoria

A Portaria 3523/98 menciona em seu artigo 1°: “Aprovar regulamento técnico contendo medidas básicas referentes aos procedimentos de verificação visual do estado de limpeza, remoção de sujidades por métodos físicos e manutenção do estado de integridade e eficiência de todos os componentes dos sistemas de climatização para garantir a Qualidade do Ar de Interiores e prevenção de riscos à saúde dos ocupantes de ambientes climatizados.” O mesmo artigo menciona que o estado de integridade de todos os componentes precisa ser checado; sendo assim, é nítido que as torres de arrefecimento, assim como o sistema de condensação como um todo, não podem ficar de fora do PMOC.

Os responsáveis pelo PMOC necessitam ficar atentos a problemas mais comuns que ocorrem nos sistemas de condensação, que em sua maioria são corrosão, incrustações e desenvolvimento microbiológico, e sempre acompanhar de perto o tratador de águas, checando o controle dos mesmos mediante um programa de tratamento adequado, assim como os indicadores de performance dos equipamentos em conformidade com a recomendação dos fabricantes.

Charles Domingues, Químico, Graduado em Gestão Ambiental, especialista em águas para AVAC-R, é membro e palestrante do Qualindoor da Abrava, fundador e presidente do Departamento Nacional de Tratamento de Águas (DNTA) da Abrava e consultor na C Domingues Consultoria.

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