A discussão QAI versus eficiência energética antecede a pandemia. Já discutíamos este tema quando da normatização de áreas hospitalares. Um exemplo era se as salas de cirurgia e as salas de isolamento deviam ter 100% de ar exterior tratado ou não.
Desde a legislação RE Nº 09 de 16 de janeiro de 2003 da ANVISA, que determinou o parâmetro 27 m³/h de ar exterior por pessoa, e limite de 1000 ppm de CO2 como indicador de renovação de ar externo, assim como as 80 μg/m3 de aerodispersóides totais no ar, como indicador de grau de pureza do ar e limpeza do ambiente, recomendado para conforto e bem-estar nos ambientes climatizados, a discussão é cotidiana em nosso meio.
A pandemia, em minha opinião, veio como catalizador deste tema. Encontrar um equilíbrio entre a eficiência energética e a qualidade do ar interior é nossa tarefa imediata. Esta será a chave para o sucesso de uma discussão que começou nos anos 70 do século passado como publicado pela primeira vez em 1973 enquanto norma ASHRAE 62.
O desafio é que as taxas de ventilação necessárias para proteger contra a transmissão de infecções não podem ser derivadas da mesma forma que para outros poluentes. No caso de controle de infecção, as taxas de ventilação devem ser baseadas no risco e não absolutas. Nós devemos desenvolver uma análise e avaliação do risco de infecção.
A ASHRAE e CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) e OMS (Organização Mundial de Saúde), entre outros, reconheceram que o coronavírus “é transmitido através do ar, por gotículas ou por aerossóis.” Os protocolos criados a partir desta constatação recomenda que os sistemas devem ser submetidos a novos testes, ajuste e balanceamento (TAB) e, o ajuste, conforme as quantidades mínimas necessárias de ar externo da Norma, com a instalação de filtros são F7 conforme ABNT NBR 16.101 (MERV 13) ou melhores para o ar recirculado.
Os futuros sistemas de ventilação devem seguir princípios bem conhecidos: ser controlados por demanda, flexíveis e dependentes da finalidade e da atividade que está ocorrendo (densidade de ocupantes, atividade física, uso da voz etc.).
Mais importante: eles devem fornecer ar limpo para a zona de respiração e remover o ar poluído imediatamente antes de ser completamente misturado em um volume de espaço. Algumas soluções seguindo estes princípios foram desenvolvidas, mas raramente são aplicadas nas aplicações práticas.
O número de ocupantes deve orientar a especificação do sistema de tratamento do ar para fugir tanto ao subdimensionamento quanto ao superdimensionamento. Entretanto, este dado sempre foi um problema em projetos de AVAC para grandes locais onde o índicie de contaminação é maior. Qual número de ocupantes numa loja de departamentos, num corredor de shopping center, numa casa de espetáculos?
Anderson Rodrigues, consultor e projetista, é diretor da Artécnica
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