Independente de crise ou de oportunidades, a eficiência energética nos sistemas de AVAC é um dos requisitos mais relevantes na execução de um projeto, mas talvez seja o que é menos levado a sério. Em outras palavras, é um dos requisitos mais importantes para o cliente, mas, de um modo geral, o próprio cliente não tem muita ideia do que sejam os índices mínimos de eficiência a serem requeridos para o seu sistema. Falta-lhe referências reais, o que torna a eficiência energética um requisito praticamente subjetivo. Muitas vezes, se torna um item de marketing para promoção do projeto. E, independentemente do nível de eficiência estabelecido para um determinado projeto, é comum que esse valor seja esquecido ou abandonado na hora da verificação dos custos de investimento.
Também é comum tratar apenas dos custos para o investimento inicial, sem uma preocupação da análise do custo total do sistema ao longo da sua vida útil. E dessa frase, talvez a palavra mais importante não seja custo, ou vida útil, mas, sistema. Tratando-se de sistemas de maior porte, os sistemas centrais, muitas vezes a análise da vida útil se baseia nos principais equipamentos, como os chillers ou as unidades condensadoras de sistemas de expansão direta (tipo VRF, Splitão, Rooftop). No entanto, há uma grande diferença entre um sistema ineficiente com chillers ou unidades condensadoras do tipo VRF (tomando dois exemplos) de alta eficiência e um sistema verdadeiramente eficiente. De um modo geral, as vantagens de um equipamento principal eficiente serão efetivamente verificadas apenas se o projeto do sistema contar com os demais equipamentos e o próprio sistema de controle eficiente. Além disso, é necessário que se realize uma análise considerando o perfil de carga térmica anual. E com um perfil de carga térmica real, sem considerar as margens de segurança e excessos imprevistos utilizados para o dimensionamento dos equipamentos, o que muitas vezes inviabiliza os resultados da análise. Ou seja, uma coisa é o dimensionamento dos equipamentos e a outra é a análise do consumo energético ao longo do ano, com um perfil de carga térmica mais próximo do real. Isso ainda é uma deficiência na análise de dados de simulação energética, por exemplo, em que falta a participação mais efetiva do consultor projetista do sistema de AVAC na análise.
Esses e outros detalhes exigem que o projeto seja concebido de maneira eficiente e que seja mais elaborado. Atualmente, há várias opções de melhorias nos sistemas que resultam em ganhos de eficiência energética realmente significativos, e muito se trata em publicações nacionais e internacionais, mas efetivamente pouco se aplica no mercado. Ou podemos dizer que, apesar de tanto marketing sobre a eficiência energética nos empreendimentos, são poucos os projetos onde a eficiência energética é um requisito real para a concepção e execução do sistema.
Pior, ainda, quando se trata da medição e verificação (M&V) do sistema implementado, quando até a instrumentação de campo não permite uma verificação efetiva da eficiência. Deve-se observar que eficiência energética de um sistema de AVAC não se mede pela conta de energia do empreendimento, mas sim pela relação entre o perfil de carga térmica real atual e o consumo de energia atual do sistema. Trata-se de um COP em tempo real.
Assim, tratando de novas concepções de sistemas de AVAC, fala-se de muitas opções, algumas delas de fácil aplicação e com impactos menores no custo total do investimento do sistema, mas que requerem um projeto mais elaborado e uma análise mais criteriosa de todo o sistema. A seguir, algumas das soluções mais conhecidas:
- Tanque de termoacumulação de água gelada;
- Chillers em série (associados aos sistemas de termoacumulação de água gelada);
- Circuito único de água gelada, com vazão variável;
- Sistemas com Free Cooling;
- Ciclo economizador (no circuito de ar);
- Recuperadores de energia;
- Resfriamento dedicado do ar exterior (visando o desacoplamento das cargas latentes e sensíveis).
É fato que nem todos os projetos podem contar com todas essas soluções, por várias razões, sejam elas de tipologia, de tipo de ocupação, capacidade máxima e até a região do país. Mas isso não significa que a aplicabilidade delas é restrita.
Leonilton Tomaz Cleto, engenheiro mecânico e consultor em eficiência energética na Yawatz Engenharia
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