O Diretor Regional do Senai SP fala sobre a ampliação e revitalização da Escola Senai Oscar Rodrigues Alves e ressalta o papel das lideranças empresariais do AVAC-R na percepção do papel transformador da educação
Ricardo Terra, Diretor Regional do Senai SP, talvez seja a pessoa mais indicada para discorrer sobre a instituição. Não apenas pelos 40 anos de serviços prestados, mas também pelo entusiasmo com a orientação pedagógica e as políticas direcionadas à formação de mão de obra especializada para a indústria.
“O Senai é indústria. Ele tem nas suas altas instâncias os industriais, segmentado pelos sindicatos patronais e, também, dos trabalhadores. A indústria já está presente na alta administração da empresa. O Senai é uma obra coletiva, tem um corpo técnico com a capacidade de organizar as demandas das indústrias na perspectiva da educação, da tecnologia, da inovação, do empreendedorismo de base tecnológica e em estratégias que nascem da contribuição das indústrias na definição dos vetores que são importantes. A indústria participa também do Senai na construção das propostas; o corpo técnico do Senai transforma essas visões, esses sentimentos, em estratégias que educacionais, de base tecnológica ou de empreendedorismo. Por isso que eu afirmo que o Senai e a Indústria são a mesma coisa. Nós somos a Escola e o Instituto de Ciência e Tecnologia da Indústria”, define ele.
No nascimento, relata ele, o Senai tinha formações transversais e a principal forma de energia nas empresas era a elétrica e sua transformação em mecânica. “No início da nossa história temos um foco muito grande em metalmecânica e eletroeletrônica. Esse foi o início do Senai e pegou transversalmente as empresas. Com o passar dos anos foi percebida a necessidade de termos dedicação a setores, o que foi feito primeiro como forma de customizar, de ter essa percepção mais setorial e, a partir daí, ter ações com maior impacto em determinados setores”, continua.
Um desses setores é o da refrigeração e ar-condicionado. “Um exemplo dessa história que acontece de forma muito bonita e liderada pelo setor, isso é, pelo Pedro (Evangelinos) e de um corpo diretivo lá atrás que trabalhou fortemente nesse pleito. Aí nasce a Escola especificamente dedicada à refrigeração. Ela não é a única, mas é a referência para o estado de São Paulo e, em muitos casos, para o Brasil. Nós temos uma estrutura federativa e aqui em São Paulo é a nossa escola de referência que se desdobra num conjunto de escolas, sendo a liderança técnica dessa unidade”, pontua Terra.
O Diretor Regional do Senai São Paulo explica os motivos técnicos que fornecem base à ampliação e revitalização da Escola. “Primeiro, do ponto de vista quantitativo, pelo crescimento da demanda para o setor. Nós viemos percebendo a aplicação das tecnologias desenvolvidas naquela escola, permeando mais a sociedade, tanto nos ambientes residenciais, quanto comerciais. Tecnologias que se tornaram mais acessíveis à população. O primeiro aspecto que nos impõe a necessidade de ampliar é por conta da demanda do mercado que vem demonstrando isso de forma clara. Outro ponto importante é a presença de novos players no mercado. Tínhamos um conjunto mais reduzido de empresas e, nas últimas décadas, percebemos a chegada de diferentes empresas nacionais e internacionais aportando no país, com diferentes soluções tecnológicas, instrumentos e equipamentos, que incrementa a diversificação de produtos.”
A necessidade da ampliação e revitalização da Oscar Rodrigues Alves
Terra explica, ainda, que a educação profissional se apoia em diferentes competências. As primeiras, são as teorias da física e da química, por exemplo, incontestáveis. Outra coisa é a tecnologia aplicada. “Quando você vai fazer a educação profissional olha para a teoria, que são princípios físicos ou químicos que não mudam, e para a tecnologia aplicada, que muda constantemente. E os ciclos das tecnologias estão cada vez mais curtos, pressionados por eficiência energética, que o setor trabalha muito, pela questão ambiental, que o setor também trabalha muito. Então, na tecnologia aplicada você tem ciclos curtos que demandam também velocidade e agilidade da organização.”
“O primeiro grande eixo são as competências socioemocionais, que estão vinculadas à resiliência, à capacidade de resolver problemas. O fato é que essa diversidade de produtos, de tecnologias aplicadas, cada vez com o ciclo mais curto, e a presença de mais players no mercado, nos levaram à questão de discutir (a ampliação), a partir de uma provocação do próprio setor que nós acatamos de pronto. Foi um bom encontro entre o Pedro (Evangelinos) e o nosso Presidente Josué (Gomes da Silva), do qual eu participei enquanto apoio técnico, que dali saiu uma decisão de que nós efetivamente precisávamos, por todas as razões já enunciadas, ampliar nossa estrutura física. Isso são questões estratégicas para que a gente continue tendo um papel relevante junto ao setor”, explica ele.
A ampliação trará a oportunidade de reorganizar a escola. Importante ressaltar que o prédio por ela ocupado é de 1948, um dos primeiros prédios do Senai, e possui bela arquitetura, que a revitalização se preocupará em preservar, fazendo intervenções internas para inserir materiais mais modernos que facilitem a manutenção e a circulação de pessoas. “Nós vamos ter um cuidado com os arquitetos para conseguir uma proposta de equilíbrio entre o passado, muito importante e que nos trouxe até aqui, com um olhar para o futuro, um olhar de modernidade que o setor tem. A ideia inicial era apenas uma ampliação e, depois de discutirmos internamente, percebemos junto com o setor, com o Pedro e outros componentes do sindicato e da associação (Abrava), a necessidade de uma revitalização das outras áreas. Já que vamos fazer uma intervenção na construção civil, vamos ter um olhar na edificação antiga no sentido de dar a ela um ar de modernidade, uma facilidade de operação também para os frequentadores da escola. E o prédio está numa região de grande fluxo de veículos. Então nos representa muito bem nessa concepção de modernidade com um olhar para a preservação do nosso passado”, continua.
O investimento previsto para as obras de revitalização e ampliação é de 10 milhões de reais, com a possibilidade de alteração a partir de um maior detalhamento do projeto. Essa é uma previsão já assegurada do ponto de vista orçamentário e aprovada pelo Conselho do Senai. “Estamos trabalhando o projeto executivo, que é muito importante para nós por ser a ferramenta básica para criarmos um processo de licitação. Nós sempre fazemos uma edificação ou uma reforma em dois momentos: com o projeto executivo detalhado, que vira um termo de referência para a licitação externa. Temos um nível de exigência de qualificação através de portfólio e de estatura e lastro financeiro da empresa para participar da licitação. Isso é alinhado com o valor da obra, o repertório que a empresa apresenta e sua reputação junto ao mercado. A partir daí a gente tem o processo licitatório, que imaginamos para o início do ano que vem e a obra com início para o primeiro semestre do ano que vem, também”, informa ele.
A previsão é que a obra consuma cerca de um ano. Por se tratar de um processo licitatório, sempre pode haver recurso de alguma empresa participante. Mas, em não havendo, o resultado será divulgado no primeiro semestre de 2023, com início da obra também no mesmo período. Assim sendo, perto do final de 2023 ou início de 2024 a obra estará concluída. O novo prédio terá 2 mil metros quadrados.
Ciclo virtuoso
Terra atribui o sucesso da Oscar Rodrigues Alves a um processo virtuoso, em que a formação está vinculada à oportunidade de trabalho. “A escola mantém uma boa relação com o setor, e eu digo para você que ela não está junta com o setor, ela é junta com o setor. Existe o ser e o estar. O estar é mais superficial, e essa escola é um ser junto com o setor. Ela atende o setor do ponto de vista qualitativo, do que é necessário ofertar, com que organização, com quais requisitos e, também, do ponto de vista quantitativo.”
O Diretor Regional do Senai chama a atenção para o aspecto perecível da formação profissional, por conta do ciclo curto da tecnologia. Ele entende que se a pessoa não vai para o mercado tão logo formada, fica desatualizada, uma vez que o próprio mercado a mantém atualizada. Nesse sentido, a intensa relação que a escola estabelece com o setor propicia um melhor aproveitamento dos esforços empreendidos na formação da mão de obra.
“Ela (a escola) oferece o que o setor precisa na quantidade que o setor precisa, criando um ciclo virtuoso em torno da escola. As pessoas fazem o curso e arrumam emprego. Isso se difunde na sociedade e a nossa oferta tem que ser calibrada para atender a demanda da empresa e não da sociedade, porque essa tem problemas, tem informação desencontrada. Quando a gente faz isso, e essa escola é um bom exemplo de relação com o setor, todo mundo que faz o curso acaba conseguindo uma oportunidade de trabalho. A sociedade percebe isso e vai para lá, redundando em 30 candidatos por vaga. Mas essa é uma demanda social. Nossa organização é orientada pela demanda do mercado de trabalho, pelas empresas. Porque educação profissional é muito cara. Além de ser cara ela é perecível, devido a tecnologia aplicada. Se você não calibra a oferta, forma a pessoa e daqui a dois, três anos, quando ela tem uma oportunidade, já é outra tecnologia, é outro gás, outro controlador, é com outro processo. Quando a pessoa entra no mercado, a própria empresa acaba levando à formação continuada, estruturada dentro de uma escola ou informal, com pessoas da própria empresa. Importante destacar isso, pois sei que existe grande procura na escola, mas essa não é o que orienta a nossa oferta. Nossa oferta é orientada pelo mercado. A gente controla aqui Rais, Caged, os indicadores secundários da economia. E por que a escola deve ter uma boa relação com o setor? Porque qualquer função de grau, qualquer incremento exponencial que ocorra pela implantação de uma nova empresa, de uma nova tecnologia, estando no setor eu sei antecipadamente e trabalho de forma a mitigar essa falta de profissionais”, explica ele.
Ricardo Terra conclui com uma declaração de admiração pelo setor de refrigeração e ar-condicionado. “É um setor de referência para nós. Temos hoje 470 mil ativos no Senai dedicados à área de educação e tecnologia de inovação no estado de São Paulo. Nós monitoramos esses ativos, sendo 5% deles de parceiros. Há uma simetria entre as áreas, mas duas são muito assimétricas do ponto de vista positivo: automobilística e refrigeração e ar-condicionado. São duas áreas em que historicamente as lideranças empresariais têm a grandeza e a percepção clara de que é pela educação que nós vamos conseguir transformar a produtividade do trabalhador brasileiro, a melhoria do resultado das empresas e a melhoria da sociedade. Historicamente o setor da refrigeração e ar-condicionado demonstrou isso desde a criação da Escola e é uma das áreas que tem mais parcerias com o Senai. O que demonstra a visão das lideranças empresariais do setor na crença de que a educação é transformadora da melhoria da produtividade e da competitividade das empresas que ali investem e que, no final da linha, o benefício se reverte também para a sociedade. Isso mostra a grandeza das lideranças desse setor, a visão estratégica de nação que possuem em relação à educação articulada com o setor produtivo, não só em relação às parcerias na questão dos equipamentos. Cada vez que a empresa aporta um equipamento, este vem com uma nova tecnologia e isso se multiplica, pois, uma vez no Senai ele passa a ser um elemento irradiador. Eu acredito muito nos empresários, na qualidade da percepção que é estratégica, é elevada. Fala-se muito em ESG, mas o setor RAC pratica a ESG há muito tempo. E a demonstração clara é a parceria que mantém com a nossa escola aqui no Ipiranga.”
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